FAKE NEWS NA ANTIGUIDADE CRISTÃ

A epístola 48 da coleção de cartas de São Jerônimo, revela-nos, dentro de uma análise de discurso, um mundo bem diferente do nosso. Calma! Não tão diferente assim.  Esta foi dirigida  o nobre senador  romano Pammaquio, aquele a quem Santo Agostinho iria se dirigir em elogios também. Trata-se de uma carta contra uma suposta FAKE NEWS, em que pese o anacronismo.
Era o ano 387 d.C. aproximadamente quando Jerônimo ouviu dizer que um monge chamado Joviniano estava propagando ao menos quatro doutrinas que contrariavam os ensinos monásticos. A primeira doutrina anunciava igualdade de méritos, desde que houvesse boas obras, negando a superioridade da virgindade e da casta viuvez, o que, de certa forma negava a abstinência no casamento. A segunda tese doutrinaria ensinava que, uma vez decido às águas batismais, o diabo não tinha mais poder sobre tal pessoa. Se assim fosse, então não haveria necessidade de inumeráveis regras ascéticas de combate aos “desejos carnais”. A terceira, Joviniano pregou que não havia diferença moral nos alimentos, negava o valor do jejum, era melhor comer dando graças a Deus do que fazer abstenções rigorosas. A última ensinava que não a recompensa no céu seria igual a todos, desde que guardassem a fé e a pureza do batismo (PENNA, 1952, p.195).
Jerônimo sabendo do que estava circulando por Roma, mesmo estando em Belém, envia seu Contra Jovinianum a fim de refutar essas ideias. Em seu apologético contra Joviniano, deixou claro para muitos que o matrimônio era um mal tolerável. “Algunas expresiones de Jerónimo respiran casi um encratismo inhumano” (PENNA, 1952, p.202). Embora Joviniano tenha sido condenado em concílios tanto pelo bispo romano Sirício (384-399) em 393 como por Ambrósio em Milão logo depois (pois Joviniano foi exilar-se ali) o Contra Jovinianum tomou um rumo inesperado. Tentando fazer o bem provocou o mal. Os nobres abriram um processo contra Jerônimo acusando-o de maniqueísta. Jerôniomo, penso que em desespero teria dito: é FAKE!!! Eu não disse isso!!!
Seu amigo e admirador Pammaquio também estava em dúvidas: é verdade que o casamento é inferior à castidade? Os casados não são dignos do céu? Como assim? O monge belemita então roga na carta 48 que seu amigo leia seu livro e atente que para o fato de que ele foi mais benigno que o Apostolo Paulo para com os casados. Lista uma série de autores como Orígenes, Dionísio, Pierio, Eusebio de Cesareia, Dídimo, todos grandes interpretes que ele havia lido para construir seu argumento. Ainda diz: “Traduzi do hebraico ao latim os dezesseis livros dos profetas; se lê-los e sei que gosta desta obra, me provocarás a não guardar no armário as demais […]. Leia em grego ou em latim, e compare a antiga edição com a nossa versão e verás mais claro que a luz a distância que vai da verdade à mentira” 
Duro para o santo monge, mas não teve jeito, circulava a “boca pequena” nos corredores das grandes catedrais das mais famosas urbes que ele escorregou na heresia. Duro para alguém que havia lutado tanto tempo pelo zelo e construção de uma imagem ter que assistir uma notícia desta levar parte de seu curriculum embora. Como dizia Horácio “Est modus in rebus”, o equilíbrio talvez foi deixado de lado pelo em função do calor do momento. Em tempos de grandes dilemas políticos (no caso acima não deixa de ser) muitos podem extrapolar os limites do aceitável. Nem tudo é FAKE NEWS, mas nem tudo é verdade!


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