Reflexão do Dia - Evangelho Segundo João 14:15-21

Paz, graça e bem,

A reflexão de hoje é sobre o relato da da última ceia de Jesus com seus discípulos em Jerusalém e como já analisamos parte deste texto anteriormente aqui faremos apenas algumas menções a elementos essenciais do texto. João é o único evangelista que fez esse relato final dos ensinamentos de Jesus, respondendo às necessidades concretas das suas comunidades, ameaçadas pelas perseguições romanas e por problemas internos, quando o Evangelho foi escrito, na última década do primeiro século. 

 “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (verso 15) ⇒⇒ fé e amor são duas características indispensáveis na comunidade cristã. Essa é a primeira vez que Jesus pede amor para si. Quem ama Jesus guarda os seus mandamentos, o que aqui significa a plenitude de sua mensagem, uma vez que ele deixou um único mandamento, o mandamento do amor. Desta feita, o mandamento no plural significa a totalidade da mensagem de Jesus
Quem ama a Jesus observa e vive os seus ensinamentos. Ele não fala de obediência, mas de guardar, o que significa preservar algo em sua essência.

Por isso, lhes faz uma promessa: “E eu rogarei ao Pai e ele vos dará um outro defensor, para que permaneça sempre convosco” (verso 16) ⇒⇒  Os discípulos temiam exatamente que a partida de Jesus os deixasse sós e desamparados, Jesus responde prometendo o outro defensor. Assim, ele antecipa que, através do Espírito Santo, estará para sempre presente na vida dos seus seguidores de todos os tempos, com uma presença até mais efetiva do que aquela terrena, uma vez que não estará mais condicionado aos limites do espaço e do tempo.

O Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque ele permanece junto de vós e estará dentro de vós” (verso 17) ⇒⇒ João faz a contraposição entre a comunidade cristã e o mundo. Mundo não é a criação ou o cosmos, mas sim toda a oposição ao Evangelho, é a negação do amor de Deus comunicado por Jesus, o que geralmente é o sistema opressor (sistema religioso, político e econômico), sistemas que se alimentam da mentira, do ódio, da violência e de tudo o que é contrário ao Evangelho. Os cristãos só resistem a isso se conhecerem o Espírito da verdade, que emana de Cristo.

 “Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós” (verso 18) ⇒⇒  Jesus promete que não os abandonará, pelo contrário, virá a eles. 

“Pouco tempo ainda, e o mundo não mais me verá, mas vós me vereis por que eu vivo e vós vivereis” (verso 19) ⇒⇒  Ao contrário do mundo, para quem a morte de Jesus será uma partida permanente, porque não se abriu para conhecer o seu amor, os discípulos não deixarão de vê-lo, pois, ressuscitado, estará para sempre vivo entre eles. A relação com Jesus é fonte de vida. 

“Naquele dia sabereis que eu estou no meu Pai e vós em mim e eu em vós” (verso 20) ⇒⇒ Logo, a presença de Jesus no Pai e do Pai em Jesus se realiza também na vida dos discípulos, eliminando, assim, toda distância entre o humano e o divino. A comunidade cristã aberta ao Espírito da Verdade é, portanto, morada de Jesus e do Pai.

“Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” (verso 21) ⇒⇒  nas epístolas do evangelista João o termo mandamento não faz uma alusão à antiga Lei dos judeus. Com isso, João reforça que Jesus é o único parâmetro a ser seguido. Nesse versículo, o evangelista abre uma nova perspectiva, pois enquanto nos versículos anteriores o discurso foi todo construído em segunda pessoa, com Jesus falando diretamente aos discípulos reunidos com ele, agora ele fala em terceira pessoa. Isto é, ele passa então a dirigir-se a todas as pessoas, de qualquer lugar e de qualquer época.

Certos da presença de Cristo o aceitamos como única regra de vida, e somos animados a acolher o Espírito Santo para estreitar cada vez mais os laços com Ele, com o Pai e com o nosso próximo  o primeiro destinatário do seu amor. Dessa presença emana a força necessária para resistir aos obstáculos e as convicções para perseverar na verdade da mensagem do Evangelho, como único parâmetro para a vida cristã.

Paz, graça e bem,
Renato Barbosa

O MURO DIVISOR DO PÁTIO DOS GENTIOS NO TEMPLO DE HERODES

“Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade,” Efésios 2:14

Os gentios estavam autorizados a entrar na parte externa da área delimitada do templo em Jerusalém. Essa grande área pavimentada em volta do templo e seus átrios internos eram delimitados por uma colunata dupla de pilares de 10 metros de altura. O perímetro dessa área media 900 metros. Esse pátio externo também era chamado de pátio dos gentios.
Mas os gentios eram fisicamente proibidos de acessar os pátios internos do templo por uma barreira de 1,4 metro de altura (o “muro de inimizade”, de Efésios 2:14). O historiador judeu Flavio Josefo informa que 13 placas de pedra com inscrições em grego e em latim foram colocadas ao longo da barreira, advertindo os gentios a que não entrassem.
Nas palavras de Josefo: “Havia uma divisão feita de pedra (…). Sua construção era muito elegante; sobre ela, ficavam pilares, em distâncias iguais entre um e outro, anunciando a lei de pureza, em grego e em outras letras romanas, dizendo que ‘nenhum estrangeiro deveria entrar no santuário’” (Guerras, 5.5.2).
Os arqueólogos descobriram duas dessas placas de aviso, que dizem: “Nenhum estrangeiro tem permissão de entrar na balaustrada em torno do santuário e do pátio. Quem for pego, será responsável por sua decorrente morte”.
Esse muro divisor teve grande significado para Paulo, que foi preso em Jerusalém por supostamente levar um gentio para o pátio interno do templo (Atos 21:16-30). Paulo e outros cristãos judeus reconheciam que o Deus que havia anteriormente residido no templo havia entrado na humanidade na pessoa de Jesus, o Messias. A morte de Jesus na cruz e sua ressurreição haviam, na verdade, rompido o muro divisor, efetuando unidade espiritual entre judeus e gentios. Como resultado, Paulo sabia, todas as pessoas tinham acesso garantido a Deus por meio da fé salvadora em Jesus Cristo.


Fonte: Bíblia de Estudo Arqueológica, pág. 1917.