Memórias de um Brasil antigo - A Igreja de São Francisco de Assis

 

A Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto – MG, foi iniciada em 1776 pela irmandade da Ordem Terceira dos Franciscanos e é considerada a obra-prima de Antônio Francisco de Lisboa, o Aleijadinho.

Por sua beleza incomparável, ganhou fama como uma das mais importantes criações da arquitetura barroca religiosa do Brasil

O QUE SERIA A ESTRELA DE BELÉM?

 


Desde os primórdios do cristianismo muito se tem falado sobre a “estrela” que guiou os magos do oriente até Jerusalém. Calcula-se que deveria ter sido um fenômeno celeste extraordinário. Mas o que seria? As hipóteses são muitas: uns diziam que foi um cometa? Outros que foi uma estrela "super-nova", ou seja, uma estrela que explodira e atingira uma luminosidade fora do comum, outros diziam que foi uma conjunção de planetas.
Gregos, romanos, babilônicos, egípcios e chineses, possuíam desde os tempos remotos o registro de todos os acontecimentos celestes importantes que ocorreram em suas histórias. No ano 44 a.C., logo após a morte de Júlio Cesar (13 de julho de 100 a.C. – 15 de março de 44 a.C.), há o registro de um cometa muito brilhante; no ano 17 a.C. outro; em 68 d.C. pouco depois da morte de Nero (15 de dezembro de 37 d.C. — Roma, 9 de junho de 68), mais um. No ano 12 a.C. o cometa Halley foi detectado na China, mas não há nenhuma referência nos relatos dos povos do Mediterrâneo. Assim mesmo o cometa Halley foi descartado como a suposta “Estrela de Belém” por ter acontecido algum tempo antes (6 ou 5 a.C.) da época provável do nascimento de Jesus.
Estrelas “novas” ou estrelas que explodem não são raras. Talvez a cada 20 anos é detectada uma. Mas geralmente não são vistas visualmente. Já estrelas “super-novas” com brilhos fora do comum que chamem a atenção e são vistas a olho nu, são raras. Há registros de “super-novas” nos anos 1054, 1572 e 1604.
Estrelas "novas", na antiguidade, foram observadas em 134 a.C. e 173 d.C., não havendo nenhum relato sobre fatos semelhantes entre esse período, a não ser eclipses do Sol ou da Lua que eram cíclicos mais abundantemente registrados. Então o surgimento de uma “super-nova”, para marcar o nascimento de Jesus, também foi descartado.
No dia 17 de dezembro de 1603, o matemático, astrônomo e astrólogo imperial alemão, Johannes Kepler (1571-1630), estava observando a aproximação de Júpiter e Saturno na constelação de Peixes quando se lembrou que lera uma nota de um rabino judeu afirmando que o Messias tão esperado por aquele povo nasceria na aproximação entre Júpiter e Saturno na constelação de Peixes. Teria ocorrido fato idêntico no nascimento de Jesus? Kepler calculou e recalculou retroativamente tal hipótese e concluiu que conjunção semelhante havia ocorrido por volta do ano 7 ou 6 a.C. Mas como a astrologia estava ligada ao mundo da adivinhação e do misticismo, seus estudos não foram levados em conta e caíram no esquecimento.
Hoje em dia é possível, através de modernos computadores, em questão de minutos, obter a posição de qualquer astro do céu em qualquer tempo passado ou futuro. Esses cálculos indicam que em 29 de maio do ano 7 a.C. houve a primeira aproximação dos dois planetas, Júpiter e Saturno, a 21 graus, em Peixes. A segunda ocorreu em 3 de outubro a 18 graus e a 4 de dezembro houve a terceira e última aproximação dos planetas a 16 graus de Peixe.
Mas o que teria haver essa conjunção de Júpiter e Saturno com o nascimento de Jesus? Aí vamos ao campo da astrologia. Para os caldeus e persas a constelação de Peixes era o signo do Ocidente, para os lados do Mediterrâneo. Para os judeus era o signo de Israel e do surgimento do “Messias”. Aquele ser humano que viria com um exército de anjos dos céus e expulsaria os romanos da Judeia, dando início a uma nova era de paz e prosperidade para o povo judeu.
Júpiter era considerado por todos os povos como o símbolo da realeza e o mais importante dos deuses. É sempre o astro mais brilhante visto nos céus durante a noite, com exceção de Vênus que só é vista ao anoitecer ou amanhecer. Para os judeus, Saturno era o protetor de Israel. Como os judeus tinham vivido na Babilônia durante seu cativeiro entre 597 a 538 a.C, houve troca de informações astrológicas e religiosas entre seus sacerdotes. Os magos, que eram sacerdotes caldeus, tinham conhecimento dos escritos dos profetas judeus. Sabiam que aquela conjunção entre Júpiter e Saturno seria o início de uma nova era, com o nascimento de alguém muito importante no ocidente.
Seria essa conjunção entre Júpiter e Saturno em Peixes, a "estrela" seguida pelos magos e citada nos evangelhos? Embora nada possa provar essa afirmação, não há nenhuma outra evidência que aponte qualquer outra hipótese, nem um "milagre". Se tivesse ocorrido algo espetacular nos céus que chamasse muito a atenção, certamente estaria anotado nos registros astronômicos de todos os povos da antiguidade. Entretanto não há absolutamente nenhum registro de alguma coisa fora do comum que tenha ocorrido, ao menos na época estimada para o nascimento de Jesus, cerca de 6 a 5 a.C.
Júpiter tem uma órbita que leva 4.132 dias ou 11 anos 10 meses e 26 dias terrestres, para dar a volta ao Sol. Saturno leva 29 anos, 167 dias e 6,7 horas terrestres, para dar a volta ao redor do Sol. Então é raro que ambos os planetas se aproximem visualmente um do outro. Isso acontece a cada 20 anos. Mas, aproximação onde ficam quase juntos, só acontece muito raramente ou em um período de cada 300 ou 400 anos. É claro que essa aproximação é apenas aparente e visual. Eles não irão colidir entre si, pois Júpiter está situado a 778 547 200 quilômetros do Sol, enquanto a distância de Saturno do Sol é de 1.430.550.000 quilômetros. Então mesmo quando Júpiter e Saturno fique visualmente muito próximo um do outro a distância entre ambos será de 652.000.000 quilômetros.
Se essa conjunção aconteceu no ano 7 a.C. não há registros históricos, mas há registros que se repetiu no ano 1326 de nossa era e novamente no ano 1623. Curiosamente Júpiter e Saturno se aproximaram um do outro exatamente no dia 21 de dezembro de 2020, mas não na constelação de Peixes, ficando, visualmente muito próximos sem que despertasse grande atenção. O mesmo pode ter ocorrido no ano 7 a.C., e que chamou a atenção de magos da Pérsia, a ponto de ter marcado o registro do início de uma nova era.

FONTES:
BÍBLIA DE JERUSALÉM - Paulinas - 2ª edição – São Paulo-SP, 1985.
KELLER, Werner – E a Bíblia Tinha Razão... - Melhoramentos – São Paulo-SP, 1960.
PROENÇA, Eduardo de; Org. de – Apócrifos e Pseudo-epígrafos da Bíblia – Fonte Editorial – São Paulo-SP, 2005.
RAMOS, Lincoln, org. - A História do Nascimento de Maria - Vozes 3ª edição – Petrópolis-RJ, 1991.
RAMOS, Lincoln, org. - São José e o Menino Jesus - Vozes 2ª edição - Petrópolis-RJ, 1991.