A festa de nascimento

No banquete do Rei, não há falta

“Vá rapidamente para as ruas e os becos da cidade e traga os pobres, os aleijados, os cegos e os mancos” (Lc 14:21).

O aniversariante mais celebrado em dezembro é Jesus. Menino de origem simples, sua missão na Terra foi estabelecer o Reino dos Deus. E qual a visão desse reinado? Para explicar, Cristo escolheu as parábolas, que significam comparação. É uma linguagem popular, rica em metáforas e imagens, própria dos poetas. Suas narrativas baseavam-se na vida cotidiana do povo da Galileia, Samaria e Judeia do primeiro século. Por isso, utilizou elementos como peixe, azeite, semente, festa de casamento, trabalho agrícola, etc.

A parábola pode ser interpretada de várias maneiras. Frei Betto nos ensina que esses textos são uma forma inteligente de abordar situações controvertidas, de forma a levar o interlocutor a tirar suas próprias conclusões. Daí sua riqueza pedagógica. A expressão “Reino de Deus” aparece mais de 100 vezes na Bíblia, frequentemente utilizada nas parábolas. Uma das comparações que Jesus utilizou para explicá-lo foi a “Festa de Casamento”.

Nessa história, o rei organizou um banquete para casar o filho. Em seguida mandou seus servos chamarem os convidados, mas eles não quiseram vir. Então, enviou outros servos com o seguinte recado: “digam aos convidados que está tudo preparado para a festa. Já matei os novilhos e bois gordos, e tudo está pronto. Que venham à festa!” (Mateus 22:4) . Mas os convidados não se importaram com o convite. Cada um tinha uma desculpa para não ir ao casamento. Um foi cuidar da cuidar de fazenda; outro, do comércio. Alguns agarraram os servos enviados pelo rei, bateram neles e os mataram. O rei ficou com raiva, mandou matar os assassinos e queimar a cidade deles. Depois chamou os seus servos e disse: “a festa de casamento está pronta, mas os convidados não a mereciam. Agora saiam pelas ruas e convidem a todos que encontrarem” (Mateus 22:08). No Evangelho de Lucas (14:21), conta-se que foram chamados “os pobres, aleijados, mancos e cegos”.

Ao chegar no salão para recepcionar seus convidados, o rei notou que um homem não estava com as roupas adequadas para a festa. Ora, se só haviam pessoas pobres, como esperar que alguém estivesse vestido adequadamente? Mas aí reside um ensinamento. No meio dessa multidão que não ostentava os figurinos da moda, havia alguém trajado com roupas caras e finas. Ou seja, nessa analogia não estava comprometido com os valores do reino, como a solidariedade. Esse cidadão foi retirado do banquete. A parábola encerra com a seguinte afirmação de Jesus: “muitos são chamados e poucos são escolhidos”.

O projeto de Deus se desloca para o mundo dos pobres, marginalizados e excluídos. Com a chegada do Natal, o clima de generosidade se espalha pelo ar. Há um interesse de que, na festa de aniversário homenagem a Jesus, não falte ninguém. Essa parábola, explica Frei Betto, revela o olhar crítico de Cristo sobre as condições sociais de sua época. Muitos estavam preocupados em “tratar de seus negócios”, ocupados com cifrões e não com a presença amorosa de Deus.

Esta é uma realidade bem parecida com a do Século XXI. As agendas saturadas de compromissos “urgentes” ignoram o que é essencial. E, muitas vezes, esquecemos a urgência do essencial. E o que é urgente em nossas redes de comunicação conectadas 24 horas por dia? O sociólogo francês Jean Ziegler, ex-relator especial do Direito Humano à Alimentação (ONU), afirma que a fome é o maior escândalo deste tempo. Em relação aos cerca de 1 bilhão de famintos (FAO, 2018), há uma indiferença glacial que desvela as dinâmicas e estruturas da economia e políticas globais.

Na parábola da “Festa de Casamento”, os convidados da primeira lista declinaram do convite. Já os da segunda, formada por aqueles que vivem em situação desumana, são os que compareceram à festa. Segundo Frei Betto há uma nítida inversão: aqueles considerados “importantes” pelos olhos da sociedade são rejeitados; e os desprezados são os convidados especiais do rei.

É importante lembrar que Jesus nasceu, viveu e ressuscitou no reino de César, título dado aos 11 imperadores romanos. Desde o ano 63 a.C, a Palestina estava sob o império Roma. Toda a atuação de Jesus se deu sob o reinado do imperador Tibério Cláudio Nero César. A Palestina era governada por autoridades nomeadas por ele, como o governador Pôncio Pilatos e a família do rei Herodes. Predominava ali uma sociedade tributária, dirigida por um poder central, mantido pelos impostos cobrados das comunidades rurais e das cidades.

Portanto, falar em outro reino, como Jesus o fez dentro do reinado de César, era o equivalente hoje a defender a democracia. Ao contrário do muitos pensam, o Reino de Deus não é algo apenas relativo ao céu, mas, sobretudo, é algo a ser conquistado nesta vida e nesta Terra. E Ele foi o maior exemplo de como devem ser os homens e mulheres deste Reino: membros da civilização do amor, da justiça e da solidariedade. As bases desse processo civilizatório revolucionário estão na prática e nas palavras de Jesus. Se agirmos como ele, esse novo mundo se tornará realidade. Essa é a essência da promessa divina. Retomando a questão da urgência e do essencial, a prioridade é estabelecer o Reino de Deus em meio à iniquidade e desumanização.

Atualmente, a humanidade produz alimentos para saciar 12 bilhões de habitantes em um planeta com cerca de 7 bilhões de pessoas. Se pensarmos nesse Reino de Deus – comparado a um banquete para os excluídos – não é possível nos conformarmos com a fome e a pobreza em um contexto de crescentes excedentes e recordes de produtividade dos alimentos. Ou ainda, que 8 bilionários no mundo concentrem a mesma quantidade de renda de metade da população empobrecida do mundo.

Com a proximidade do Natal, essa “festa de nascimento”, marcada por excelência pela solidariedade, devemos refletir como acomodar todos os necessitados à mesa durante os 365 dias do ano. No Reino de Deus, ou na Festa de Casamento, há fartura, provisão, alegria e justiça. O legado desse reinado nos mostra outros mundos possíveis, onde não há espaço para opressão, desigualdades e ganância.

Que na festa natalina você traga o Reino de Deus para a terra através de uma mesa sempre pronta a servir e combater todo tipo de violação de direitos que condena seres humanos iguais a conviveram em realidades desumanas e vergonhosamente desiguais. No banquete do Rei, não há falta.


A história de São Pedro no Muro, uma das igrejas mais antigas da Inglaterra

Construída por St. Cedd no ano 654, foi reconsagrada muito mais tarde, em 1920

Acapela de São Pedro no Muro não é uma obra-prima arquitetônica, nem é conhecida por sua ornamentação ou pelas relíquias que abriga.
Esta capela pequena, sóbria e despretensiosa, localizada em Bradwell-On-Sea, em Essex (na costa sudeste do Reino Unido), está entre as mais antigas igrejas cristãs intactas da Inglaterra.
De fato, algumas fontes afirmam que este é o segundo edifício cristão mais antigo da Inglaterra (a Igreja de St. Martin em Canterbury seria a primeira). O pouco que sabemos sobre o homem que a construiu, St. Cedd, consta na História eclesiástica do povo inglês, de Beda, o Venerável.
Segundo Beda, Cedd nasceu na Northumbria e foi levado para a ilha de Lindisfarne (o grande centro do cristianismo celta) pelo próprio Aidan. Beda também relata que Cedd teve três irmãos: Chad, Cynibil e Caelin. Todos os quatro eram padres, mas apenas Cedd e Chad se tornaram bispos. No ano 653, Cedd já era sacerdote, então podemos datar seu nascimento por volta do ano 620.
John Salmon - CC BY-SA 2.0
Um ano após sua ordenação, em 654, Cedd construiu a capela de São Pedro no Muro entre as ruínas de um forte romano abandonado. Usando alguns dos tijolos e pedras romanos que encontrou no local, ele construiu esta igreja anglo-celta para os saxões orientais que moravam na área, já que havia sido enviado de Lindisfarne a pedido do então rei dos saxões, Sigeberto. Desde aquele tempo a capela pertence à diocese de Londres, desde que Cedd serviu como bispo lá. O site da capela conta a história de sua construção:
Em 653, Cedd navegou pela costa leste da Inglaterra a partir de Lindisfarne e desembarcou em Bradwell. Aqui ele encontrou as ruínas de um antigo forte romano deserto. Provavelmente, ele primeiro construiu uma pequena igreja de madeira, mas como havia muita pedra no forte, ele logo percebeu que proporcionaria um edifício muito mais permanente, então ele o substituiu no ano seguinte pela capela que vemos hoje! Cedd modelou sua igreja no estilo das igrejas do Egito e da Síria. Os cristãos celtas foram grandemente influenciados pelas igrejas daquela parte do mundo e sabemos que Antão do Deserto construiu sua igreja a partir das ruínas de um forte às margens de um rio, assim como Cedd o fez às margens do rio Blackwater em Essex (então conhecido como River Pant).
Mas sabemos muito pouco sobre a história desta capela. Conhecemos o ano de sua fundação a partir dos textos de Beda, e depois não ouvimos mais nada até o século XV, quando clérigos locais informam ao bispo de Londres que eles expandiram a igreja “levemente”. A igreja sofreu um incêndio, depois foi reparada e permaneceu em uso até o século XVI, quando foi abandonada, tendo sido usada até como celeiro por um tempo.
Só foi restaurada e reconsagrada como capela em 1920.

Arqueologia: Daniel Neemias e O Rei Persa Ciro

Após a conquista de Babilónia, Ciro é citado num cilindro dizendo:

Eu sou Ciro, rei do mundo, grande rei, rei legítimo, rei de Babilônia, rei da Suméria e de Acade, rei das quatro extremidades [da terra], filho de Cambises, grande rei, rei de Anzã, neto de Ciro I, . . . descendente de Teíspes . . . de uma família [que] sempre [exerceu] a realeza


m 539 a.C. Ciro conquistou a Babilônia. Os registros bíblicos informam que Ciro teria recebido uma mensagem divina que o ordenava a enviar de volta à Palestina todos os Judeus cativos naquela cidade. Escreveu a carta em 537 a.C. autorizava os judeus a regressar à Judeia, pondo fim ao período do Cativeiro Babilónico de 70 anos . Em 5/6 de outubro de 539 AEC, Ciro acampou em volta de Babilônia com seu exército. Enquanto os babilônicos festejavam, engenhosamente Ciro desviava as águas do Rio Eufrates para um lago artificial. Eles puderam atravessar o rio com a água na altura da cintura e entraram sem lutar, visto que os portões estavam abertos.


Naquela noite Daniel havia declarado ao Ultimo Rei da Babilonia, durante um banquete em que ele tomou os utensílios do templo de Jeova de JERUSALEM E USOU EM SEU BANQUETE:
18 Ó rei! Deus, o Altíssimo, deu a Nabucodonosor, teu pai, o reino, e a grandeza, e a glória, e a majestade.
19 E por causa da grandeza, que lhe deu, todos os povos, nações e línguas tremiam e temiam diante dele; a quem queria matava, e a quem queria conservava em vida; e a quem queria engrandecia, e a quem queria abatia.
20 Mas quando o seu coração se exaltou, e o seu espírito se endureceu em soberba, foi derrubado do seu trono real, e passou dele a sua glória.
21 E foi tirado dentre os filhos dos homens, e o seu coração foi feito semelhante ao dos animais, e a sua morada foi com os jumentos monteses; fizeram-no comer a erva como os bois, e do orvalho do céu foi molhado o seu corpo, até que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos homens, e a quem quer constitui sobre ele.
22 E tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que soubeste tudo isto.
23 E te levantaste contra o Senhor do céu, pois foram trazidos à tua presença os vasos da casa dele, e tu, os teus senhores, as tuas mulheres e as tuas concubinas, bebestes vinho neles; além disso, deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não vêem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida, e de quem são todos os teus caminhos, a ele não glorificaste.
24 Então dele foi enviada aquela parte da mão, que escreveu este escrito.
25 Este, pois, é o escrito que se escreveu: MENE, MENE, TEQUEL, UFARSIM.
26 Esta é a interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino, e o acabou.
27 TEQUEL: Pesado foste na balança, e foste achado em falta.
28 PERES: Dividido foi o teu reino, e dado aos medos e aos persas.
29 Então mandou Belsazar que vestissem a Daniel de púrpura, e que lhe pusessem uma cadeia de ouro ao pescoço, e proclamassem a respeito dele que havia de ser o terceiro no governo do seu reino.
30 Naquela noite foi morto Belsazar, rei dos caldeus.
31 E Dario, o medo, ocupou o reino, sendo da idade de sessenta e dois anos. Daniel 4
DEUS NAO ADMITE QUE SE TOQUE NO QUE É CONSAGRADO A ELE.
Dario Rei da Média, associado ao reino Persa, administrou Babilonia. Ciro ficava na sede do imperio Medo-Persa.

Morreu o teólogo Johann Baptist Metz (1928-2019)

Para saber um pouco mais sobre Johann Baptist Metz, alguns textos do ano passado, quando o teólogo comemorou os 90 anos de vida.
Metz: “O ecúmeno das compaixões” – IHU: 15 Agosto 2018Johann Baptist Metz (1928-2019) - Foto: Friso Gentsch - Metz em Münster em 2008
Os 90 anos de Johann Baptist Metz – IHU: 09 Agosto 2018

Transcrevo o primeiro texto.
Cento e quarenta teólogos e filósofos de todo o mundo celebraram, em agosto do corrente ano, os 90 anos de Metz com uma declaração coletiva. Entre eles está o espanhol Reyes Mate, aluno e amigo de Metz, que citaremos ao longo desta apresentação, especialmente ao relacionar a “Teologia Política” de J. B. Metz com a “Teologia da Libertação” de Gustavo Gutiérrez. E também os comentários do filósofo e teólogo dominicano mexicano Miguel Concha, também aluno e amigo.
A reportagem é de Saturnino Rodríguez, publicada por Religión Digital, 05-09-2018. A tradução é de André Langer.
A atualidade do teólogo Metz reside na sua reivindicação de “uma cultura anamnética”, ao mesmo tempo que denunciava “a amnésia cultural de uma sociedade moderna ou pós-moderna”; além disso, ele se arriscou a falar de uma “ética anamnética” (rememoração) e até mesmo de uma “razão anamnética”, que é levar a defesa de uma cultura da memória às suas últimas exigências.

Dois teólogos, duas teologias: Johann Baptist Metz “Teologia Política”, europeia, e Gustavo Gutiérrez “Teologia da Libertação”, latino-americana
No dia 5 de agosto, o grande teólogo alemão Johann Baptist Metz completou 90 anos, dois meses após ter chegado à mesma idade outro grande teólogo contemporâneo, o peruano Gustavo Gutiérrez Merino, a quem também dedicamos uma série de apresentações em Powert Point. Os dois pais – um da Teologia Política, europeia, e o outro da Teologia da Libertação, latino-americana – estão unidos por importantes laços, sem contar uma longa amizade. Entre as duas reflexões existem fortes elos. Começamos com J. B. Metz e sua Teologia Política, para concluir nas relações com G. Gutiérrez e a Teologia da Libertação, para continuar com a relação entre ambos.
Johann Baptist Metz nasceu em 5 de agosto de 1928 na cidade de Welluck-Alemanha. Fez seus estudos em Innsbruck e Munique, obtendo dois doutorados: um em Filosofia e outro em Teologia. Será testemunha da Segunda Guerra Mundial, da derrota alemã e da divisão da Alemanha com o Muro de Berlim (1961) e da unificação alemã com a queda do Muro de Berlim em 1989.
Johann Baptist Metz foi discípulo e amigo de seu compatriota e teólogo Karl Rahner. O Concílio Vaticano II, do qual ele foi perito, foi um acontecimento chave na vida de Rahner. Ele exerceu uma influência decisiva na orientação renovadora dos documentos conciliares, vários dos quais são de sua autoria. Para este teólogo alemão, a política é fundamental para a reflexão teológica, como se pode observar em sua vasta bibliografia (Rahner, Karl. Teologia Política. Madri: Arbor, 1970, tomo 1, n° 291, pp. 245-346).

Teologia e política
Rahner afirma que “a teologia política ainda não está definida de um modo inteiramente unívoco […] A verdade é que a teologia política não tem nada a ver com uma atividade política da Igreja ou do clero, mas sim, reconhece por razões teológicas o mundo secular como tal e legítimo […] Neste sentido pelo menos, uma teologia política é urgente hoje, já que na teologia tradicional percebe-se algo como uma privatização e um estreitamento do cristianismo orientados apenas para a salvação interna do indivíduo, pelo fato de que a teologia da esperança foi concebida apenas individualmente […], cabe conceber a teologia política como uma tarefa da teologia que consiste em uma abordagem crítica do sistema social vigente […]”.
Para a teóloga e professora universitária Dorothee Sölle, “a teologia política é uma teologia da libertação”, focada fundamentalmente em um conceito anti-imperialista e, portanto, solidária com os países subdesenvolvidos. O próprio Metz escreveu: “A teologia é um discurso sobre Deus em Aliança com o ser humano. Esse Deus sempre quis uma humanidade na ‘maioridade’, libertada e livre. É o Deus do Êxodo, o Deus do qual Jesus proclama seu Reinado. É o Deus da Promessa de um mundo novo, de um futuro para toda a humanidade”.

Seus antecedentes e influências
Metz, discípulo predileto de Karl Rahner, situado no campo ahistórico transcendental por intermédio do Immanuel Kant da razão pura, chegou à teologia política sob a proteção do Kant da razão prática, de Karl Marx, de Walter Benjamin e do alemão Ernst Bloch, entre outros. Para isso, ele tinha que se deparar com o sujeito social capaz dessa prática crítica que leva ao conceito de seguimento de Jesus. Metz queria ser um teólogo da nossa cultura. Em seus debates com Jürgen Habermas, por exemplo, onde ambos coincidem no diagnóstico da perda de identidade do homem ocidental, J. B. Metz postula uma nova cultura política.
O filósofo e teólogo Reyes Mate escreveu sobre Rahner em 1984: “Quem investiga as fontes de sua reflexão encontrará o tomismo aristotélico, evidentemente, mas também Kant. Não o Kant da razão prática, que leva a Marx, mas o Kant da teoria do conhecimento transcendental; encontrará também Hegel, expoente do idealismo transcendental, ambos preocupados em fixar a condição e o conteúdo da consciência na própria experiência. No entanto, a referência constante de seu pensamento, sobretudo o filosófico, é Heidegger, por parte de quem o jesuíta alemão Rahner não conseguiu a aprovação da tese de doutoramento. Heidegger não compartilhava a teoria do jovem Rahner de que a solução para os problemas da metafísica passaria por uma atualização da metafísica clássica, aristotélico-tomista, mas antes por tirar aqueles de todo o contexto cristão”.
Os historiadores da teologia situam J. B. Metz na corrente da “Nouvelle Theologie”, que surgiu na velha Europa, especialmente na França. Metz faz parte desta nova corrente, que surgiu no início da década de 40 do século passado. A “Nova Teologia” tinha como objetivo fazer uma teologia mais relacionada com a vida. Ou seja, uma teologia cristã em relação com o mundo, de diferentes perspectivas e de diversos campos. A Nouvelle Theologie abria as portas da teologia para todos os homens de fé.
No congresso internacional de teologia realizado em Toronto-Canadá em 1967, Metz, em suas colocações teológicas nesse congresso, usou repetidas vezes a palavra Teologia Política. Ele a sistematizará em sua obra intitulada Sobre a Teologia do Mundo, publicada em 1968. Neste livro, ele expõe sua assim chamada Teologia Política, tornando-se assim o pai moderno desta teologia.
Pois bem, Metz, nesta obra, não faz nenhuma conceituação dessa nova teologia. A única coisa que ele diz é que “o conceito de Teologia Política é ambíguo e, portanto, pode ser mal interpretado”. Mas deixa claro o que entende por Teologia Política, e o diz de duas maneiras:
— “Eu entendo a teologia política como um corretivo crítico para uma tendência extrema que a teologia atual tem para a privatização”.
— “Entendo, ao mesmo tempo, por teologia política a tentativa de formular a mensagem escatológica nas condições de nossa atual sociedade”.

Obras em destaque
Estas são algumas das obras relevantes deste notável teólogo-filósofo alemão Johann Baptist Metz: Sobre o conceito do futuro, 1965; Teologia do mundo, 1968; Teologia política, 1969; Ilustração e teoria teológica. A Igreja na encruzilhada da liberdade moderna. Aspectos de uma nova teologia política, 1973; Fé na história e na sociedade, 1979; Além da religião burguesa, 1980; As ordens religiosas, 1988; Deus e tempo: nova teologia política, 2002; Memoria Passionis, 2006, etc.
Em todas estas obras, J. B. Metz aborda o tema da teologia política. Em alguns textos, será mais eloquente e em outros menos.
Segundo o teólogo jesuíta alemão assessor do Concílio Vaticano II Karl Rahner e professor de Johann Baptista Metz a teologia política nada tem a ver com uma atividade política da Igreja ou do clero, mas, como Johann B. Metz bem reconhece por razões teológicas, com o mundo secular como tal e como legítimo.
A teologia política faz parte da filosofia política e da teologia que investiga as formas como os conceitos teológicos ou formas de pensar estão relacionados com a política, a sociedade e a economia. Embora a relação entre o cristianismo e a política tenha sido objeto de debate desde a época de Jesus, a teologia política como disciplina acadêmica começou durante a última parte do século XX, em parte como resposta ao trabalho do cientista político e filósofo jurídico alemão Carl Schmitt (1888-1985), assim como da Escola de Frankfurt. A publicação Political Theology atualmente examina essa interface de fé religiosa e política.

As duas teologias: Política e Libertação
A relação entre os dois personagens – Metz e Gutierrez – e suas teologias é muito estreita. O teólogo Gustavo Gutiérrez e outros latino-americanos se formaram em universidades europeias como “Le Saulchoir” dos dominicanos na Bélgica e “Lyon-Fourviere” dos jesuítas em Lyon (França) e foram alunos de eminentes teólogos alguns dos quais foram peritos do Concílio Vaticano II e inclusive redatores de alguns de seus textos. Um deles é justamente Johann Baptist Metz e sua “Teologia Política”, juntamente com outras figuras como Marie-Dominique Chenu e Yves Congar no Le Saulchoir e Jean Daniélou, Henry de Lubac e Rahner em “Lyon-Fourviere”. Eram os corolários da La Nouvelle Theologie que surgiu na França no início do século XX.
As relações entre os dois teólogos, o europeu Johann Baptist Metz e o latino-americano Gustavo Gutiérrez, e suas respectivas teologias: a Teologia Política e a Teologia da Libertação e a complementaridade entre ambos, são evidentes.
Isso justifica o recurso às obras de dois outros teólogos conhecedores e amigos de ambos: o espanhol Reyes Mate, filósofo e teólogo, professor e pesquisador do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), e Miguel Concha, teólogo dominicano mexicano professor de pós-graduação em Estudos Latino-Americanos da FCPyS-UNAM (Faculdade de Ciências Políticas e Sociais da Universidade Nacional Autônoma do México) e fundador da Associação de Direitos Humanos Francisco de Vitória.
O filósofo e teólogo espanhol Reyes Mate, conhecedor e amigo dos dois teólogos, escreveu em novembro de 1986, no jornal El País, sobre o encontro que aconteceu no Instituto Alemão de Cultura em Madri entre o teólogo católico Johann Baptist Metz e o teólogo protestante Jürgen Moltmann, recordando que o filósofo Ernst Bloch, um dos autores de referência, advertira dizendo: “quando os teólogos se empenham em ser mais racionalistas do que o homem secular, acabam não tendo nada a dizer”. Por este motivo, Metz, bom conhecedor de Bloch que é, nunca deixa de repetir que existem mais elementos libertadores nos mitos descartados pelo homem secular do que naqueles que este construiu.

Duas próximas teologias
O filósofo-teólogo professor Reyes Mate, professor de Pesquisa do CSIC no Instituto de Filosofia intitulou e qualificou em 1988 no jornal El País Johann Baptist Metz como “um clássico incômodo da teologia católica”. E o explicava no começo: “De Karl Rahner foi dito, assim como de Shakespeare, que sua biografia era sua obra, uma obra na qual o rigor conceitual anda de mãos dadas com uma curiosidade inesgotável por todos os temas da vida”.
Gustavo Gutiérrez e sua Teologia da Libertação e Johann Baptist Metz e sua Teologia Política são muito próximos. Para a teóloga e professora universitária Dorothee Sölle, que ocupa a cátedra de Teologia Sistemática no Seminário Teológico de Nova York, “a Teologia Política é uma Teologia da Libertação”, centrada fundamentalmente em um conceito anti-imperialista e, portanto, em solidariedade com os países subdesenvolvidos.
Para compreender melhor, diríamos que as caravelas que da Europa levaram há mais de 500 anos os conquistadores e evangelizadores para o que chamavam de “Novo Mundo”, voltaram depois de centenas de anos – já não em navios, mas em meios técnicos mais avançados – para “reevangelizar” os seus evangelizadores de antes.
Com grande dose de humor, poderíamos dizer que a Teologia da Libertação, cujo “pai” foi há 50 anos G. Gutiérrez – que acabou de completar 90 anos também –, tem por “avô” Johann Baptist Metz, seu famoso professor alemão e amigo.
Neste sentido, a análise e a crítica da Teologia Política contemporânea da Europa apresentam pontos de convergência com a Teologia da Libertação da América Latina, que fornece como ingredientes fundamentais para uma nova sociedade e uma nova cultura a longa história de resistência e lutas das classes exploradas, das raças desprezadas e das culturas discriminadas, resultado da modernidade. O que não tem nada a ver com os atuais movimentos reacionários de centralização, subordinação, submissão e padronização, dentro e fora da Igreja.
No decorrer desta exposição – como disse o teólogo mexicano Miguel Concha em sua obra Crepúsculo do Humanismo: “Nós tentamos fazer um esforço de esclarecimento e síntese. Queremos enfatizar mais uma vez que a atual civilização tecnológica, fruto da cultura da modernidade, parece que na realidade produz monstros, e que a única saída do ponto de vista cultural e cristão no chamado Primeiro Mundo é recuperar a memória subversiva de Deus e, com ela, a busca da igualdade e da justiça para todos, bem como o reconhecimento dos outros em seu ser diferente”.
Desde outra perspectiva, a dos “de baixo”, a teologia de Johann Baptist Metz é uma interlocutora da Teologia da Libertação de Gustavo Gutiérrez, no diálogo científico fecundo com outras correntes teológicas. Portanto, escreve Gutiérrez no livro acima mencionado: “A teologia política apresenta-se como ‘uma tentativa de expressar a mensagem escatológica do cristianismo em relação à era moderna como uma figura da razão crítico-prática’”.

Influência de Rahner em J. B. Metz e G. Gutiérrez
A virada antropológica de Rahner influenciou na elaboração da teologia política de Metz e este influenciou seu mestre com suas teses sobre a memória, a função crítico-pública do cristianismo e da teologia e o duplo componente, místico e social, do cristianismo. Ele mostrou seu apoio à teologia latino-americana da libertação justamente quando as condenações do Vaticano contra ela recrudesceram. Uma das últimas cartas que ditou antes de morrer, estando hospitalizado no sanatório das Irmãs da Cruz de Rum, perto de Innsbruck, dirigiu à Conferência Episcopal do Peru em defesa da Teologia da Libertação e do teólogo Gustavo Gutiérrez, um de seus iniciadores.
É do conhecimento de todos que a Teologia Política nasce na Europa e a Teologia da Libertação na América Latina, dois continentes distintos, com realidades diferentes, mas com o mesmo objetivo: encontrar e fazer o máximo possível a vontade de Deus neste mundo. Metz é eloquente ao mencionar que “ambas as teologias se caracterizam por sua especial sensibilidade para com a teodiceia”.

Coincidências e diferenças entre as duas teologias
De acordo com o professor Carlos Iván Peñafiel em seu livro Relevância da Teologia Política na Igreja Latino-Americana, estas podem ser as divergências entre a Teologia Política e a Teologia da Libertação.

Convergências:
a) “Adeus à sua inocência social”: isto é, pelo interesse de uma justiça, essas duas teologias se tornam místicas e políticas.
b) “Adeus à sua inocência histórica”: “a teologia tem que dizer adeus a um universalismo histórico sem sujeito, alheio a qualquer situação e, até certo ponto, sem conteúdo humano”.
c) “Adeus à sua suposta inocência étnico-cultural”: estas duas teologias são universais, não pertencem a uma cultura ou povo específico.
Divergências, segundo o professor Alfonso Garcia Rubio (Teologia da Libertação: política ou profetismo. São Paulo: Loyola, 1983):
a) A teologia política não vem acompanhada por uma análise sociopolítica específica.
b) Separação ideológica entre teologia e ética política, porque se existisse tal separação, haveria uma separação entre a reflexão teológica e a necessidade de uma práxis.
c) As afirmações de Metz sobre a secularização e a privatização da salvação são consideradas desde a Teologia da Libertação como generalidades de um determinado contexto europeu, e a América Latina tem um ambiente diferente.
d) A teologia política deve estar presente ali onde os problemas humanos são mais urgentes, sem cair em discussões muitas vezes teóricas.
Uma vez observadas as semelhanças e as discrepâncias entre a Teologia da Libertação e a Teologia Política, induz-nos a afirmar e aceitar que cada teologia tem seu próprio jeito de fazer teologia, e é justamente isso que as diferencia. A relevância dessas duas teologias está em que são inspiradas no Evangelho, percebendo o que o filósofo e teólogo jesuíta uruguaio Juan Luis Segundo diz sobre o fazer teologia: “não existe teologia cristã, nem interpretação cristã do Evangelho sem uma opção política prévia”.
Ignacio Ellacuría concorda com Clodovis Boff, o irmão de Leonardo, em que a Teologia da Libertação não é uma teologia que se mantém alheia ou distante da problemática política. Por sua parte, I. Ellacuría assinala que “a Teologia da Libertação não se mantém neutra em face das diferentes opções políticas, mas toma partido e opta parcialmente pela libertação dos oprimidos. No entanto, o fato de a Teologia da Libertação pertencer à família das teologias políticas não significa que ela vá, mimeticamente, no vácuo da Teologia Política […]”.
A Teologia da Libertação, de acordo com Rosino Gibellini (A Teologia do Século XX. São Paulo: Loyola, 1998), tem três etapas ou fases: a fase de preparação, que vai de 1962 até 1968. A fase de formulação, que abarca os anos 1968-1975. E, finalmente, a fase de sistematização, de 1976 em diante, quando a Teologia da Libertação se empenha em refletir sobre o seu próprio método, e é quando surge uma série de obras que sistematizam o trabalho teológico da Teologia da Libertação.

Achada uma civilização perdida: o reino maldito de Esaú

Há cidades ou civilizações perdidas que intrigam os homens modernos. Algumas pertencem mais provavelmente à lenda, mas de outras há lembranças dignas de crédito.

O que foi delas? Por que desapareceram? Foram amaldiçoadas’

Desapareceram totalmente ou acabaram se integrando em alguma outra, dando origem a filões psicológicos que continuaram influenciando a História mais ou menos sorrateiramente?

Os casos de Caim e Esaú nos interessam especialmente pela sua presença na Bíblia. Aonde foram eles? No que é que deram?

Entre essas incógnitas históricas cabe o reino bíblico de Edom, ou o reino fundado por Esaú após vender sua primogenitura e abandonar o lar paterno.

Mais recentemente, um longo trabalho veio trazer a lume os vestígios desse reino, extinto há milênios, mas que deixou um filão moral e cultural de representantes até no Novo Testamento.

E houve os que tiveram um papel horroroso na Paixão e Morte de Nosso Senhor, segundo narram os Evangelhos.

Edom significa “vermelho”, da mesma maneira que “Esaú”, pela cor da sopa em troca da qual vendeu seus nobres direitos.

Abandonando o lar, internou-se no deserto com a família e animais e sua sorte foi sempre foi um quebra-cabeça significativo para a arqueologia bíblica.

6. “Esaú tomou suas mulheres, seus filhos e suas filhas, assim como todo o seu pessoal, seus rebanhos, seus animais e todos os bens que tinha adquirido na terra de Canaã, e mudou-se para longe de seu irmão Jacó.

“7. Seus bens eram, com efeito, numerosos demais para que pudessem morar juntos, e a terra em que habitavam não lhes bastava, por causa dos seus muitos rebanhos.

“8. Esaú estabeleceu-se na montanha de Seir. Esaú chamava-se também Edom”. (Gênesis, 36, 5-8)

Símbolo da inimizade entre os filhos da Virgem e os da serpente


A descendência de Esaú, os edomitas, aparecem no relato bíblico
encarnado os réprobos, como sugere
a capa desta edição recente de livro do século XIX
Esaú casou com mulheres contra a vontade de seus pais Isaac e Rebeca (Gn 26:34-35).

Sua hereditariedade se uniu a povos inimigos de Israel como cananeus, filisteus e egípcios.

A história sagrada inclui vários graves conflitos armados que tinham como fundo permanente a inimizade entre os predestinados filhos da luz (simbolizados na descendência de Jacó) e os réprobos, filhos das trevas (de Esaú).

Sobre essa inimizade psicológica e religiosa veja: Comentários ao Tratado da Verdadeira Devoção - Interpretação da história de Jacó

Saul teve problemas com os edomitas (I Sm 14:47). Davi venceu um exército de 18.000 deles e subjugou suas terras (II Sm 8:13-14).

Joab, general do exército de Davi ficou nas terras dos edomitas para “exterminar todos os varões de Edom” (I Reis, 11, 15-16).

Mas “Adad, o edomita, da linhagem real de Edom” fugiu para o Egito com quem fez aliança. Quando Davi morreu, voltou para montar uma revolta contra Salomão (I Reis, 11, 17ss).

O reino de Edom existiu desde o século XII a.C. e fazia fronteira com Moabe ao nordeste, Arava ao oeste e o deserto da Arábia ao sul e leste.

O reino dos edomitas ou idumeus (nome romano) foi destruído pelos babilônios por volta do século VI a.C. e se extinguiu pelo ano 125 a.C. Acabaram subjugados pelo rei de Israel João Hircano.

Os israelitas os obrigaram a praticar o judaísmo porque os consideravam primos, por descenderem de Esaú, irmão de Jacó, pai dos judeus.

Descendentes de Esaú contra Jesus Cristo na Sua Vida, Paixão e Morte


Porém essa anexação religiosa forçada acabaria dando num desastre: na transição do Antigo para o Novo Testamento uma estirpe criminosa descendente de Esaú ficou ilegitimamente com a coroa do povo escolhido.

Herodes o Magno ordena a massacre dos inocentes de Belém
Herodes Arquelau ordenou a massacre dos inocentes de Belém
era edomita, descendente de Esaú, detestado pelo povo.
O principal foi Herodes o Grande (74/73 a.C. — 4 a.C.), descendente daquele que vendeu a primogenitura por um prato de lentilhas, mas de costumes judeu-romanos, rei cliente de Israel entre 37 a.C. e 4 a.C. odiado pelo povo.

Ele foi a Roma, onde galgou posições na Corte imperial até obter o ambicionado título de rei da Galileia.

Apoiado pelo poder romano se instalou num esplêndido palácio real por ele construído e que acabaria sendo usado como pretório por Pilatos e onde Jesus foi condenado a morte.

Ele foi tido como “um louco que assassinou a própria família e inúmeros rabinos” (cfr. Herodes, Wikipedia).

Herodes o Grande é conhecido por seus colossais projetos de construção em Jerusalém, em especial a reconstrução do segundo Templo, por vezes chamado de Templo de Herodes.

Herodes Arquelau, seu filho e sucessor, ordenou massacrar as crianças de menos de dois anos em Belém visando matar o Messias de que falaram os Reis Magos, e ganhou a hostilidade dos judeus como cruel e despótico.

O imperador Augusto achou que Herodes Arquelau era um incompetente, o enviou ao exílio, e nomeou Herodes Antipas, outro filho de Herodes o Grande, como soberano da Galileia (de 6 a 39 d.C.).

Ele mandou degolar a São João Batista. Nosso Senhor foi conduzido a sua presença para ser condenado. Jesus não lhe deu atenção e esse Herodes não teve coragem de fazer nada. Morreu destronado no desterro.

Seu sucessor Herodes Agripa I morreu corroído pelos vermes: “o anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado honra a Deus. E, roído de vermes, expirou”. (Atos dos Apóstolos, 12, 23). Verbete Herodes, em Wikipedia.

A dinastia herodiana se extinguiu com Herodes Agripa II, destronado pelos judeus que se rebelaram contra Roma e acabaram sendo dispersos. Jerusalém foi destruída, o Templo foi saqueado, queimado e arrasado até os fundamentos pelos romanos.

Descoberta de Edom fornecedor de armas para os inimigos de Israel


O Gênesis fala de Edom como terra próspera, mas, durante anos, os especialistas não encontraram registros arqueológicos confirmando quando e onde existiu.

Agora um estudo de uma equipe de cientistas divulgado em 18 de setembro de 2019 na revista de acesso aberto PLOS ONE descobriu que Edom realmente existiu na época e no local mencionados pela Bíblia.

Edom fornecia o cobre para as armas das guerras dos faraós
Edom fornecia o cobre para as armas das guerras dos faraós
O artigo leva o título “Tecnologia antiga e mudança pontuada: detectando o surgimento do Reino Edomita no Levante do Sul”.

Ele foi elaborado por uma equipe chefiada pelo professor Erez Ben-Yosef, da Universidade de Tel Aviv, do Projeto Central Timna Valley, e pelo Prof. Tom Levy, do Projeto de Arqueologia Regional das Terras Baixas de Edom, da Universidade da Califórnia – San Diego, nos EUA.

“Nossos resultados provam que o reino surgiu antes do que se pensava anteriormente e de acordo com a descrição bíblica”, explicou o professor Ben-Yosef.

Ben-Yosef, o professor Tom Levy e sua equipe foram ao deserto de Arava para analisar a fonte da riqueza do reino: o cobre.

Pois as herdades de Esaú eram muito práticas para a tecnologia, a metalurgia e a produção material.

Os arqueólogos determinaram que o reino dos descendentes de Esaú não só existiu no momento em que a Bíblia descreve, mas também que era um reino poderoso e tecnologicamente avançado, disse Ben-Yosef à CBN News.

“Isto apoia a noção de um reino forte, responsável por realizar uma indústria de larga escala na produção de cobre”, disse Ben-Yosef.

O mais importante foi o complexo mineiro de Tamina – ao sul de Israel, local das lendárias minas do rei Salomão –, e de Faynan, ao norte do anterior, no vale do Arava, na Jordânia.

Reino de Edom por volta de 830 a.C.
Reino de Edom por volta de 830 a.C.
O cobre era um material apreciado, usado nos tempos antigos para armas, escudos de defesa, ferramentas agrícolas e muito mais. “Se você quisesse ser forte, precisava ter cobre”, disse Ben-Yosef.

A mais famosa das antigas minas de cobre edomita, Tamina, leva o nome de uma concubina de um filho de Esaú, mencionada no Gênesis (36, 12).

Os egípcios vizinhos confiavam na mina de Tamina, pois era sua fonte mais próxima de cobre de que precisavam para sua expansão.

cobre era usado para forjar ferramentas, decorações e armas, e constituía uma mercadoria importante no mundo antigo, informou “The Times of Israel”.

A equipe também encontrou evidências ligando Edom a outro grande evento bíblico: a invasão da Terra Santa pelo por “Sesac, rei do Egito” que “por causa dos pecados de Jerusalém contra o Senhor” (II Crônicas, 12,2) invadiu Jerusalém no século X a.C.

O faraó “levou os tesouros do Templo do Senhor e os do palácio real, sem nada deixar. Levou especialmente os escudos de ouro que Salomão tinha fabricado” (id. 12, 9).

O Egito, país idólatra inimigo de Israel, dependia dos Esaús para o cobre que sua indústria, sobretudo a bélica, importava. E a progênie de Esaú lhe fornecia em quantidades tais, que foram necessárias inovações tecnológicas em toda a região.

Os filhos de Esaú importaram o camelo egípcio à região para auxiliar no transporte dos produtos, logo após a chegada do faraó Sesac.

Nossas novas descobertas são consistentes com a história bíblica de que havia um reino edomita aqui”, concluiu Ben-Yosef.

“A fundição de cobre era essencialmente a alta tecnologia dos tempos antigos”, explicou Ben-Yosef ao “The Jerusalem Post”.

“Antes de construir sua capital no planalto, os edomitas eram um reino complexo e organizado, mas ainda eram nômades”, disse Ben-Yosef.

Escavações em andamento no vale de Tamina, Israel (E. Ben-Yosef & Central Timna Valley Project)
Escavações em andamento no vale de Tamina, Israel
(E. Ben-Yosef & Central Timna Valley Project)
“Eles moravam em tendas. Não tinham aldeias ou cidades, mas possuíam cemitérios e locais de fundição”, prosseguiu.

O saque do Templo “cinco anos após a morte do rei Salomão”, “foi muito traumático para Jerusalém”, disse Ben-Yosef.

“Sesac, rei do Egito, atacou, pois, Jerusalém. Levou os tesouros do Templo do Senhor e os do palácio real, sem nada deixar. Levou especialmente os escudos de ouro que Salomão tinha fabricado”, (II Crônicas, 12, 9)

Ele apontou uma documentação dessa invasão proveniente dos próprios egípcios.

Um relevo no Portal Bubastita, descoberto em Karnak, descreve essa conquista, disse ele.

Os descendentes de Esaú controlavam uma rede de cobre, exportando para a Grécia e também provavelmente para Damasco.

“Encontramos tecidos simples e elaboradamente decorados, usados pelos artesãos altamente qualificados e respeitados que gerenciavam os fornos de cobre”, afirmou Ben-Yosef na publicação dos têxteis em 2016.

Ben-Yosef explicou que as novas descobertas sugerem fortemente que a Bíblia estava certa, mesmo quando as evidências arqueológicas originais não pareciam somar.

“Nossas novas descobertas são consistentes com a história bíblica de que havia um reino edomita aqui”, concluiu.