ARQUEÓLOGOS ACHAM LOCAL DE NASCIMENTO DOS DISCÍPULOS DE JESUS


A cidade perdida de Julias foi construída sobre a aldeia judaica de Bethsaida na Galiléia, que acredita ser o lugar do nascimento dos apóstolos Pedro, Andre e Felipe.


Arqueólogos israelenses descobriram o que pode ser a cidade perdida de Julias, onde acreditam ser o local de nascimento dos três dos apóstolos de Jesus: Pedro, Andre e Felipe.

Os restos foram descobertos durante uma escavação em Beit Habek, na Reserva Natural do Vale de Bethsaida, no norte de Israel. Mordechai Aviam, do Instituto Kinneret de Arqueologia está liderando a escavação que acaba de completar dois anos.

De acordo com o historiador romano judeu Josephus Flavius, o filho do rei Herodes construiu a aldeia de pescadores em Betsaida, uma cidade romana chamada Julias. O novo testamento, em João 1:44 cita Betsaida como o lugar de nascimento dos três discípulos: “Felipe, André e Pedro de Betsaida”. A mesma vila também é mencionada em outro capitulo de João onde se lê: “Eles vieram a Felipe que era de Betsaida na Galiléia”.

Os arqueólogos descobriram uma camada que remonta aos tempos romanos a 2 metros abaixo da “camada bizantina”. Os achados romanos incluem fragmentos de cerâmica e moedas que datam do primeiro ao terceiro século da Era Comum e que reforça a teoria de que os restos de Julias foram encontrados.

“Não era só esta camada, a romana, que era desconhecida. Os pesquisadores alegaram que o local mostrava também indícios de um período antes do bizantino”, disse Aviam. “Nossa maior surpresa foi que no final da escavação, desenterramos a parede de um prédio e ao lado dele um piso de mosaico, bens característicos das casas de banho da época romana. Esta é uma pista que a cidade de Julias pode estar no subsolo”.

“Esperamos que descoberta repercuta particularmente entre os pesquisadores do cristianismo primitivo, do Novo Testamento, daqueles que estudam a história da terra de Israel e da Galiléia judaica no período do Segundo Templo”, disse Aviam.

“A Bíblia pode ser tomada como fonte de documentação histórica”

[Daniel Lüdtke]
A descoberta de um selo de 2,5 mil anos, encontrado em Jerusalém, onde se lê em hebraico antigo o nome da família Tema, que estava entre os primeiros exilados a retornar a Judéia depois do cativeiro babilônico – segundo o livro de Neemias.
Curiosamente, as matérias não transpareceram sarcasmo em relação à Bíblia, como é comum, e ainda apontaram que o achado “poderia confirmar a teoria que indica que a Bíblia pode ser tomada como fonte de documentação histórica”.
A afirmação de Eilat Mazar, arqueóloga que dirige a escavação, é bastante precisa: "É um nexo entre as provas arqueológicas e o relato bíblico, ao evidenciar a existência de uma família mencionada na Bíblia".
De maneira geral, os dois veículos de comunicação trataram a notícia com imparcialidade. Só a seção de notícia de Terra, todavia, chamou Davi – importante rei israelita – de “mítico”. Acontece que sua existência já foi indicada pela descoberta da Estela de Tel Dã (ver abaixo), e não trata-se mais de uma lenda, como supunham os críticos da Bíblia. 
É interessante que as matéria fizeram certo alarde com a descoberta desse selo e o apresentaram quase como uma prova da veracidade da Bíblia, enquanato tantos outros achados arqueológicos já foram divulgados, mas sem muita badalação. Seguem abaixo algumas dessas descobertas.


Estela de Merneptah – Coluna comemorativa, datada de cerca de 1207 a.C., que descreve as conquistas militares do faraó Merneptah. Israel é mencionado como um dos inimigos do Egito no período bíblico dos juízes, provando que Israel já existia como nação neste tempo, o que até então era negado pela maioria dos estudiosos. É a menção mais antiga do nome "Israel" fora da Bíblia.

Tijolo babilônico que traz nome de Nabucodonosor – O achado arqueológico traz a seguinte inscrição em cuneiforme: "(eu sou) Nabucodonosor, Rei deBabilônia. Provedor (do templo) de Ezagil e Ezida; filho primogênito de Nabopolassar”. Vale notar que por muito tempo se afirmou que a cidade da Babilônia era um mito – e muito mais lendário ainda seria o rei Nabucodonosor.

Tabletes de Ebla – Cerca de 14 mil tábuas de argila foram encontradas no norte da Síria, em 1974. Datadas de 2.300 a 2.000 a.C., elas remontam à época dos patriarcas. Os tabletes descrevem a cultura, nomes de cidades e pessoas (como Adão, Eva, Miguel, Israel, Noé) e o modo de vida similar ao dos patriarcas descrito principalmente entre os capítulos 12 e 50 do livro de Gênesis, indicando sua historicidade.

Papiro de Ipwer – Oração sacerdotal escrito por um egípcio chamadoIpwer, onde questiona o deus Horus sobre as desgraças que ocorrem no Egito. As pragas mencionadas são: O rio Nilo se torna sangue; escuridão cobrindo a terra; animais morrendo no pasto; entre outras, que parecem fazer referência às pragas relatadas no livro de Êxodo.

Estela de Tel Dã – Placa comemorativa sobre conquista militar da Síria sobre a região de Dã. A inscrição traz de modo bem legível a expressão "casa de Davi", que pode ser uma referência ao templo ou à família real. O mais importante, todavia, é que menciona, pela primeira vez fora da Bíblia, o nome de Davi, indicando que este foi um personagem real.

Textos de Balaão – Fragmentos de escrita aramaica encontrados em Tell Deir Allá, que relatam um episódio da vida de "Balaão filho de Beor" e descrevem uma de suas visões – indícios de que Balaão existiu e viveu em Canaã, como afirma a Bíblia no livro de Números 22 a 24.

Obelisco negro e prisma de Taylor – Estes artefatos mostram duas derrotas militares de Israel. O primeiro traz o desenho do rei Jeú prostrado diante de Salmaneser III oferecendo tributo a ele. O segundo descreve o cerco de Senaqueribe a Jerusalém, citando textualmente o confinamento do rei Ezequias.

Inscrição de Siloé – Encontrada acidentalmente por algumas crianças que nadavam no tanque de Siloé. Essa antiga inscrição hebraica marca a comemoração do término do túnel construído pelo rei Ezequias, conforme o relato de 2 Crônicas 32:2-4.

Selo de Baruque – descoberto em 1975, provando a existência do secretário econfidente do profeta Jeremias.

Palácio de Sargão II – Descoberto em 1843, o palácio de Sargão II, rei da Assíria, pôs fim a negação de sua existência, conforme mencionado em Isaías 20:1.

João Batista, a biografia do ultimo profeta


João nasceu numa pequena aldeia chamada Aim Karim, a cerca de seis quilômetros lineares de distância a oeste de Jerusalém. Segundo interpretações do Evangelho de Lucas, era um nazireu de nascimento. 

Outros documentos defendem que pertencia à facção nazarita de Israel, integrando-a na puberdade, era considerado, por muitos, um homem consagrado. De acordo com a cronologia neste artigo, João teria nascido no ano 7 a.C.; os historiadores religiosos tendem a aproximar esta data do ano 1º, apontando-a para 2 a.C.

Como era prática ritual entre os judeus, o seu pai Zacarias teria procedido à cerimonia da circuncisão, ao oitavo dia de vida do menino. A sua educação foi grandemente influenciada pelas ações religiosas e pela vida no templo, uma vez que o seu pai era um sacerdote e a sua mãe pertencia a uma sociedade chamada "as filhas de Araão", as quais cumpriam com determinados procedimentos importantes na sociedade religiosa da altura.

Aos 6 anos de idade, de acordo com a educação sistemática judaica, todos os meninos deveriam iniciar a sua aprendizagem "escolar". Em Judá não existia uma escola, pelo que terá sido o seu pai e a sua mãe a ensiná-lo a ler e a escrever, e a instruí-lo nas atividades regulares.


Aos 14 anos há uma mudança no ensino. Os meninos, graduados nas escolas da sinagoga, iniciam um novo ciclo na sua educação. Como não existia uma escola em Judá, os seus pais terão decidido levar João a Engedi(atual Qumram) com o fito de este ser iniciado na educação nazarita.

João terá efetuado os votos de nazarita que incluíam abster-se de bebidas intoxicantes, o deixar o cabelo crescer, e o não tocar nos mortos. As ofertas que faziam parte do ritual foram entregues em frente ao templo de Jerusalém como caracterizava o ritual.
Engedi era a sede ao sul da irmandade nazarita, situava-se perto do Mar Morto e era liderada por um homem, reconhecido, de nome Ebner.

O pai de João, Zacarias, terá morrido no ano 12 d.C.. João teria 18-19 anos de idade, e terá sido um esforço manter o seu voto de não tocar nos mortos. Com a morte do seu pai, Isabel ficaria dependente de João para o seu sustento. Era normal ser o filho mais velho a sustentar a família com a morte do pai. João seria filho único. Para se poder manter próximo de Engedi e ajudar a sua mãe, eles terão se mudado, de Judá para Hebrom (o deserto da Judeia).



Ali João terá iniciado uma vida de pastor, juntando-se às dezenas de grupos ascetas que deambulavam por aquela região, e que se juntavam amigavelmente e conviviam com os nazaritas de Engedi.

Isabel terá morrido no ano 22.d.C e foi sepultada em Hebrom. João ofereceu todos os seus bens de família à irmandade nazarita e aliviou-se de todas as responsabilidades sociais, iniciando a sua preparação para aquele que se tornou um “objectivo de vida” - pregar aos gentios e admoestar os judeus, anunciando a proximidade de um “Messias” que estabeleceria o “Reino do Céu”.

De acordo com um médico da Antioquia, que residia em Písia, de nome Lucas, João terá iniciado o seu trabalho de pregador no 15º ano do reinado de Tibério. Lucas foi um discípulo de Paulo, e morreu em 90. A sua herança escrita, narrada no "Evangelho segundo Lucas" e "Atos dos Apóstolos" foram compiladas em acordo com os seus apontamentos dos conhecimentos de Paulo e de algumas testemunhas que ele considerou. Este 15º ano do reinado de Tibério César terá marcado, então, o início da pregação pública de João e a sua angariação de discípulos por toda a Judeia em acordo com o Novo Testamento.



É perspectiva comum que a principal influência na vida de João terá sido o registros que lhe chegaram sobre o profeta Elias. Mesmo a sua forma de vestir com peles de animais e o seu método de exortação nos seus discursos públicos, demonstravam uma admiração pelos métodos antepassados do profeta Elias. Foi muitas vezes chamado de “encarnação de Elias” e o Novo Testamento, pelas palavras de Lucas, refere mesmo que existia uma incidência do Espírito de Elias nas ações de João.

O Discurso principal de João era a respeito da vinda do Messias. Grandemente esperado por todos os judeus, o Messias era a fonte de toda as esperanças deste povo em restaurar a sua dignidade como nação independente. Os judeus defendiam a ideia da sua nacionalidade ter iniciado com Abraão, e que esta atingiria o seu ponto culminar com achegada do Messias. João advertia os judeus e convertia gentios, e isto tornou-o amado por uns e desprezado por outros.



Importante notar que João não introduziu o batismo no conceito judaico, este já era uma cerimonia praticada. A inovação de João terá sido a abertura da cerimonia à conversão dos gentios, causando assim muita polemica.

Numa pequena aldeia de nome “Adão” João pregou a respeito “daquele que viria”, do qual não seria digno nem de apertar as alparcas (as correias das sandálias). Nessa aldeia também, João acusou Herodes e repreendeu-o no seu discurso, por este ter uma ligação com a sua cunhada Herodíades, que era mulher de Filipe, rei da Ituréia e Traconites (irmão de Herodes Antipas I). 

Esta acusação pública chegou aos ouvidos do tetrarca e valeu-lhe a prisão e a pena capital por decapitação alguns meses mais tarde.
João batizava em Pela, quando Jesus se aproximou, na margem do rio Jordão. A síntese bíblica do acontecimento é resumida, mas denota alguns fatores fundamentais no sentimento da experiência de João. 

Nesta altura João encontrava-se no auge das suas pregações. Teria já entre 25 a 30 discípulos e batizava judeus e gentios arrependidos. Neste tempo os judeus acreditavam que Deus castigava não só os iníquos, mas as suas gerações descendentes. Eles acreditavam que apenas um judeu poderia ser o culpado do castigo de toda a nação. 

O baptismo para muitos dos judeus não era o resultado de um arrependimento pessoal. O trabalho de João progredia .
Os relatos Bíblicos contam a história da voz que se ouviu, quando João batizou Jesus, dizendo “este é o Meu filho amado no qual ponho toda a minha complacência . Refere que uma pomba esvoaçou sobre os dois personagens dentro do rio, e relacionam essa ave com uma manifestação do Espírito Santo. Este acontecimento sem qualquer repetição histórica tem servido por base a imensas doutrinas.


O aprisionamento de João ocorreu na Pereia, a mando do Rei Herodes Antipas I no 6º mês do ano 26 d.C.. Ele foi levado para a fortaleza de Macaeros (Maqueronte), onde foi mantido por dez meses até ao dia de sua morte. O motivo desse aprisionamento apontava para a liderança de uma revolução. Herodias, por intermédio de sua filha, tradicionalmente chamada de Salomé, conseguiu coagir o Rei na morte de João, e a sua cabeça foi-lhe entregue numa bandeja de prata.Os discípulos de João trataram do sepultamento do seu corpo e de anunciar a sua morte ao seu primo Jesus.

João era um judeu de educação. Toda a filosofia judaica foi-lhe incutida desde criança. No tempo de João Baptista o povo vivia subjugado à soberania dos chamados gentios havia quase cem anos. A desilusão nacional levantava inúmeras questões a respeito dos ensinamentos de Moisés, do desocupado trono de David e dos pecados da nação.

Era difícil de explicar na religião daquele povo a razão pela qual o trono de David se encontrava vazio. A tendência do povo era justificar os acontecimentos adversos com um provável “pecado nacional”, tal como tinha acontecido anteriormente no cativeiro da Babilônia  e outros mais.



Os judeus acreditavam na previsão de Daniel a respeito do Messias, e consideravam que a chegada desse prometido iniciaria uma nova época – a do Reino do céu. A pregação de João é fortemente influenciada pela antevisão do "Reino dos Céus". E os ouvintes acreditavam que o esperado Messias estaria para chegar e restaurar a soberania do povo que eles definiam como escolhido, e iniciar uma nova época na Terra: a época de justiça.

A pergunta era quando. A fé de todos defendia que seria ainda naquela geração, e João vinha confirmar o credo. A fama da sua pregação era o facto deste pregador ser tão convicto ao anunciar o Messias para breve. Milhares de pessoas, na sua ânsia pela liberdade acreditavam devotamente em João e nas sua admoestações.

Muitos judeus acreditavam que o Reino dos Céus iria ser governado na terra por Deus em via direta. Outros acreditavam que Deus teria um representante – o Messias, que serviria de intermediário entre Deus e os Homens. Os judeus acreditavam que esse reino seria um reino real, e não um reino espiritual como os cristão mais tarde doutrinaram. Foi esse o motivo da negação de Jesus como o Messias, por parte da maioria do povo Judeu.
João pregava que o "Reino de Deus" estaria "ao alcance das mãos" e essa pregação reunia em sua volta centenas de pessoas sedentos de palavras que lhes prometessem que o seu jugo estava próximo do fim.

João escolheu o Vau de Betânia para pregar. Este local de passagem era frequentada por inúmeros viajantes que levavam a mensagem de João a lugares distantes. Isto favoreceu grandemente o espalhar das suas palavras. Quando ele disse "até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão" ele referia-se à 12 pedras que Josué tinha mandado colocar na passagem do rio, simbolizando as doze tribos, na primeira entrada do povo na Terra Prometida.
João era um pregador heroico  Ele falava ao povo expondo os líderes iníquos e as suas transgressões. Quando o assemelhavam a Elias, era porque este tinha o mesmo aspecto rude e admoestador do seu antecessor. João não queria simpatia. Ele pregava a mudança, chamava "raça de víboras" e com o indicador apontado, tal como Elias o tinha feito anteriormente, e isto o categorizou como profeta.

João tinha discípulos. Isto significa que ele ensinava. Ele tinha aprendizes com quem dispensava algum tempo em ensinar. Havia interesse nas suas palavras e filosofia nos seus ensinamentos.

Espaços sagrados na Palestina romana: arqueologia, imperialismo e a multiplicidade ritual no Oriente Médio

*Doutorando cotutela em Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), São Paulo, SP, Brasil e da Universidade de Tel Aviv (TAU), Israel, com período de pesquisa na Universidade de Durham, Reino Unido (2013-2014 - bolsa Bepe-Fapesp). 

Asher Ovadiah e Yehudit Turnheim oferecem um trabalho pioneiro de pesquisa que contribui amplamente para o estudo da arquitetura e da cultura material associada aos lugares de culto em Israel; assim como para a investigação das distintas manifestações daquilo que foi considerado sagrado no período romano e a ocupação das múltiplas topografias na região. Este é o primeiro livro a tratar da arquitetura dos templos erigidos em Israel e da cultura material associada a ocupação dos templos, santuários e témenos no período romano (em seu contexto maior, a parte sul da extensa Província da Síria Romana e suas consequentes transformações). O estado de conservação dos sítios arqueológicos, o número limitado de escavações e a escassez de publicações sobre templos romanos escavados nessa parte do império são obstáculos que limitam a imagem e abrangência do esforço de abordagem feito pelos dois arqueólogos da Universidade de Tel Aviv na tentativa de reconstrução de práticas e lugares de culto em Israel durante esse período. A faixa cronológica dos templos, santuários e témenos discutidos neste livro se estende ao longo de um período que compreende desde o reinado de Herodes até o início da dinastia Dioleciana (primeiro século AEC até terceiro século EC).
Os autores decidiram não separar a discussão entre santuários e templos, e em alguns casos eles são apresentados conjuntamente. Um olhar apurado sobre a lista apresentada na obra mostra claramente quão variado e diferentes entre si são estes complexos. O livro é dividido em duas partes distintas: na primeira, são abordados onze sítios arqueológicos e seus respectivos santuários e templos; na segunda parte, é apresentada uma discussão de treze outros lugares, baseada essencialmente em fontes históricas, literárias, epigráficas e numismáticas, mais do que em vestígios das edificações nos sítios arqueológicos na região. Convém salientar que alguns dos sítios abordados nunca foram escavados, como é o caso da Caverna de Elijah, no Monte Carmelo; e outros sítios arqueológicos escavados não têm até hoje seus resultados completos de escavação publicados. Esse é o caso do santuário de Paneas (Banias), e dos três templos localizados em Citópolis (Beth Shean), que foram escavados há mais de dez anos e ainda aguardam a publicação completa e resultados finais dos trabalhos executados.
Nesse mesmo sentido, os autores apresentaram crítica ao trabalho desenvolvido pela Universidade de Minnesota no templo de Omrit, na Alta Galileia, salientando que até aquele momento nenhum resultado havia sido publicado sobre o sítio. Contudo, durante o mesmo ano de edição do livro aqui resenhado, Andrew Overman e Daniel Schowalter publicaram os resultados preliminares das escavações no templo de Omrit (J. Andrew Overman e Daniel N. Schowalter, The Roman Temple Complex at Horvat Omrit: An interim report, BAR International Series 2205). A crítica de Ovadiah e Turnheim não ficou sem resposta. Dois anos depois, Andrew Overman em resenha para o Journal of Roman Archaeology (2013, vl. 26, p. 877-878) procurou rebater as assertivas analisando o livro dos autores. Por sua vez, Arthur Segal, da Universidade de Haifa, em resenha publicada em 2011 (Roman Temples, Shrines and Temene in Israel, Israel Exploration Journal, v. 61, n. 2, p. 242-246) já havia alertado para a dificuldade que os autores enfrentaram na tentativa de proporcionar uma imagem balanceada do que foi denominado como "Arquitetura do Culto Romano em Israel". Apesar de tais críticas, é preciso salientar que, em função do quadro variado e obstáculos de acesso à informação, Ovadiah e Turnheim chegaram à conclusão de que não é aconselhável, para o momento, estabelecer uma tipologia de construção para as edificações dos templos e santuários romanos em Israel.
Na primeira parte do livro (que corresponde a onze sítios arqueológicos) são abordados: 1 - Paneas-Banias / Cesareia Philippi; 2 - Horvat Omrit; 3 - Templo de Baal Shamin, em Kedesh; 4 - Beth Shean / Citópolis; 5 - Caverna de Elijah, Monte Carmelo; 6 - Dor; 7 - Cesareia Marítima; 8 - Samaria-Sebaste; 9 - Templo de Zeus Hypsistos, Monte Gerizim; 10 - Jerusalem / Aelia Capitolina; 11 - Témenos de Elonei Manre e Me'arat Hamachpelah / Tumba dos Patriarcas, em Hebrom. Já na segunda parte os treze lugares que compõem a obra são apresentados sob o título "Varia". São eles: Keren Naphtali / Khirbet Harrawi; Bethsaida; Hippos / Sussita; Tiberíades; Beset; Acre (Akko) / Ptolemais; Antipátrida (Aphek) / Antipatris; Jaffa / Jope; Beth Guvrin / Eleutheropolis; Ascalon / Askelon; Gaza; e Elusa / Halutza. O Epílogo finaliza o livro e um apêndice sobre as fontes literárias, bem como a reprodução das fotos dos sítios arqueológicos, são providos no final da obra.
Os templos e santuários dedicados a Pan e outros deuses, situado no sopé da caverna de Paneas em Banias, na Alta Galileia, é um local que formou, na Antiguidade, um fascinante complexo religioso. Porém, como referido, poucos resultados das escavações foram publicados em mais de dez anos após o fim das atividades. Nesse sentido, merece destaque o estudo da cerâmica ritual encontrada no sítio. O estudo feito por Andrea Berlin, da Universidade do Minnesota, em The Archaeology of Ritual: The Sanctuary of Pan at Banias/Caesarea Philippiapresenta excelente descrição das possíveis atividades realizadas no local. Nesse contexto de escassez de publicações, a descrição do sítio apresentada por Ovadiah e Tunheim é uma fonte essencial para compreender o espaço, uma vez que tem por base, principalmente, os relatórios preliminares de escavação, além da obra de Zvi Uri Ma'oz, Baniyas in the Graeco-Roman Period: A History Based on the Excavations. No livro é possível encontrar uma análise das fontes escritas, epigráficas e numismáticas relacionadas com o sítio. Os autores procuraram utilizar toda a informação disponível, a fim de proporcionar, na medida do possível, uma imagem objetiva dos templos e santuários descritos nessa obra.
Figura 1 Santuário de Omrit, Alta Galileia (Foto: Marcio Teixeira Bastos) 
No santuário de Omrit, que ainda passa por escavações realizadas pela equipe da Universidade de Minnesota (Macalester College), foram descobertos três templos romanos. O templo mais antigo foi erguido no primeiro século AEC, talvez nos tempos de Herodes. O segundo, que teve um plano tetrastilo períptero, foi construído no final do primeiro século AEC ou início do primeiro século EC, enquanto o terceiro templo, com um plano hexastilo períptero, seria uma expansão de seu antecessor e teria sido construído no decorrer do segundo século EC. Mesmo que a escavação ainda esteja em curso, não há dúvidas de que este sítio é um dos mais impressionantes templos romanos encontrados em Israel. A respeito de Horvat Omrit, os autores inferem que possivelmente o sítio serviu como um claro referencial paisagístico, assim como para propósitos eróticos e orgásticos de culto. Contudo, nada em Omrit parece sustentar essa especulação e mais evidências são necessárias para tal inferência.
As escavações no magnífico templo de Hippos/Sussita e algumas recentes publicações têm consideravelmente impactado o modo como tem sido entendido e abordado o leste do mar da Galileia e as cidades da Decápolis, brevemente abordadas pelos autores no livro. Arthur Segal e uma equipe de pesquisa da Universidade de Haifa têm publicado consistentemente sobre o tema nos últimos anos (SEGAL, Arthur et al. Hippos-Sussita of the Decapolis. The first twelve seasons of excavations 2000-2011. v. I, Haifa: The Zinman Institute of Archaeology, University of Haifa, 2013 ).
Ainda na primeira parte do livro, uma detalhada descrição do Templo de Baal Shamin em Kedesh (escavado por Ovadiah, Fischer e Roll em 1984) é apresentada. Sem dúvida um trabalho de fôlego sobre um templo romano preservado em estado satisfatório (os resultados das escavação desse sítio foram publicados amplamente). A respeito da caverna no Monte Carmelo, o questionamento de Overman sobre a estrutura ali existente é válido: trata-se de templo, santuário ou témenos? Provavelmente nenhuma dessas opções, como Ovadiah e Turnheim afirmam, tendo em vista que não existe evidência da ocupação da caverna em período romano. Assim, as duas páginas sobre esse sítio dependem em maior medida de algumas fontes literárias, notadamente Tácito (Hist. 2.78), que também afirma não haver um templo no lugar, mas considera que a "tradição da Antiguidade" reconhecia no local a presença de um altar e associação sagrada.
Assim, conforme salienta Mircea Eliade em O sagrado e o profano: a essência das religiões, dentro das práticas de consagração dos espaços, a valorização e a desvalorização de locais sagrados organiza uma hierarquização dos lugares e dos territórios. Isto contribui para o fortalecimento e/ou enfraquecimento do referencial de territórios ocupados na composição dos espaços. A seleção e consagração dos lugares depende em maior medida da capacidade que uma dada modalidade do sagrado tem de criar tipos de associação e uma rede de memórias atreladas à irrupção do sagrado naquele determinado contexto. As edificações sagradas e, portanto, os lugares em que elas se encontram, contribuem para a inteligibilidade associativa do que é considerado sacro e do que é considerado profano.
Entre os capítulos VII e VIII, Ovadiah e Turnheim descrevem dois templos erigidos sob a patronagem de Herodes durante o primeiro século AEC em honra e culto ao imperador Augusto. Estes são o Augusteum de Cesareia Marítima e o Augusteum de Samaria-Sebaste. Contudo, as publicações sobre Cesareia Marítima são mais consistentes para os estudiosos que procuram aprofundar o entendimento a respeito do sítio (ver HOLUM, Kenneth et al. Caesarea reports and studies: excavations 1995-2007. Oxford: Archaeopress, 2008 e PATRICH, Joseph. Studies in the archaeology and history of Caesarea Maritima. Leiden; Boston: Brill, 2011). Apesar dos poucos itens de decoração arquitetônica desenterrados e dos comprometidos segmentos das paredes das fundações do templo, o esforço de pesquisa dos autores proporciona uma imagem crível do santuário, construído sobre uma plataforma artificial na costa do Mediterrâneo, a alguns metros do porto da cidade (nominado de Sebastos). Melhor preservado estava o Augusteum em Samaria-Sebaste, localizado no ponto mais alto da cidade, como parte de outro magnífico santuário. Embora escavado na primeira metade do século XX por equipes norte-americanas e britânicas, as pesquisas estão ainda em desacordo a respeito dos estágios de construção e do plano do templo (REISNER, George Andrew; FISHER, Clarence Stanley; LYON, David Gordon. Harvard Excavations at Samaria, 1980-1910. Cambridge: Harvard University Press, 1924, 2v.; CROWFOOT, John Winter; KENYON, Kathleen Mary; SUKENIK, Eleazar Lipa. The Buildings at Samaria I. London, Palestine Exploration Fund, 1942; Netzer, E. The Augusteum at Samaria-Sebaste: A New Outlook. Eretz-Israel, v. 19, 1987, p. 97-105). O livro de Ovadiah e Turnheim oferece aqui um excelente material comparativo e elucidativo para compreender a questão.
Pouco restou do templo de Zeus Hypsistos, escavado em Tell er-Ras em Monte Gerizim. Entretanto, a escavação e a riqueza de informações numismáticas e das fontes históricas permitiram uma reconstrução dos planos do santuário e do templo (MAGEN, Yitzhak. Mount Gerizim; MAGEN, Yitzhak. Flavia-Neapolis, Shekhem in the Roman Period. Jerusalém: Israel Exploration Society, 2005). O templo teria um plano tetrastilo períptero, com o santuário retangular construído em dois níveis. Esse templo contava com uma via de procissão (a via sacra) que consistia basicamente em uma longa escada sobre a íngreme encosta da montanha conduzindo diretamente ao santuário no topo do monte. A via sacra ramificava-se a partir da principal via colunata da cidade. No que diz respeito aos quatro templos erigidos em Jerusalém, após ser refundada e renomeada como Élia Capitolina (Aelia Capitolina) em 130 EC, estes lugares foram dedicados às divindades de Zeus/Júpiter, Aphrodite/Venus, Asclepius/Serapis e Tyche/Fortuna, respectivamente. A informação sobre estes templos deriva essencialmente de fontes históricas, literárias e numismáticas, uma vez que pouquíssimos vestígios arqueológicos restaram destas edificações, em grande medida devido ao processo de cristianização da Palestina a partir do quarto século EC. Nesse sentido, assim como a Caverna de Elijah, no Monte Carmelo, seria mais apropriado alocar estes lugares na segunda parte do livro.
A primeira parte do livro encerra-se com a discussão dos dois témenos encontrados nas imediações de Hebron: o témenos de Elonei Mamre e o de Me'arat Hamachpelah (Tumba dos Patriarcas). As edificações foram construídas no final do primeiro século EC, ao que parece no mesmo período em que foram construídos o Augusteum de Cesareia Marítima (e também o de Samaria-Sebaste). Porém, não existe uma relação objetiva entre estas edificações. Os témenos claramente possuem inspiração Oriental e consistem em duas praças retangulares abertas, formada por paredes com sólidos blocos de rocha. Nestes espaços reuniam-se os participantes das cerimônias comunais e ritualísticas. Novamente se torna pertinente a pergunta: como podemos diferenciar estas estruturas? Basicamente, a origem de témenos está associada à escrita micênica Linear B e seu conceito surge associado a um terreno delimitado e consagrado a um deus, portanto, excluído dos usos seculares. O conceito também pode aplicar-se ao topos do bosque sagrado, ou, de modo genérico, à sacralização de uma dada paisagem (Carl Jung em Psicologia y alquimia associa o termo ao conceito do circulo mágico, que atua como um espécie de "lugar seguro", onde se pode "trabalhar" mentalmente). Contudo, o sentido atribuído a témenos pelos autores está ligado a uma porção de terra em um domínio oficial, especialmente separada para um basileo(soberano) ou anax (rei supremo). Cabe dizer que tal definição necessitaria estar mais evidente no texto.
Muito foi feito em relação ao estudo dos sítios arqueológicos na transição do período Helenístico para o período romano na região e um número cada vez mais elevado de publicações pode ser consultado pelos estudiosos que se dedicam a este amplo e importante tópico de pesquisa. Bem como todos os que pretendem aprofundar seus conhecimentos no tema. Dessa forma, o livro de Ovadiah e Ternheim fornece uma abordagem holística singular sobre o tema que habilita os estudiosos a traçar seus próprios caminhos de pesquisa. No entanto, entre os importantes sítios não contemplados neste livro, merece menção Sepphoris-Zippori, escavado por Zeev Weiss da Universidade Hebraica de Jerusalém, e a publicação do templo romano From Roman temple to Byzantine church: a preliminar report on Sepphoris in transition.
Na segunda parte do livro, treze lugares são abordados de maneira concisa. Embora breves, todas as descrições são baseadas em evidências históricas, epigráficas e numismáticas, com suas respectivas correspondências nos vestígios das edificações, quando presentes. O livro termina com um epílogo. A importância desta breve conclusão, de apenas seis páginas, reside principalmente na análise dos diferentes tipos de fontes empregadas pelos autores na pesquisa. São listados os nomes das dezoito divindades às quais os santuários e templos foram dedicados em Israel e a bibliografia é acompanhada na sequência pela organização de pranchas com ilustrações dos sítios arqueológicos abordados.
Ao final desta resenha é importante relembrar uma das observações presente no prefácio do livro: os sítios da região passaram por profundas modificações materiais ao longo dos séculos. De fato, a deterioração dos templos e santuários pela erosão e outros agentes naturais (entre os quais terremotos que atingiram a região), e a destruição causada por roubo e pilhagem na Antiguidade, bem como o surgimento e o crescimento do cristianismo, são fatores capitais de mudança. A paisagem da Palestina foi radicalmente transformada com a ascensão do cristianismo no Oriente, apropriando sítios, destruindo e reconstruindo templos e santuários, promovendo, assim, a ressacralização dos lugares. Alguns destes complexos religiosos foram deliberadamente "esquecidos" e/ou destruídos na Antiguidade Tardia (quinto e sexto séculos EC) por ordem das autoridades cristãs e imperadores bizantinos, ou convertidos em igrejas e monastérios. Outros tantos foram demolidos pelas gerações posteriores, ou passaram por distintos processos pós-deposicionais (desastres naturais, incêndios, conquistas etc.). Como afirmou Lucrecio, uma faísca aqui e outra ali provoca um incêndio generalizado.
O número residual de templos romanos sobreviventes em Israel é muito pequeno se comparado à evidência e à preservação dos templos no Líbano, Jordânia e na Síria. A razão para esta discrepância parece ser evidente: as montanhas pouco povoadas e de difícil acesso do Líbano, o tamanho e a distância destas áreas na Síria e Jordânia, além da perda do controle da região durante a Idade Média. No entanto, as fontes literárias, as analogias arqueológico-arquitetônicas e as evidências circunstanciais, fornecem informações suficientes para a compreensão dos contextos e das transformações ocorridas na Antiguidade nessa região. As percepções culturais evidenciadas nestes lugares sagrados e os complexos religiosos do período romano em Israel demonstram como o imperialismo romano atuou eficazmente através da religião e como a veneração e adoração de muitas e variadas divindades dos panteões orientais e greco-romanos foram combinadas e consubstanciadas, fomentando a multiplicidade ritual do período. Além disso, é permitido supor que estes sítios arqueológicos, templos e santuários, demonstram não somente a realidade arquitetônica, mas também a atmosfera religiosa-cultual do período.
Entretanto, não é possível encerrar essa resenha a respeito dos templos romanos em Israel sem a profunda lástima sobre a destruição dos templos de Baal-Shamin (convertido em igreja no quinto século EC) e Baal (Bel) em Palmyra. Assim como sobre o descalabro que foi acometido o arqueólogo sírio Khaled al-Asaad da Universidade de Damasco, brutalmente assasinado pelo extremismo monoteísta islâmico do grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) ou Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS). O mundo contemporâneo testemunha mais uma onda de destruição de sítios arqueológicos, considerados Patrimônio da Humanidade, e a supressão intencional da memória coletiva. E assim, assistimos mais uma versão escabrosa de extremismo monoteísta e fundamentalismo religioso, que insiste em não saber conviver com a multiplicidade ritual presente em todas as sociedades do globo. Quando o objetivo de um grupo social atenta contra a vida e a memória dos povos, é nesse momento que se tornam mais significativas as palavras de Peter Burke: a função do Historiador (e essencialmente do Arqueólogo) é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer.


Palestina - Qumran - História das escavações

As escavações começaram em 1947 com uma expedição conjunta composta pelas instituições Jordan Department of Antiquities, Palestine Archeological Museum e L’École Archéologicque Française of Jerusalem. O sítio, de aproximadamente 1 km (6 milhas), foi escavado sob os mesmos auspícios durante cinco sucessivas campanhas, de 1951 a 1956. A última compreendeu a região situada entre Qumran e a fonte de Ein Feshkha, 3km ao sul. Perto daí, foi encontrado um complexo de edifícios, escavado em 1958. Uma segunda caverna contendo rolos foi descoberta por beduínos em l952, com acompanhamento das instituições acima, junto agora com a American Scholl of Oriental Research, para a exploração de todo o penhasco. Durante esta campanha foi encontrada a caverna 3, onde estava o Rolo de Cobre. Em 1952 também foi achada a caverna 4 no planalto argiloso, onde também foi encontrada a de nº 5. A caverna 6, fonte de fragmentos de rolos comprados dos beduínos, foi localizada na entrada para o Wadi Qumran. Durante a expedição de l955, as cavernas 7-10 foram descobertas no canto (olhando de cima) do platô de Wadi Qumran, ao sul. Arqueólogos descobriram a caverna 11, na última sessão de escavações.
Períodos de ocupação
Situada sobre o contraforte do planalto, limitado ao sul pelo Wadi Qumran e ao norte e oeste por um desfiladeiro (garganta). Durante cinco expedições arqueológicas, foi escavado um complexo de edifícios, com extensão de 80m leste-oeste e 100m norte-sul. Alguns períodos de ocupação podem ser apontados:
Ferro: o mais antigo assentamento data do período israelita. Várias paredes, re-usadas nas últimas fases, pertenceram a um edifício retangular, na frente do qual havia um pátio com uma grande cisterna redonda. Seu aspecto parece aquelas das fortalezas israelitas do deserto de Judá e do Neguebe. A cerâmica associada a essas estruturas varia do oitavo ao começo do sexto século a.C. Essa data é confirmada por um ostracon com caracteres hebraicos antigos, atribuídos ao período imediatamente anterior ao exílio babilônico. As instalações foram destruídas durante a queda do reino de Judá. Provavelmente pode ser associada com ‘ir há-melah (cidade do sal), uma das seis cidades listadas em Josué 15,61-62 e situada no deserto.
Fase I-a - Depois de muitos séculos de abandono, Qumran foi ocupada novamente, em data difícil de precisar. Os edifícios, em sua maior parte, sofreram adições. Duas novas cisternas foram cavadas, próximas à que havia. O escasso material cerâmico não permite identificação com o período seguinte nem havia moedas. Já que os edifícios da fase I-b foram aparentemente construídos no tempo de João Hircano (134-104 aC), a fase I-a, de pouca duração, pode possivelmente ter começado durante o reinado de Hircano ou, mais provavelmente, durante o reino de um de seus imediatos predecessores - seu irmão Simeão (142-134) ou seu tio Jônatas (152-142).
Fase I-b - Nesse período, as construções foram mais alargadas e tomaram mais ou menos a sua forma final. Elas consistem de um edifício principal com uma torre, um pátio central, salas para uso comum, uma sala para reuniões que servia também como refeitório e uma despensa, onde foram encontrados milhares de vasos (pequenas jarras, pratos, bacias e tigelas). No lado sudoeste havia uma oficina de cerâmica com uma bacia para lavagem da argila, um depósito cavado no chão, um lugar para o movimento giratório das peças cerâmicas e dois fornos. Um outro edifício, situado a oeste, consistia de um pátio cercado por despensas. Entre os dois edifícios havia três cisternas da fase I-a e oficinas. Outras cisternas e dois banheiros foram construídos nas proximidades. Ao norte deste complexo havia um grande e emparedado pátio e ao sul uma esplanada que se estendia ao Wadi Qumran. Ao redor dos edifícios os escavadores encontraram ossos de animais, principalmente ovelhas e cabras mas também vacas e bezerros. A cerâmica desta fase data do fim do período helenístico. As moedas permitem uma datação mais precisa para seu começo. É certo que os edifícios foram ocupados durante o período de Alexandre Janeu (103-76 aC) e podem ter sido construídos antes, sob João Hircano. O fim desta fase é marcado por dois episódios catastróficos: um terremoto, que destruiu duas cisternas, a torre e o edifício principal, a despensa e a sala de reuniões e a extremidade do segundo edifício; e um incêndio, que deixou uma grossa camada nas áreas abertas próximas dos edifícios: parece que o terremoto destruiu os edifícios ocupados que então foram alcançados pelo fogo dos fornos. O sítio foi abandonado na fase I-b. Os edifícios não foram imediatamente reconstruídos nem o sistema de água restaurado. Reparos foram feitos na fase II.
Fase II - O lugar foi abandonado por um breve período e foi novamente ocupado pela mesma comunidade. A configuração geral e a função dos principais edifícios foram mantidas. As refeições, talvez rituais, continuaram a ser praticadas; as salas foram limpas dos entulhos, sendo que algumas delas e duas cisternas foram encontradas fora de uso; as estruturas mais comprometidas foram reforçadas. Uma grande sala com cinco fogões (fornos) era, aparentemente, a cozinha. A oficina de cerâmica continuava em uso; duas outras oficinas entre os edifícios principais são de natureza indeterminada; nas proximidades havia um moinho e um forno. Em uma das salas do edifício principal foram encontradas três mesas (uma grande e duas pequenas), feitas de tijolo; também foram encontrados um banco baixo ao longo das paredes e tinteiros, encobertos por entulhos; isso sugere - para quem para quem pensa que Qumran seja uma espécie de convento - que a sala pode ter sido um scriptorium, no qual os escribas e copistas trabalhavam. Uma grande quantidade de peças cerâmicas foi encontrada na fase II, exceto certas formas especiais de tipo que se originaram na fase I-b, e continuado na fase seguinte como resultado de uma tradição local de trabalho. Fora isso, a cerâmica é virtualmente a do primeiro século d.C., encontrada em tumbas judaicas de Jerusalém e nas escavações da Jericó herodiana. O começo e o fim desta fase podem ser fixados por moedas e por fontes históricas. Depois do terremoto de 31aC, os edifícios foram retomados por Herodes Arquelau, provavelmente entre 4-1 aC. Qumran foi destruída durante a guerra em junho do ano 68 dC quando, de acordo com Josefo, o exército romano ocupou Jericó e Vespasiano visitou o Mar Morto. As moedas descobertas confirmam a data (as últimas da fase II são quatro moedas judaicas do ano três da guerra judaica, em contraste com 68 moedas do ano dois).
Fase III - A guarnição romana estacionada no sítio foi responsável por mudanças radicais encontradas nesta fase. Somente parte das ruínas foram restauradas para uso dos ocupantes; algumas pequenas salas foram construídas ao acaso; foi utilizada somente uma das numerosas cisternas, com simplificação do sistema de água. A cerâmica, escassa, é similar à encontrada em outros sítios do século primeiro dC, sendo que a típica de Qumran estava ausente. As moedas também são menos numerosas e as últimas, que indubitavelmente pertencem a esta ocupação, datam de 72-73 dC. Parece que a guarnição romana se retirou imediatamente depois da queda de Massada, em 73.
A área de Qumran
Os penhascos que dominam Qumran abrigam muitas cavernas naturais. Em 1952 foram encontradas 26 cavernas ou fendas contendo cerâmica idêntica à de Qumran. Essas cavernas foram usadas pelas pessoas que lá habitavam durante as fases I-b e II. Algumas eram apropriadas para abrigo enquanto outras serviam somente como despensas ou como esconderijos para aqueles que viviam em barracas ou tendas nas redondezas. De fato, uma dessas fendas foi encontrada contendo uma barraca. As cavernas da plataforma não são naturais e foram cavadas para formarem habitações. Encontraram-se, ao norte e ao sul do platô de Qumran, dois pequenos cemitérios, nos quais homens, mulheres e crianças foram sepultados. O número de pessoas que lá viviam ou nas cavernas próximas e que participavam das atividades de Qumran, durante o período mais populoso chega a 200. Essas pessoas ganhavam a vida de várias ocupações (como as indicadas pelas oficinas), criação de gado, cultivo de agricultura adequada ao solo árido da região. Entre Qumram e Ein Feshka, três quilômetros ao sul, o litoral plano era irrigado por meio de pequenas fontes, onde até hoje a água de pouco teor de sal facilita o cultivo de cana/junco e arbustos. O sal e o asfalto do Mar Morto provavelmente contribuíram para que os habitantes locais tivessem ocupação adicional. Os recursos naturais da região foram explorados desde a Idade do Ferro. Ruínas de um edifício foram encontradas sob as escavações de Qumran; ele pode datar do nono século aC. Depois de breve ocupação ele foi abandonado quando os ocupantes se mudaram para o platô de Qumran, que oferecia clima mais favorável e melhor posição defensiva. O muro que protegia a área irrigada e cultivada data do mesmo período, que continuou a ser usado. Perto dele foi descoberta uma estrutura quadrática na qual havia cerâmica contemporânea à de Qumran. Essa estrutura foi evidentemente uma proteção (torre) ou um edifício onde trabalhos agrícolas eram feitos dentro da proteção do muro.
Qumran – sede de um grupo religioso?
A área foi habitada várias vezes, começando com os edifícios israelitas da Cidade do Sal até as construções bizantinas em Ein Feshka. A mais importante ocupação se estende da segunda metade do segundo século aC até o ano 68 dC, da qual temos traços nas cavernas dos penhascos e do platô dos edifícios de Qumran e Ein Feshka; o povo que vivia nas cavernas e nas barracas próximas se reunia em Qumran para o cultivo de suas atividades comunitárias. Eles trabalhavam nas oficinas de Qumran (ou em atividades agrícolas em Ein Feshka) e seus corpos eram enterrados em um dos dois cemitérios que lá havia. Este era um grupo altamente organizada, a julgar pelo planejamento dos edifícios que construíram, pelo sistema de abastecimento de água e por outras facilidades comuns e ainda pelo ordenado arranjo das sepulturas no cemitério maior. O especial método de sepultamento, a grande sala de reuniões e de refeições e os restos de utensílios nelas utilizados que foram meticulosamente enterrados - isso indica que a comunidade tinha um caráter religioso e praticava seus próprios e peculiares ritos e cerimônias. Os rolos descobertos confirmam estas conclusões e fornecem informações adicionais. A evidência arqueológica mostra que os rolos pertenciam à comunidade religiosa que ocupou as cavernas e os edifícios de Qumran. Esses rolos são o que sobrou de sua livraria, cujos trabalhos descreviam a organização da comunidade e as leis que governavam seus membros. As descobertas arqueológicas são interpretadas no contexto dessa vida em comunidade. Alguns rolos contêm alusões à história desse grupo religioso, que se separou do judaísmo oficial de Jerusalém para uma existência no deserto, absorvida em orações e trabalho, enquanto esperava o Messias.
Controvérsia
A interpretação dessas referências históricas tem sido objeto de muito debate entre os especialistas. Uma resposta decisiva ou conciliadora não pode ser esperada dos achados arqueológicos, pelo menos por ora. Elas apenas ajudam a reforçar a hipótese de que a comunidade floresceu na costa do Mar Morto, da segunda metade do segundo século aC até 68 dC e que os eventos descritos nos manuscritos ocorreram em Qunran durante esse período. A filiação religiosa da comunidade também tem sido objeto de controvérsia. Muitos especialistas consideram que a comunidade teve, de qualquer forma, contato com os essênios. Plínio relata que eles moravam em isolamento na região de En-Gedi. Há somente um sítio que corresponde à descrição acima: o platô de Qumran. Os essênios de Plínio, então, foram a comunidade religiosa de Qumran-Feshka.
Mais controvérsias
Os seguintes comentários tornam-se indispensáveis, por mais superficiais que possam parecer. Isso porque as considerações acima expostas foram extraídas de fontes escritas por Roland de Vaux, arqueólogo responsável pelas primeiras escavações de Qumran e partidário da tese de que foram essênios os seus habitantes. Todo o trabalho posterior de investigação arqueológica e histórica partiu desse pressuposto. Contudo, mais recentemente começaram a surgir novas e corajosas vozes contrárias que não podem ser silenciadas neste despretensioso trabalho introdutório. Uma delas pertence a um qumranólogo respeitado: Norman Golb . Este erudito estudioso apresenta uma análise serena - mas convincente - em que questiona o “dogma” tradicional segundo o qual Qumran foi sede de uma comunidade religiosa identificada como sendo a dos essênios; aponta as motivações políticas e ideológicas que sustentam tal princípio; analisa o conteúdo dos principais manuscritos encontrados nas grutas de Qumran; por fim, apresenta argumentos científicos, dificilmente irrefutáveis, na defesa de novas luzes na abordagem da questão. No começo dos anos noventa uma equipe de arqueólogos da Universidade Hebraica de Jerusalém escavou um sítio localizado a três quilômetros ao norte de Cesaréia marítima, chamado Horvat ‘Eleq, na serra conhecida pelo nome de Ramat Hanavit. Concluiu-se que o sítio era uma verdadeira “praça fortificada”, como as mencionadas por Josefo e pelos livros dos Macabeus. O chefe da equipe, Yizhar Hirschfeld, registra que os asmoneus construíram dezenas de fortificações por toda a Judéia, não só para proteção da população, mas também para controle das vias de transporte e manutenção da ordem. O que surpreende nisso tudo é que há muitas semelhanças entre Horvat ‘Eleq e Qumran, como a torre, complexos habitacionais a ela ligados, sistema de abastecimento de água, além de uma piscina e uma casa de banhos. Hirschfeld enviou uma correspondência a Golb, em 1995, na qual registra o seguinte: “...a semelhança arqueológica entre os dois sítios é inegável. Ambos apresentam uma [torre de] fortaleza equipada com depósitos subterrâneos e com uma parede frontal de pedra (proteichisma), e ambos os complexos habitacionais foram encontrados nas proximidades da torre... Também em Qumran havia dois complexos habitacionais, um de cada lado da torre... Um estudo comparativo das descobertas arquiológicas demonstra que Ramat ha-Nadiv e Qumran não eram os únicos fortes rurais da Palestina..., mas podem ser incluídos entre uma série de outras... fortalezas do período do segundo templo descobertas na área rural, tais como as que foram encontradas em ‘Ein et Turabeh perto de Qumran, em ‘Ein Guedi, em ‘Arad, em ‘Aroer, nas colinas de Hebron e no norte da Palestina, em Sha’ar ha-’Amaqim e Horvat Teffen.” Essa admissão não foi suficiente para que houvesse uma mudança no quadro dos estudos de Qumran, pois tornavam-se evidentes os traços de semelhança entre os dois sítios e a finalidade militar de cada uma delas. Portanto, Qumran é uma das tantas fortalezas da Judéia e nada prova que os ocupantes dessa fortaleza teriam qualquer relação com os manuscritos descobertos nas cavernas. Justamente neste ponto da discussão residem problemas, que foram classificados por Golb como um “conflito básico no mundo acadêmico”, relativamente, é claro, à qumranologia: “um conflito, a saber, entre as forças que guardam a santidade de um corpus de conhecimento acadêmico convencional e de seus criadores e aqueles que estão decididos a examinar as implicações dos novos conjuntos de evidências que contradizem e, portanto, ameaçam essa santidade” . Golb chama a atenção para um sério problema do mundo acadêmico, quando questiona valores do mundo do saber. E, no caso, as discussões devem ser vistas como um assunto específico do hebraísmo ou devem ser analisada sob o ponto de vista das condições de investigação e produção científicas? Parece que pode ser sentida uma certa suspeição na evolução dos acontecimentos no que diz respeito à investigação arqueológica e divulgação dos resultados das pesquisas de Qumran. Imediatamente após as descobertas dos manuscritos, houve as primeiras tentativas de associá-los ao essenismo, sem que investigações acuradas tivessem sido levadas a cabo, para conclusões mais seguras. Sem que as escavações tivessem começado! O padre de Vaux e sua equipe escavaram o sítio e publicaram textos em que foi veiculada a interpretação tradicional, geralmente aceita, até que em 1967 foram afixadas placas em Qumran, com a descrição, agora oficial, da associação do sítio com os essênios: a teoria virou verdade nos livros de história, de teologia, nas enciclopédias... a ponto de serem rejeitadas críticas isoladas ao oficialmente prescrito. Acontece que aos poucos houve uma queda na ênfase com que era defendida essa avaliação; a partir dos anos setenta houve diminuição de publicações especializadas, embora os estudiosos tivessem aos poucos adquirido maiores informações sobre o conteúdo dos rolos. Nos anos oitenta um especialista de Oxford passa a integrar a equipe editorial oficial e começam a surgir oportunidades para propostas diferentes da tradicional; questiona-se igualmente a autenticidade do Rolo de Cobre e outros conteúdos relacionados à questão. Com isso, passa a sofrer abalos em sua credibilidade a opinião então aceita e começam a aparecer conflitos de interpretação e de idéias sobre os rolos e sobre a natureza e a finalidade do complexo de Qumran. Como era de se esperar, resistências houve e há, principalmente em Israel. Apesar disso, o jornal diário Haaretz publicou, em abril de 1995, um artigo crítico de Norman Golb que, a partir daí, começou a proferir palestras em Israel, quando teve oportunidade de divulgar suas idéias e fomentar um diálogo com especialistas e representantes da corrente contrária. Há um declínio da tese que associa os manuscritos com os essênios; a questão ainda não chegou a um consenso entre os especialistas. Sobre isso, assim se manifesta Roberta L. Harris: “...quase cinqüenta anos após a descoberta dos primeiros rolos, ainda não existe um consenso com respeito à identidade da comunidade de Qumran, ao caráter das edificações do sítio, à natureza das crenças daqueles que escreveram os rolos ou à relação que eles tinham com o cristianismo, se é que de fato tinham alguma” . Vale a pena transcrever o que a respeito registra outro especialista, na revista Time, em 1995. O trecho sintetiza com propriedade a mudança de postura verificada na evolução do tratamento da questão e faz referência às tendências do estágio atual: “...os estudiosos a princípio pensavam que os Manuscritos do Mar Morto, com as suas intrigantes referências à iminente vinda de um messias, representavam os idiossincráticos dogmas de uma seita periférica de ascetas judeus conhecida como a seita dos essênios. No entanto, especialistas agora acreditam que os textos, que incluem fragmentos de códigos legais, oráculos e outros gêneros literários, refletem crenças amplamente difundidas no judaísmo do século I. A Terra Santa dos tempos de Jesus, mostram os rolos, pululava de fervor apocalíptico.”
Bibliografia
AVI-YONAH, Micahel e STERN, Ephraim (editores), Encyclopedia of Archaeological Excavations in the Holy Land, Jerusalem, Massada Press, 1978
Biblical Archaelogical Review, janeiro/fevereiro, 1998
GOLB, Norman, Quem escreveu os manuscritos do Mar Morto?, Rio de Janeiro, Imago, 1996

HISTÓRIA DA PALESTINA - A TERRA PROMETIDA

MAPA DA PALESTINA NOS TEMPOS DE JESUS

CANAÃ A TERRA PROMETIDA

A Palestina, ou terra de Canaã, também é um símbolo teológico significativo no Antigo testamento. Esse território era o componente principal da promessa inicial de Deus a Abraão (Gn 12.1-3) e o objetivo ou destino das narrativas do Pentateuco. O êxodo do Egito foi o livramento divino com o propósito de levar os israelitas a "uma terra boa e vasta, onde há leite e mel com fartura" (Ex 3.8). Canaã era a meta da obediência à aliança de Javé e a recompensa pela manutenção das estipulações da aliança.


PALESTINA - ONDE SITUA-SE

A região da Palestina recebeu este nome por causa dos filisteus (Pelishtim), que se instalaram ao longo da costa do Mediterrâneo de Jope a Gaza por volta de 1300-1200 a.C. Segundo a Bíblia, o povo filisteu estava ligado a Cafror, geralmente associado à ilha de Creta (Jr 47.4; Am 9.7). Antes das migrações filistéias, a região chamava-se Canaã. Esse termo significa "terra púrpura" e, provavelmente, originou-se da tintura produzida por moluscos muricídeos encontrados em abundância ao longo da costa.

A Palestina é geralmente considerada o centro geográfico e teológico do mundo antigo. Situava-se no cruzamento de rotas comerciais importantes da Antiguidade, a "terra entre" os continentes da África, Ásia e Europa. Também foi nessa área que o judaísmo, o cristianismo e o islamismo se originaram. A região tem aproximadamente 240 km de extensão de Dã a Berseba (norte-sul), e 160 km do rio Jordão ao Mediterrâneo (leste-oeste), área equivalente ao Estado de Sergipe. O clima é típico do Oriente mèdio, com inverno, cujo clima varia de ameno a frio; e isso de acordo com a altitude. Normalmente cai um pouco de neve nas maiores elevações. A estação chuvosa vai de outubro a abril e os meses quantes e secos de verão vão de maio a agosto.

A terra divide-se claramente em quatro regiões longitudinais, ou norte-sul: a planície costeira, as colinas centrais, o vale do Jordão e o planalto da Transjordânia (Dt 1-6-8). As principais divisões geográficas latiduniais ou leste-oeste da Palestina, estão relacionadas a características do terreno e limites políticos do reino israelita dividido. Essas divisões incluíam a região da Galiléia ao norte. 

Samaria no centro-norte da Palestina, Judá na porção centro-sul, o Neguebe ao sul, e a península do Sinai formando uma grande barreira natural entre a Palestina e o Egito.

A IMPORTÂNCIA DO VALE DO JORDÃO PARA A PALESTINA

O vale do Jordão é uma grande depressão geológica que começa na Síria, nas montanhas do Líbano, e corre para o sul até o golfo de Ácaba e o mar Vermelho. O vale do Jordão, que forma o limite oriental da Palestina, também faz parte da depressão recortada.


O rio Jordão origina-se nas encostas mais baixas do monte Hermom e é formado por três ribeiros de nascente. O Jordão flui ao sul do Hermom até o lago e pântano de Hulé e depois cai rapidamente 300m, desaguando no mar da Galiléia. Este lago de água doce fica a mais de 200m abaixo do nível do mar e é cercado por colinas. O lago em sí tem 20km de largura e 11km de comprimento. Em seguida, o rio flui sinuosamente ao sul até o grande mar Salgado ou Morto, mais de 400m abaixo do nível do mar - o ponta mais baixo do planeta.

Foz do Jordão no Mar da Galiléia

Na antiguidade, a região ao redor do mar da Galiléia era densamente povoada e intensamente cultivada por meio de irrigação. Mais ao sul, o vale do rio estreitava-se e ficava coberto de vegetação densa, habitação de animais selvagens nos tempos do Antigo Testamento (Jr 49.19; 50.44; Zc 11;3). A extremidade sul do vale fluvial era, em grande parte, despovoada, exceto onde o rio Jaboque desaguava no Jordão e no oásis de Jericó. Ladeado por montes de argila escorregadia e mata fechada, o vale do Jordão ainda é uma barreira natural entre a Palestina e o planalto da Transjordânia.


O mar Morto não tem meio de vazão natural, e suas águas ricas em minerais possuem teor salino de 30%. Os desfiladeiros de calcário circundantes da margem ocidental do mar são repletos de cavernas que servem de esconderijos para bandidos, foragidos políticos e seitas religiosas. 
Entre as cavernas desta paisagem erodida foram encontrados os famosos manuscritos do mar Morto ou de Cunrã. Ao sul do mar Morto, o vale de Arabá estende-se por cerca de 160km até o golfo de Ácaba.



AS ROTAS COMERCIAIS

O profeta Ezequial descreveu o comércio fenício no primeiro milênio a.C., confirmando a localização estratégica da região siro-palestina (Ez 27.12-36). Como ligação terrestre entre África e Eurásia, a Palestina desempenhava papel importante no comércio internacional já no terceiro milênio a.C.


Havia duas grandes rotas internacionais que ligavam a Mesopotâmia e o Egito através da Palestina. Ambas eram rotas antigas, originárias da Idade do Bronze Antigo (3000-2100 a.C.). Uma se chamava "caminho do mar". A rota começava em Cantir (Cantara) no delta leste do baixo Egito, atravessava o norte da península do Sinai, rumava ao norte pela costa do Neguebe e da Judéia e depois se desviava para o interior por Megido até a planície de Bete-Seã. Ali a estrada se dividia, uma artéria indo para oeste pela margem do mar da Galiléia até Dã e Damasco, e a outra seguia para o sudeste, ligando a Babilônia a Ur dos Caldeus.


A segunda rota comercial importante chamava-se "estrada dos reis". Ela também ligava a Babilônia ao Egito, atravessando o Sinai por Cades-Barnéia e continuando até o Neguebe por Edom. A estrada corria ao norte através de Moabe, Amom e Gileade até Damasco e dali até a Mesopotâmia. O rei Jorão chama a parte sul dessa rota de "caminho do deserto de Edom" (2Rs 3.8, ARA). 


Estradas secundárias que saíam da "estrada do rei" incluíam uma rota de Cades-Barnéia a Elate (possivelmente o "caminho que vai para mar Vermelho", em Nm 14.25) e outra para Elate, partindo de Bosra, mencionada na batalha que os reis de Sodoma e Gomorra travaram com Quedorlaomer (Gn 14.5,6).

A rota menos importante começava em Elate, estendia-se à Babilônia pelo deserto da Arábia com paradas em Dumá e Temá. Também havia uma estrada de Dumá para Damasco, ao norte. Além disso, 23 vias regionais ou locias cruzavam a Palestina dos tempos bíblicos.
PONTOS IMPORTANTES DA PALESTINA


GALILÉIA
O termo vem do hebraico, que significa “circuito”, “distrito”, “região”. Está situada na região do norte de Israel situada entre o mar Mediterrâneo e o vale de Jezreel. É uma região de colinas, entre eles o célebre monte Tabor, local em que segundo os Evangelhos, ocorreu a transfiguração de Jesus Cristo.

Nos tempos de Cristo a região incluía a parte setentrional da Palestina, a oeste do Jordão e ao norte de Samaria. Dividia-se em Alta e Baixa Galiléia. Os galileus usavam um dialeto e uma pronúncia peculiares. Nas Escrituras o termo “Galileu”, foi usado durante o processo de Jesus, bem como na boca de uma criada do Sumo Sacerdote. Tudo indica que levava tom de desprezo na observação que as pessoas faziam a Pedro na mesma ocasião: “Verdadeiramente, és um deles, porque também tu és Galileu” (Marcos 14.70).


SAMARIA

Capital do reino do norte de Israel, estava localizada sobre uma colina de 91 metros de altura, a 67 quilômetros ao norte de Jerusalém.

À época da invasão da terra por parte dos israelitas esta região era habitada pelos farizeus. Couberam como herança as tribos de Efraim, Issacar e Benjamim. Com a divisão do reino entre Roboão e Jeroboão, a faixa de terra que se estendia desde Betel até Dã, e desde o mar Mediterrâneo até a Síria e Amom, ficou conhecida como província de Samaria. Essa área de terra foi primeiramente ocupada pelas dez tribos de Jeroboão. 

Esse território foi diminuídos pelas conquistas de Hazael, rei da Síria, conforme relato bíblico: “Naquelas dias começou o Senhor a diminuir os limites de Israel, que foi ferido por Hazael em todas as suas fronteiras, desde o Jordão para o nascente do sol, toda terra de Gileade, os gaditas, os rubenitas e os manassitas, desde Aroer, que estão junto ao vale de Amom a saber Gileade e Basã” (2 Reis 10.32). Depois foi a vez de Pul e Tiglate-Pileser diminuírem a extensão da província (2 Reis 15.29) e finalmente pelas vitórias de Salmanaser, que “passou por toda a terra, subiu a Samaria e a sitiou por três anos” (2 Reis 17.5-6). Depois deste último, Samaria ficou em completa desolação (2 Reis 17.23), sendo depois povoada por estrangeiros durante os anos de cativeiro (2 Reis 17.24; Esdras 4.10).

A capital da província de Samaria era a cidade que tinha o mesmo nome: Samaria. Onri pai de Acabe comprou de um cidadão de nome Semer, um monte onde construiu uma bela cidade. Em homenagem a seu antigo proprietário, Onri deu a cidade o nome de Samaria (1 Reis 16.24).

Estava situada a meio caminho do Jordão ao Mediterrâneo, ao oriente da planície de Sarom, no alto de um monte alongado e íngreme. Os reis empreenderam muitas obras na cidade para a tornarem forte, bela e rica. Acabe construiu uma casa de marfim (1Reis 22.39) e também mandou cercar a cidade com grossas muralhas, tornando-a invencível. Construiu ainda, a gosto de sua esposa, um monumental templo dedicado a Baal.

Foi ali que os profetas Elias e Eliseu exerceram seus ministérios. Por causa de seus constantes pecados, foi tomada mais tarde, depois de um cerco de cinco anos. O assédio, principalmente por Salmanaser IV, foi concluído por Sargão no ano de 772 a.C. (2 Reis 17.5-6). Os habitantes sofreram horrivelmente durante esse tempo, e esses sofrimentos acham-se descritos pelos profetas Oséias (Oséias 10.5,8-10) e Miquéias (1.6). 

Este último havia predito que a cidade seria reduzida a um montão de pedras. Subjugada a cidade, Sargão mandou seus habitantes para longe, estabelecendo-os em territórios que ficavam muito longe do país de origem. Em contrapartida trouxe outros povos para habitar as terras despovoadas, foi assim que surgiram os samaritanos.


JUDÉIA
Esse nome aplica-se, algumas vezes, a toda a Palestina (At 28.21), mas geralmente só a parte meridional do país. A extensão do território que coube a Judá acha-se minuciosamente descrita em Josué 15. O limite norte do primitivo quinhão de Judá começava no lugar em que o Jordão entra no mar Morto, e daí para o ocidente, passando por Bete-Semes, até Jabneel perto de Ecrom, distante 16 km do Mediterrâneo. E a linha limítrofe toma depois a direção sudeste, quase em linha reta, correndo junto ao país do filisteus, e pelos limites de Simeão até Cades-Barnéia, na orla do deserto. Ao oriente era limitada pelo mar Morto e montanhas de Seir na terra de Moabe. Mas, depois da morte de Salomão a tribo de Benjamim fez aliança com a casa de Davi, ficando assim incorporadas as duas tribos. E por essa forma Jerusalém ficou dentro dos limites do novo reino, tornando-se a cidade real (2Sm 2.9). Partes de Simeão (1Sm 27.6) e outra de Dã (2Cr 11.10) foram também incluídas em Judá, mais tarde foi essa área pela inclusão de parte de Efraim (2Cr 13.19; 15.8; 17.2). O total do território acha-se dividido em quatro regiões, e tinha a extensão de quase 72 km do norte ao sul, sendo de 80 km a distância do oriente ao ocidente.

O nome Judéia veio do nome do patriarca que herdou essa faixa de terra como herança, Judá. A Judéia era a porção no extremo sul das três principais divisões da Terra Santa. Também denotava o reino de Judá, para distingui-lo do reino de Israel (Norte). Toda a região é montanhosa, e os picos mais altos estão em Jerusalém. Essas montanhas se estendem para o sul, passando por Belém, alcançando Hebrom, formando depois as famosas cadeias de montanhas da Judéia. A leste dessa região fica o rio Jordão e seu vale; mais para oeste a região montanhosa; e mais para oeste, Sefalá ou colinas baixas. Ao norte, a Judéia fazia fronteira com Samaria; ao sul encontrava-se o grande deserto. Três estradas partem de Jericó e seguem na direção noroeste, até Ai e Betel, a sudoeste de Jerusalém, e para o sul e para o sudoeste, até o baixo Cedrom ou até Belém.

O coração da Judéia sempre foi à região montanhosa, um planalto que se estende desde Betel até Berseba, onde estão localizadas as cidades de Jerusalém, Belém e Hebrom. Esse planalto tem vertentes que descem na direção do ocidente até a planície marítima com margens no mediterrâneo. No lado oposto, oriental desce em direção do mar Morto e do rio Jordão. Nessa localização se encontra o deserto da Judéia. A cidade mais importante dessa região era Jericó.


DECÁPOLIS

Distrito do norte da Palestina, com grande população grega, principalmente no lado leste do Jordão e que abrange dez cidades. Decápolis é o nome dado na Bíblia e por escritores antigos a uma região na Palestina que se encontra ao leste e a sul do mar da Galiléia. Seu nome é dado devido à confederação das dez cidades que dominaram sua extensão, unidas por certos costumes e por certa população. Localiza-se entre a planície de Esdrelon, dirigindo-se para o vale do Jordão, ocupando o leste deste rio. Era formada pelas cidades de Hipos (na margem oriental do mar da Galiléia), Damasco (ao norte), Canata (no extremo leste), Diom, Gadara, Citópolis (no extremos oeste), Pela, Filadélfia e Gerasa (no extremo sul.
PARTIDOS E SEITAS DA PALESTINA

SADUCEUS
Representavam o poder, a nobreza e a riqueza. Grandes proprietários de terras e membros da elite sacerdotal, controlavam o Sinédrio, o conselho supremo de Israel. Em matéria religiosa, negavam a imortalidade da alma e aceitavam apenas o texto escrito da Lei (Torá) e não suas interpretações orais. Foram os principais responsáveis pela condenação de Jesus.

ESCRIBAS
Sem ligação com uma atividade econômica ou partido específico, gozavam no entanto, de enorme autoridade, por terem entre seus membros os intérpretes abalizados das Escritos. Detinham forte influência no Sinédrio, nas sinagogas e nas escolas rabínicas.

FARISEUS
Separavam-se do resto da comunidade judaica pelo cumprimento rigoroso das numerosas regras de pureza prescritas na Torá. Reuniam representantes de todas as classes sociais, principalmente dos artesãos e comerciantes. Foram duramente criticados por Jesus por desprezarem a essência da Lei, enquanto davam extrema importância a suas minúcias formais. Criam na imortalidade da alma e na ressurreição do corpo.

ZELOTAS
Dissidentes radicais da seita dos fariseus, expressavam os sentimentos dos pequenos camponeses e dos pobres em geral. Religiosos e ultranacionalistas, resistiam aos dominadores pagãos e contavam com iminente chegada do Messias para desencadear uma guerra contra os romanos. Por isso eram duramente perseguidos.

ESSÊNIOS
Compostos por sacerdotes dissidentes e leigos exilados, viviam em comunidades ultra fechadas, como as que foram descobertas nas cavernas de Qumran. Consideravam-se únicos puros em Israel, levavam uma vida comunal extremamente austera. Praticavam rituais como o batismo e dedicava-se ao trabalho manual na lavoura. Combatiam tanto os romanos quanto o poder do Templo de Jerusalém. Propunham uma guerra santa para instaurar o "reino dos justos".
Roma começou a se destacar mais ou menos na mesma época em que a cidade-estado de Atenas assumiu a hegemonia da Grécia, ou seja, no século V a.C. Naquela época Roma foi reforçando seu exército e dominando áreas cada vez maiores. Depois de submeter seus vizinhos mais próximos, derrotou os etruscos. Mais tarde expulsou as tribos do povo gaulês, que atacavam pelo norte da península. Em pouco tempo, quase toda a Itália pagava tributos a Roma.

Depois de derrotar os catargineses, Roma passou a atacar outros povos. Os objetivos dos romanos nessas guerras continuavam as mesmas: dominar territórios, cobrar impostos dos povos dominados e escravizar prisioneiros de guerra. Depois da Grécia os romanos conquistaram a Ásia Menor. Foi assim que em 63 a.C. os judeus perderam sua independência quando Pompeu, mai uma vez os submeteu ao “jugo dos pagãos”.

O poder estava nas mãos do imperador de Roma; ele é quem mandava nas forças armadas, ele é quem governava e tinha o poder de legislar não só em causa própria, mas também alheia. Ele era também o chefe religioso. O imperador nomeava as pessoas para os cargos de destaque, como os prefeitos de uma cidade ou governador (chamado procônsul) de uma província. A Palestina foi governada por um procônsul romano que residia na Síria. Seus limites abrangiam a Judéia, Peréia, Samaria, Galiléia, Decápolis. Em cada uma dessas regiões havia um governador que era indicado pelo imperador, sendo cada qual independente e autônoma.

Foi assim que Herodes o Grande foi indicado pelo imperador Augusto para exercer o governo da Palestina. Seu cognome, "o Grande", deveu-se principalmente a um fabuloso programa de obras urbaníticas e arquitetônicas. Ele imediatamente recuperou economicamente a Judéia com suntuosas construções, como também fortificou as cidades com muros ou contingentes militares. Jerusalém e várias outras cidades foram reurbanizadas ao estilo romano, cortadas por grandes avenidas e embelezadas com palácios, anfiteatros, hipódromos, piscinas e jardins. O preço desse ambicioso empreendimento foi uma opressão ilimitada sobre o povo. Seu governo perdurou de 37 a.C. a 4 d.C. Herodes retalhou o país por testamento entre três dos seus filhos, que milagrosamente conseguiram sobreviver, sendo assim repartida à Palestina:

Herodes Arquelau recebeu a parte central: Judéia, Samaria, e Iduméia. Governou por seis anos, até que foi exilado pelos romanos. Com este fato, sua região passou a ser governada por procuradores, nomeados, como de costume, diretamente pelo imperador. Não muito tempo depois os romanos entregaram sua região para ser governada por Herodes Agripa I.

Herodes Antipas ganhou a Galiléia e a Peréia – a parte da Transjordânia habitada por judeus, do mar Morto até perto do mar da Galiléia.

Herodes Felipe II ficou com as terras entre o mar da Galiléia e a Síria, ou seja, cinco distritos: Gaulanitis, Betânia, Auranitas, Ituréia e Traconites.

Herodes Agripa I recebe parte das terras do Líbano. Depois da morte de Herodes Antipas, foi incorporada a sua jurisdição as regiões da Galiléia, Peréia e a Judéia. Foi em sua administração que foi morto Tiago (Atos 12.1-4) e também preso o apóstolo Pedro. Esse Herodes é o que foi comido de bichos por não ter dado glória a Deus (atos 12.23).

A submissão política e a extorsão por meio de impostos geraram uma forte oposição ao domínio romano, que culminaria em revolta generalizada. Em consquência, no ano 70 d.C., a população judaica foi dispersa e Jerusalém, destruída pelas legiões comandadas por Tito, futuro imperador de Roma.




FONTES:
Módulo I do curso Fundamental de Teologia da FTB
Panorama do Antigo Testamento - Editora Vida
Dicionário Bíblico - Editora Didática Paulista
Revista Arquivos da História Viva