Relação entre os 3 solos infrutíferos da parábola do semeador com as 3
tentações bases de Jesus no deserto e, consequentemente, a preparação
para o solo fértil, isto é, o início do Seu ministério frutífero de cem por um.
Este texto parte do princípio que a parábola do semeador não é apenas uma
parábola sobre conversão partindo de diferentes tipos de solos, mas
também um processo de passagem por todos os solos até o fértil em cada
convertido.
As passagens base para este texto são, principalmente, as de Mateus.
Primeiro Solo x Primeira Tentação
O primeiro solo da parábola do semeador é o solo da beira do caminho,
representado por um coração duro, que ouve a palavra do Reino, mas não a
discerne (entende) e, por isso, rapidamente satanás (pássaro) a rouba para
que o coração não se converta e seja curado (Mateus 13:15, 19).
A primeira tentação que Jesus recebeu no deserto foi a colocação da dúvida
de uma afirmação que o Pai do céu tinha acabado de fazer sobre Jesus:
“Este é o meu Filho Amado em quem me agrado”! (Mateus 3:17)
E satanás chega e diz: se tu és filho de Deus, faça com que estas pedras
virem pães. (Mateus 4:3)
Podemos entender que satanás estava tentando roubar a semente que tinha
acabada de ser plantada pelo Pai no Filho, isto é, a realidade de Jesus ser o
Filho de Deus! Satanás estava tentando roubar a semente da identidade de
Cristo.
Jesus, sendo o próprio Pão da vida (João 6:35) e a própria Palavra que
procede da boca do Pai (João 1:14, João 6:57), responde de maneira a
deixar bem claro que a semente que o Pai tinha falado sobre Ele havia
entrado profundamente em Seu coração.
Assim, Jesus passou pela prova do primeiro solo da parábola.
* O primeiro solo, então, tem uma relação direta com o que o Pai diz sobre
quem você é - identidade!
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Segundo Solo x
Segunda Tentação
O segundo solo da parábola do semeador é o solo rochoso, sem
profundidade para receber a semente (Mateus 13:22).
Apesar de receber a semente com alegria, o solo não permite que a raiz
cresça profundamente, pois logo encontra as rochas (uma dureza mais
profunda de coração) e quando as coisas esquentam pela luz (sol - batismo
de fogo), que são representadas pela tribulação (problemas, aflições,
angústias) e perseguição por causa da palavra do Reino, logo se
escandaliza / ofende (na verdade tropeça na palavra - Romanos 9:32-33;
1Pedro 2:8).
A segunda tentação de Jesus no deserto, pelo menos no evangelho de
Mateus, permaneceu sendo ainda na mesma indagação satânica: se tu és
Filho de Deus! Mas desta vez, satanás usa as escrituras rebatendo o uso
delas pelo próprio Jesus. Talvez pelo fato dEle ter revelado conhecimento
das escrituras (Mateus 4:5-6).
Jesus é levado pelo próprio diabo a outro cenário, um lugar bem conhecido
pelo Messias, um lugar mais “seguro” ou mais “santo”, isto é, a cidade
santa (Jerusalém). Não em qualquer lugar da cidade, mas no lugar mais
elevado da cidade, o topo do templo de Jerusalém, o símbolo mais claro da
presença de Deus na cidade santa.
E satanás disse: Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito:
“Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; Eles te susterão
nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra”. (Salmo 91:11-12)
É interessante notar que, realmente, este é um salmo de proteção,
segurança, livramento, prosperidade, refúgio no Senhor...
Fala sobre livrar do laço do passarinheiro, da peste, da seta, da morte.
Fala sobre mil caírem ao lado e dez mil à direita e não ser atingido. Fala
sobre ver o castigo dos ímpios (e quem é mais ímpio do que satanás?).
Fala que nenhum mal sucederá e praga nenhuma chegará à tua tenda.
Tudo isso por causa da proteção divina de estar na Sua sombra e sob a
proteção dos anjos.
O diabo usa um salmo dentro do contexto da tentação, um salmo que
muitos creem que fala sobre o Messias, mas que não se sabe quem o
escreveu.
Jesus, por outro lado, conhecia profundamente a verdade, na realidade Ele é
a própria Verdade do Pai (João 14:6) enviada como Emanuel (Mateus 1:23)
para nós e sabia o que haveria de passar, ou seja, Jesus tinha muita clareza
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e profundidade das escrituras, tinha raiz em si mesmo, tinha intimidade com
o Pai e então responde:
“Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus”
Podemos entender que a profundidade do solo de Jesus estava sendo
questionada. Será que Ele se escandalizaria, ou seja, “tropeçaria nalguma
pedra” como o próprio salmo diz?
Na verdade, o significado de “escandalizar” (σκανδαλιζω) no original é:
“colocar uma pedra de tropeço, um impedimento para o caminho, um
motivo de queda.” (Strongs)
Infelizmente, muitas vezes, divulga-se mais os textos sobre vitórias e apenas
superficialmente, esquecendo do seu contexto:
“Tudo posso Naquele que me fortalece” - quando o contexto é provação!
“Se Deus é por nós, quem será contra nós” ou ainda
“Somos mais que vencedores por meio daquele que nos amou” - quando,
em ambas as últimas escrituras, o contexto é ser entregue à morte todos os
dias como ovelhas levadas ao matadouro e ainda Paulo coloca que
nenhuma tribulação, angústia, perseguição, nada poderá nos afastar do
amor de Cristo.
Então, parece que o próprio satanás estava tentando fazer Jesus tropeçar
nos escritos.
Pois isso está escrito:
“Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela
crer não será, de modo algum, envergonhado. (Is 28:16)
Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os
descrentes,
‘A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra,
angular (Salmo 118:22)
e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa.’ (Isaías 8:14-15)
São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que
também foram postos.” (1Pedro 2:6-8)
Quando não temos profundidade na palavra, especialmente nas Palavras de
Jesus, que é o Pão que do Pai desceu e a Palavra que sai da boca de Deus,
podemos cair literalmente em ciladas feitas por satanás. Pois Jesus disse e
está escrito:
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“Neste mundo tereis aflições, mas tenham bom ânimo; eu venci o
mundo!” (João 16:33)
“Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu
senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se
guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.” (João 15:20)
“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o
Reino dos céus. Bem aventurados sois quando, por minha causa, vos
injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós.
Regozijai e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim
perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.” (Mateus 5:10-12)
Dentre várias outras...
Então, podemos entender que o segundo solo prova a profundidade que o
nosso coração permite com que as palavras de Jesus (Reino) cheguem e
gerem raízes ao ponto de discernirmos (entendermos) as promessas de
bênçãos e vitórias sem esquecermos das palavras de vigilância, exortação e
juízo, que as seguem. É o solo que prova a intimidade que temos com o
Senhor.
Outro ponto interessante é que a tentação de Jesus foi no cenário da cidade
santa, no lugar mais santo - o templo - e no lugar mais alto do templo. Isso
pode representar uma parábola como se a tentação fosse dentro do templo,
dentro do corpo de Cristo - a verdadeira igreja...ou mesmo no lugar onde
nos sentimos mais “seguros e protegidos” e por isso, talvez mais relaxados,
ou mesmo, fora do Espírito, onde deveríamos estar dentro Dele.
* O segundo solo, então, tem uma relação direta com a profundidade e a
permanência do nosso coração para com o Pai e suas palavras (sementes),
se vamos tropeçar na palavra (pedra de tropeço) ou se vamos nos edificar
Nela - intimidade!
Terceiro Solo x Terceira Tentação
O terceiro solo da parábola do semeador é o espinhoso - ouve a palavra do
Reino, porém os cuidados (a divisão de coração, e se é dividido então serve
a outro senhor), ansiedade e a fascinação (engano) das riquezas (bens,
abundância), sufocam (obstruem) a palavra e a torna infrutífera.
A terceira tentação que Jesus recebeu no deserto, pelo menos no evangelho
de Mateus, foi justamente a da abundância ou do engano das riquezas e a
possibilidade de um atalho, pois Jesus realmente era e é rei:
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“Levou o diabo a Jesus a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos
do mundo e a glória deles e lhe disse: Tudo isso te darei se, prostrado, me
adorares.”
“Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, satanás, pois está escrito:
Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a Ele darás culto.” (Deuteronômio 6:13)
E assim o diabo deixou a Jesus e os anjos vieram e o serviram.
Jesus foi provado no seu caráter para com o Pai, se amava ao Pai de todo o
coração, sem divisão de senhorio.
Este solo prova o seu caráter com Deus diante das prioridades
(preocupações) da vida e da oferta das riquezas deste mundo. Se há divisão
de senhorio (outra adoração) dentro de nós e se vamos trair (abandonar) a
Deus pelas riquezas que há em nosso coração, adorando-as, sufocando a
semente de Reino.
* O terceiro solo, então, tem uma relação direta com a integridade do nosso
coração diante das “riquezas” que há neste mundo e diante do senhorio de
Jesus - caráter!
Quarto Solo - O solo fértil
Tudo indica que, depois que Jesus voltou da tentação no deserto, após
saber da prisão de João batista, Ele foi para a Cafarnaum, na Galileia, onde
iniciou o Seu ministério dizendo as mesmas palavras de João:
“Arrependam-se, pois está próximo o Reino de Deus.”
Ou ainda, podemos entender que, depois de Jesus ter sido provado e
aprovado nos três tipos de solos infrutíferos da parábola do semeador, Ele
iniciou o seu ministério com o solo da boa terra (solo fértil) - pronto para
ouvir, compreender, ensinar e obedecer, sem limitações, a todas as palavras
que receberia da parte do Pai, sendo praticante e obediente até a morte de
cruz - dando fruto de cem por um!
“Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não
morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto” (João 12:24)