As perseguições aos cristãos dos primeiros séculos

A conhecida “era dos mártires” foi o período glorioso para Igreja, o valor estava na causa de Cristo! Morria-se por ele. Sim, Inácio de Antioquia (?-110 d.C) escreve aos romanos: 
Escrevo a todas as Igrejas e insisto junto a todas que morro de boa vontade por Deus, se vós não mo impedirdes. Suplico-vos, não vos transformeis em benevolência inoportuna para mim. Deixai-me ser comida para as feras, pelas quais me é possível encontrar Deus. Sou trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras, para encontrar-me como pão puro de Cristo. Acariciai antes as feras, para que se tornem meu túmulo e não deixem sobrar nada de meu corpo, para que na minha morte não me torne peso para ninguém. Então de fato serei discípulo de Jesus Cristo, quando o mundo nem mais vir meu corpo. Implorai a Cristo em meu favor, para que por estes instrumentos me faça vítima de Deus. Não é como Pedro e Paulo que vos ordeno. Eles eram apóstolos, eu um condenado; aqueles, livres, e eu até agora escravo. Mas, quando tiver padecido, tornar-me-ei alforriado de Jesus Cristo, e ressuscitarei nele, livre. E agora, preso, aprendo a nada desejar.
Para tal período existem outros nomes, porém o problema geralmente é o mesmo: as generalizações, ou seja, não fazer justiça as diferenças tanto de intensidade quanto de aspectos mais específicos como, por exemplo, dizer que não foi um período de perseguição apenas à igreja ou aos cristãos, mas a todos quantos se encaixavam no perfil de inimigos do Estado. Vamos esquecer por hora, aquele romance de que nos diz sobre cristãos que nasceram em catacumbas e nunca viram a luz do sol, por causa das perseguições eles morreram lá dentro.
Sem querer diminuir a crueldade e a violência que fluía da justiça imperial romana, podemos começar estruturando esse conteúdo, para melhor didática, de forma cronológica.
Perseguições no século I
Sob Nero (54-68). Esta perseguição que se desdobrou a partir de um incêndio em Roma, não se estendeu por todo o império, restringindo-se a Roma e adjacências. É possível crer que Paulo e Pedro foram mortos nesse tempo.
Sob Domiciano (81-96). Segundo Dio, um historiador do século III, o cônsul Tito Flávio Clemens e sua mulher Domitília foram acusados de “ateísmo” por ser cristãos. O melhor que temos para documentar é o Apocalipse de João quando se refere às Igrejas que estão na Ásia menor.
Perseguições no século II
Sob Trajano (98-117). Não podemos considera uma perseguição no sentido de caçar cristãos, mas de receberem acusações sobre o tal delito. De forma geral, os cristãos eram mortos sob acusação como foi o caso de Inácio de Antioquia.
Sob Adriano (117-138). Mesma política de Trajano, ou seja, ao receber acusação intimava-se a explicar-se. O não convencimento da autoridade desdobrava-se em morte do acusado.
Sob Antonino Pio (138-161). Nesse Período houve o mártir de Policarpo, bispo de Esmirna.
Sob Marco Aurélio (161-180). Temos a morte da viúva Felicidade com seus sete filhos e Justino o mártir.
Sob Cômodo (180-192). As perseguições eram mais brandas, mas houve a morte de Apolônio.blog1
Essas perseguições não foram sistemáticas e não chegam a todos os lugares do Império.
Perseguições no século III e início do século IV
Esse período é marcado por algumas perseguições mais cruéis, mas não haverá universalização e exclusivismo.
 Sob Sétimo Severo (193-211). Proibições aos cristãos e aos judeus de provocarem conversões.
Sob Caracala (211-217). Perseguições e mortes de alguns cristãos ao norte de África.
Sob Maximino (235-238). Mortes de membros do clero.
Sob Décio (249-251). Nota-se nesse período que um documento expedido por este imperador ordena que todos sacrifiquem aos deuses para que vençam as guerras. Nesse sentido a exigência é universal, todavia será difícil aceitar que em todos os lugares do império houve a mesma diligência no cumprimento da lei.
Sob Diocleciano (285) temos a maior perseguição a partir da tetrarquia e durou até 313.
     Assim, é possível concluir que as perseguições levaram muitos cristãos a morrerem de forma cruel e gravarem seus nomes nas “páginas” do tempo. Não é crível que houvera perseguições somente a cristãos, também não é possível dizer que as perseguições duraram quatrocentos anos e nunca houve liberdade religiosa, no sentido de não opressão. Muitas vezes esquecemos a duração de cem anos. As perseguições tinham caráter político e religioso afetando, sobretudo, pessoas que representavam a maioria dos cristãos. Talvez hoje tenhamos mais perseguições que aquele período. Talvez hoje elas tenham menas influência em nossas vidas. Talvez hoje sejamos mais indiferentes. 
Fonte: Historia da Igreja Primitiva, J. Drane, 1987

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