Peste, Guerra, Fome e Morte.
Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse há muito tem feito parte do imaginário popular e trata do caos que se instala sobre a sociedade.
Hoje, o Brasil vive à sombra dessas quatro figuras que batem às portas de nossa nação. E quem abriu as portas da nação para esses espectros do Fim dos Tempos? O nosso presidente, Jair Bolsonaro..Depois, vi o Cordeiro abrir o primeiro selo e ouvi um dos quatro Animais clamar com voz de trovão: “Vem!”. 2.Vi aparecer então um cavalo branco. O seu cavaleiro tinha um arco; foi-lhe dada uma coroa e ele partiu como vencedor para tornar a vencer. 3.Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo Animal clamar: “Vem!”. 4.Partiu então outro cavalo, vermelho. A quem o montava foi dado tirar a paz da terra, de modo que os homens se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada. 5.Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro Animal clamar: “Vem!”. E vi aparecer um cavalo preto. Seu cavaleiro tinha uma balança na mão. 6.Ouvi então como que uma voz clamar no meio dos quatro Animais: “Uma medida de trigo por um denário, e três medidas de cevada por um denário; mas não danifiques o azeite e o vinho!”. 7.Quando abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto Animal, que clamava: “Vem!”. 8.E vi aparecer um cavalo esverdeado. Seu cavaleiro tinha por nome Morte; e a região dos mortos o seguia. Foi-lhe dado poder sobre a quarta parte da terra, para matar pela espada, pela fome, pela peste e pelas feras" Apocalipse 6
Ainda que haja controvérsias a respeito da identidades dessas figuras, tornou-se tradicional e consensual que esses versículos fazem referência aos Quatro Cavaleiros do Apocalipse — figuras terríveis que emergem conforme o Cordeiro de Deus abre os quatro primeiros Selos, e que simbolizam, na ordem de seu aparecimento: pestilência, guerra, fome e morte.
Essas figuras tem sido popularmente e tradicionalmente interpretadas como símbolos ou mesmo como propriamente responsáveis por cataclismos e catástrofes.
Independentemente da afiliação religiosa, os símbolos presentes nessa narrativa podem ser mobilizados como ferramentas arquetípicas úteis para a interpretação da situação crítica em que se encontra o Brasil e a Sexta República instaurada com o fim do Regime Militar.
Em 2020, segundo ano do governo do presidente Jair Bolsonaro, chegou ao Brasil, logo após o Carnaval, o COVID-19, uma nova doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2, cuja origem ainda é desconhecida, mas que possui fácil transmissibilidade e uma taxa de mortalidade ao redor de 8%.
O governo brasileiro, como os outros governos do mundo, estava avisado do que acontecia na Ásia desde o início do ano, mas manteve as portas abertas para o ingresso da Pestilência em nosso país. Desde então, o presidente tem se esforçado para interferir e atrapalhar as medidas que as outras autoridades públicas têm tomado para conter a pandemia.
Adepto da bizarra seita de Olavo de Carvalho, Bolsonaro defende uma teoria da conspiração segundo a qual o COVID-19 seria, simultaneamente, uma farsa — não passando de uma “gripezinha” — e uma perigosa arma biológica chinesa cujo objetivo é subjugar o “Ocidente cristão”.
O primeiro falecimento pelo COVID-19 veio no dia 17 de março e, desde então, o número de mortos segue aumentando, agora a uma taxa de mais 1/3 por dia. As previsões são de milhares ou dezenas de milhares de mortos nos próximos meses. Para não falar nas mortes indiretas, aquelas que serão causadas pelo provável colapso do SUS — o sistema público de saúde — graças à enorme demanda por leitos e UTIs gerada pela pandemia.
Milionários e bilionários brasileiros, como Justus, Hang e Durski, dão de ombros, falando que alguns milhares de mortes não são motivo para preocupação. Os ricos riem da Morte, porque, por enquanto, ela deu apenas um pequeno gosto de sua presença. Mas ela se esgueira pelos corredores de hospitais, pelos ônibus e trens (que em algumas cidades permanecem cheios), pelas casas daqueles que foram aos hospitais com os sintomas do COVID-19, mas foram mandados para casa, e pelos corredores estreitos das favelas.
Não obstante, as preocupações com a economia são sérias e fundamentadas. A escorreita e irrepreensível medida de quarentena, agora já imposta em vários estados e garantida pelas polícias, significa a paralisação da economia por tempo indeterminado, no mínimo 1 mês. A tendência é que o desemprego dispare. As pequenas empresas receberão pouca ajuda do governo, que prefere salvar banqueiros, e muitas irão à falência.
A mídia corporativa afirma que, mesmo assim, aluguéis e contas devem ser pagos (ainda que, em alguns estados, os governadores já hajam sancionado a não suspensão de serviços públicos essenciais durante a duração da pandemia, mesmo para os inadimplentes). Algo tão “corriqueiro” quanto uma pandemia não pode suspender o parasitismo rentista, claro.
Pelo pânico insuflado pela mídia de massa, os cidadãos tentam estocar bens e os mercados correm risco de desabastecimento a longo prazo. E quando o dinheiro acabar? A Fome baterá às portas das casas das famílias brasileiras em abril ou maio. Os corpos seguirão se empilhando. Em exatos 30 dias, os ricos ainda estarão dando de ombros e falando que tudo não passa de uma “gripezinha” enquanto os corpos se empilham? Talvez eles estarão suando frio, enquanto o espectro da Morte paira ainda mais pesadamente sobre o país.
Se, e somente se, o governo tomar as medidas econômicas necessárias, que envolvem largas e amplas intervenções do Estado na economia, estatizações e mesmo políticas de renda básica universal (lembremos: para todos, não só para os miseráveis), talvez possamos evitar a Fome.
Mas se a Fome chegar, ela não chegará sozinha e todo um pandemônio estará instaurado. Nenhum homem de verdade aguentará ver sua família passando fome. Inúmeros brasileiros, até então bons cidadãos, serão forçados ao crime e à barbárie. Haverá saques em todas as grandes cidades — não se pode duvidar que bandos invadam condomínios mais abastados; definitivamente haverá caos social generalizado difícil de ser controlado pelas polícias.
E, enquanto isso, o presidente toma todas as decisões possíveis e imagináveis que possam minar a própria credibilidade. Burrice ou segue um script? Se o SUS colapsar e a Peste continuar se alastrando, se a Fome se esgueirar para dentro das casas dos brasileiros, qual será a atitude dos generais brasileiros diante do caos nas ruas e de um presidente tíbio e com apoio popular decrescente? Guerra civil e golpe militar estão na agenda.
Finalmente, a Morte reinará sobre montanhas de corpos. As perspectivas nacionais serão lançadas no abismo. Se as reformas neoliberais dos últimos anos já devolveram o país às condições da República Velha, como estará o Brasil em dezembro de 2020? Ainda existirá Brasil?
Um Brasil pós-pandemia muito provavelmente será um Brasil pós-Bolsonaro. Muitas cartas agora estão sendo postas em jogo: a imposição de um parlamentarismo, o enfraquecimento do Executivo federal, todas medidas que tendem a proteger a longo prazo a oligarquia antidemocrática do Legislativo e do Judiciário, que só um Executivo forte com apoio popular pode confrontar.
Os Quatro Cavaleiro do Apocalipse têm sido interpretados como manifestação da Ira Divina, agentes cataclísmicos e transcendentais da punição que, sim, se abate sobre nações inteiras quando seus líderes são abomináveis.
Bolsonaro faz malabarismos sentado em um monociclo que gira sobre uma corda estendida sobre um abismo. Nas suas mãos está o Brasil. Ele é um agente consciente ou mera ferramenta cega de forças que o transcendem? Ele é um golem ou um débil mental?
Independentemente da resposta, o ano de 2020 ficará marcado como um dos piores na história de nosso país.
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