O Bezerro de Ouro em Êxodo 32

Êxodo 32
"O povo, ao ver que Moisés demorava a descer do monte,u juntou-se ao redor de Arão e lhe disse: “Venha, faça para nós deuses que nos conduzam, pois a esse Moisés, o homem que nos tirou do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu”.v 2 Respondeu-lhes Arão: “Tirem os brincos de ouro de suas mulheres, de seus filhos e de suas filhas e tragam-nos a mim”. 3 Todos tiraram os seus brincos de ouro e os levaram a Arão.4 Ele os recebeu e os fundiu, transformando tudo num ídolo, que modelou com uma ferramenta própria, dando-lhe a forma de um bezerro..."

O Bezerro de Ouro
Na arte e nas lendas, os deuses eram em geral representados por animais com a intenção de simbolizar os atributos das respectivas deidades. Por exemplo, na experiência religiosa do antigo Oriente Médio os touros e os bezerros estavam quase sempre associados com a forca, a virilidade
e a realeza. O touro era considerado uma representação terrena de uma divindade celestial, incorporando a força física e o poder procriador encontrados na natureza. Alguns cultos religiosos do Egito (sendo o de Apis o mais proeminente) adoravam o touro e o bezerro. Deificação da vida, o touro "sagrado" começou a ser reverenciado durante a I Dinastia e continuou por toda a
longa historia do Egito antigo. Os cultos ao touro do delta do Nilo, que coincidiam com a época e o lugar da estada dos israelitas no Egito, eram prestados a Horus, o "deus do céu". 
Os cananeus também veneravam touros. EL, o deus principal do panteão cananeu (na lista de deuses
reconhecida oficialmente), era conhecido como o "touro celestial". Baal, o deus tempestade era, da mesma forma, associado com o touro, por causa da fertilidade desses animais.
As tradições artísticas de Canaã retratam os deuses cavalgando touros, que se haviam tornado pedestais vivos e emblemáticos da realeza e do poder sobrenatural. O bezerro de ouro foi a primeira incursão israelita pelo sincretismo, uma combinação de fé no único Deus verdadeiro com tradições
pagas. Com essa atitude, o povo escolhido de Deus trocou sua gloria — a verdadeira. a presença manifesta de Deus — pela imagem do touro, uma falsa representação da presença de Deus (Sl 1106.19,20). Tragicamente,  os israelitas haviam se tornado presas das influencias culturais do Egito (do qual tinham saído) e de Canaã (na qual se estabeleceriam). O povo de Deus, de forma inconsciente, foi associando seu Deus aos deuses das nações. 
É importante reconhecer que os israelitas acreditavam estar agindo com piedade. Tudo que viam no mundo que os cercava os fazia crer que Deus considerava a adoração a ídolos aceitável e prazerosa. Seu povo estaria, no julgamento deles, tentando honrá-lo pela representação do principal dos deuses, mas na realidade estavam comprometendo sua singularidade e incomparabilidade, tendência que se repetiria entre eles ate a época do retorno do cativeiro babilônio. 

A natureza de Deus não pode ser representada por objetos inanimados nem por qualquer outro
elemento da criação (Dt 4.15-19; Is 46.5-9). O clamor da libertação do Êxodo: "Quem entre os deuses e semelhante a ti, Senhor?" (Ex 15.11) foi constantemente desvirtuado pela idolatria — a colossal pedra de tropeço de Israel.
Segundo Lawrence Stager, diretor da equipe de pesquisas do Times Arqueologic, esse bezerro remonta a 1550 a.C

Salmos 106
19: Em Horebe fizeram um bezerro, adoraram um ídolo de metal. 20 Trocaram a Glória deles pela imagem de um boi que come capim.



Quando estavam acampados no monte Horebe, os israelitas adoraram a imagem de um bezerro de ouro (Êx 32; SI 106.19,20), prática que, sem dúvida, aprenderam no Egito. O Hino do Cairo a Amon-Rá louva o principal deus egípcio, às vezes chamado "touro aprazível", "touro de Heliópolis" ou "touro de sua mãe".
Os dois olhos do touro eram o Sol e a Lua. 
As imagens bovina e solar estavam incorporadas ao culto a Amon-Rá. Ele era adorado como o deus criador que gerou o céu e a terra, a humanidade e os animais.1 Acreditava-se que ele seria o pai de todos os outros deuses, além de ser o sustentador dos reis egípcios. Embora Amon-Rá libertasse o pobre e o oprimido, mantinha seu nome em segredo de seus filhos (Amon significa "escondido"). 
Quando fizeram o bezerro de ouro, os israelitas insultaram a Deus, retratando-o com a imagem dos deuses egípcios e cananeus, talvez até mesmo atribuindo atos salvadores a um desses falsos deuses. 
Diferentemente do "escondido" deus Amon-Rá, o único e verdadeiro Deus revelou-se ao seu povo, não só por meio de seu nome (Êx 3.13,14), mas também por seus atos miraculosos. É importante entender que o culto ao deus-touro estava em sintonia com tudo que os israelitas haviam aprendido no Egito e que essa adoração, em seu modo de pensar, era inteiramente apropriada. 


Embora o pecado deles fosse uma violação óbvia aos mandamentos de Deus, a cultura de seus dias sem dúvida os convenceu de que estavam fazendo algo apropriado e aceitável.
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Fonte: 
Êxodo 32, Salmos 106
Livro O Mundo da Bíblia (1973)

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