Poppaea Sabina - O primeiro transgênero da história?


Esporo, o rapaz foi obrigado a viver como Poppaea Sabina e foi usado como troféu pelos poderosos romanos

O imperador Nero foi um dos mais cruéis a existir — ele assassinou várias de suas esposas e matou a própria mãe, após ir para a cama com ela. Para completar, o soberano também castrou um dos homens com quem ele se relacionou.

Esse homem era um jovem chamado Esporo, que foi escravo desde a infância. Ele tinha uma beleza muito notável e por isso foi escolhido para ser um puer delicatus — assim eram chamados os escravos dos cidadãos romanos mais importantes.

Uma paixão inusitada

Quando Nero conheceu Esporo, imedietamente se apaixonou, foi amor à primeira vista. Mas os motivos daquela paixão não eram românticos. A questão que atraiu o imperador foi que na verdade ele lembrava sua ex-esposa.

Você pode até pensar que tamanha insistência pela beleza da mulher deve estar relacionada à uma admiração pela mesma. Mas não foi exatamente o caso. A relação entre Nero e a última esposa, Poppaea Sabina, não acabou do melhor dos modos.


Na verdade, ela foi espancada até a morte, em um ato de violência cometido pelo próprio Nero. E para piorar as coisas, a mulher ainda estava grávida quando foi agredida brutalmente. Por isso, alguns relatos dizem que Nero não guardava carinho por ela, mas sim, uma perseguição que era forma de lidar com o fato de tê-la matado.

Mas voltemos à Esporo, que era parecido com a mulher assassinada. Quando Nero se encantou pelo moço, ele foi de certa forma alforriado da sua condição de escravo, mas por outro lado, isso não significava que ele teve liberdade.

A começar pela identidade do rapaz: ele não mais foi chamado de Esporo, mas passou a responder pelo mesmo nome da antiga esposa de Nero. Não bastasse isso, ele também era chamado de imperatriz, assim como ocorreria com a mulher.

O jovem foi castrado e também teve que casar com Nero em uma cerimônia tradicional. A celebração incluiu um véu nupcial e até mesmo um dote pela mão do ex-escravo foi incluso.

Esporo era tratado como uma verdadeira imperatriz, mas não há registros que comprovam se ele realmente gostava disso e se queria ser transexual. Ele beijava Nero em público, usava itens luxuosos da aristrocracia romana e tinha vários serviçais para atendê-lo.


Mesmo assim, a vida, na maioria das vezes, não era nada fácil para Esporo. Sua função era servir o imperador tirano e qualquer desejo que ele tivesse, por mais violento que fosse, tinha que ser realizado. Os amantes do imperador, por exemplo, tinham que ser respeitados.

Curiosamente, enquanto Esporo estava casado com Nero, o soberano mantinha livremente relações sexuais e amorosas com outras pessoas. Ele tinha oficialmente outra companhia, que era Pitágora, um homem que fazia papel de marido.



Amor não correspondido

O amado de Nero não sentia o mesmo que ele, segundo um relato que diz o que ocorreu após a morte do imperador. Esporo colocou no cadáver de Nero um anel com um enfeite que representava a deusa Proserpina.

Segundo a mitologia grega, essa deusa foi forçada por Plutão, o deus do submundo, a viver com ele como sua esposa. De certa forma era isso que Esporo sentia: estaria ele aliviando toda a sua angústia por meio do simbolismo do anel?

Não é possível afirmar que sim, com certeza, mas que isso é provável, pois o rapaz sofreu muito sob as ordens do imperador. Porém, Esporo não sabia então que a morte de Nero não aliviaria seu sofrimento. Muito ainda estava por vir.

De mão em mão

Esporo foi obrigado novamente a servir outro homem, dessa vez Ninfídio Sabino, comandante da guarda imperial romana. Sabino queria sentir os prazeres que Nero teve em vida, e também raptou Esporo como sua esposa.

Tal passo, além disso, era um modo de começar a ter o seu desejo atendido de ser o próximo imperador romano. Os planos de Sabino, no entanto, fracassaram. Quem assumiu foi na verdade o primeiro marido de Sabino, Otão, que governou por três meses, de 15 de janeiro de 69, a 16 de abril do mesmo ano.
O governo de Otão acabou rápido pois ele cometeu suicídio, durante a a rebelião do exército de Vitélio (seu sucessor). O novo imperador também se relacionou com Esporo. Só que em vez de fazer do jovem sua esposa, ele optou por algo muito pior.


Vitélio tentou ridicularizar Esporo em público, para que servisse de exemplo à população. A sua ideia era fazê-lo participar de uma apresentação que encenaria a lenda do rapto de Proserpina — um ato que envolvia violência e estupro. Para evitar se expôr a esse cruel escrutínio, Esporo se matou, aos 20 anos de idade.


Fonte: Nero: A Life From Beginning to End (Roman Emperors: Julio-Claudian Dynasty , de Hourly History (2006)

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