Pesquisadores usaram inteligência artificial para analisar um dos Manuscritos do Mar Morto, coletânea histórica que contém as cópias mais antigas da Bíblia Hebraica
Graças ao uso de inteligência artificial (IA), pesquisadores descobriram que dois escribas redigiram o Pergaminho de Isaías, um dos sete Manuscritos do Mar Morto descobertos no final dos anos 1940. A coletânea histórica composta por mais de 900 textos contém, entre outras preciosidades, as cópias mais antigas da Bíblia Hebraica.
Os estudiosos da Universidade de Groningen, nos Países Baixos, registraram a descoberta na revista científica PLOS ONE. Eles analisaram o Grande Pergaminho de Isaías, proveniente da Caverna 1 de Qumran, na Cisjordânia.SAIBA MAIS
Para isso, os experts treinaram um algoritmo que separa a tinta do texto de seu fundo (o couro ou o papiro), criando assim uma “rede neural”, capaz de manter praticamente intactos os traços originais feitos pelos escribas há mais de 2 mil anos.
O processo foi vital para identificar quantos autores fizeram o manuscrito, já que os escribas não assinaram seus nomes. “Isso é importante porque os antigos traços de tinta estão diretamente relacionados ao movimento muscular de uma pessoa e são específicos dessa pessoa”, explica Lambert Schomaker, coautor do estudo, em comunicado.
Com isso, os pesquisadores viram que havia dois autores com maneiras muito semelhantes de escrever – tão semelhantes que as diferenças não eram visíveis a olho nu. Isso sugere que a dupla de escribas talvez tenha estudado em escolas ou ambientes sociais próximos. E mais: é possível que, no passado, tenha sido comum que esses escritores trabalhassem em equipes.
Curiosamente, o pergaminho estudado tinha a letra aleph, ou “a” nos idiomas semíticos, pelo menos 5 mil vezes. O algoritmo comparou todas elas, algo que não seria possível manualmente. Fora que o computador possibilitou uma análise microscópica dos caracteres, que inclui a medida da curvatura das letras e o estudo dos elementos como um todo.
Detalhes dos escrito da coleção de Pergaminhos do Mar Morto (Foto: Maruf A. Dhali, University of Groningen)Salvar
O pergaminho do livro de Isaías tinha 54 colunas de texto, divididas em dois grupos de 27, que comprovaram mais uma vez a presença de dois autores. Em testes, foram adicionados em seguida “ruídos” no fundo para mudar a observação do texto, mas os resultados não mudaram: era mesmo uma dupla de escribas.
Comparando as duas partes, perceberam assim as diferenças sutis nas escritas dos autores. “Também conseguimos demonstrar que o segundo escriba mostra mais variação em sua escrita do que o primeiro, embora sua escrita seja muito semelhante”, conta Schomaker.
Com a descoberta, os pesquisadores pretendem estudar outros pergaminhos. "Este é apenas o primeiro passo", disse Mladen Popović, líder do estudo, ao site Live Science. "(...) Isso abrirá novas possibilidades para estudar todos os escribas por trás dos Manuscritos do Mar Morto e nos colocará em uma posição nova e potencialmente melhor".
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