‘Anel do poder’ é descoberto em tumba de guerreiro na Grécia


Artefato aponta conexão entre as elites minoicas e micênicas na antiguidade

Anel de ouro mostra guerreiro saltando sobre touro, motivo comum na cultura minoana - University of Cincinnati

 Na tumba de um antigo guerreiro grego, enterrado há cerca de 3.500 anos nas cercanias da cidade de Pilos, arqueólogos encontraram um verdadeiro tesouro. São mais de 2 mil objetos, entre armamentos, joias e outras peças, que foram cuidadosamente selecionados para representar a influência do morto numa das mais importantes cidades da civilização micênica. Entre pedras preciosas e armas finamente construídas, estão quatro anéis de ouro que, segundo os pesquisadores, simbolizam o poder.

Detalhes sobre a descoberta serão revelados nesta quinta-feira, em palestra na Escola Americana de Estudos Clássicos em Atenas, na Grécia. Os trabalhos foram liderados pelo casal de arqueólogos Jack Davis e Sharon Stocker, da Universidade de Cincinnati, nos EUA. A tumba, descoberta no ano passado, é considerada pelo Ministério da Cultura grego como o “mais importante achado arqueológico dos últimos 65 anos”, por jogar luz sobre a extensão da cultura minoica, oriunda da ilha de Creta, no coração político da civilização micênica.

O morto foi batizado como “guerreiro glifo”, por estar coberto por uma placa de marfim adornada com uma imagem da besta mítica com corpo de leão e asas de águia. Ele foi enterrado em 1.450 a.C. — data estimada pelas peças de cerâmica encontradas na tumba — perto do Palácio de Nestor, imortalizado na “Odisseia” de Homero.
Sharon Stocker e Jack Davis durante as escavações - University of Cincinnati

Segundo os pesquisadores, a importância da tumba não está apenas na riqueza dos objetos encontrados, mas no que ela revela sobre o declínio da civilização micênica. Uma parte significativa dos artefatos era de origem minoica, povo que se desenvolveu na ilha de Creta e foi conquistado pelos micênicos.

— A tumba é do período em que os micênicos estavam conquistando os minoicos — disse Sharon. — Nós sabemos que houveram muitos ataques e, logo após a data da nossa sepultura, os minoicos caíram para os micênicos.

Porém, os cientistas afirmam que os artefatos encontrados na tumba do guerreiro sugerem que eles não foram pilhados durante a conquista, mas que houve uma intensa troca cultural entre as duas civilizações. Os itens, dizem os pesquisadores, não foram enterrados ao acaso, mas selecionados e cuidadosamente colocados sobre e ao redor do corpo, o que traz revelações sobre a relação da cultura da Grécia continental que se expandia para a ilha de Creta, conhecida por uma cultura mais refinada.

A descoberta de quatro anéis de ouro com uma bem detalhada iconografia minoica oferece um exemplo dessa transferência cultural entre os dois povos. Um dos anéis mostra a cena de um salto sobre um touro, referência a antigos torneios em que os toureiros literalmente saltavam sobre os touros para mostrar destreza atlética, motivo comum em imagens minoicas.
Anel mostra cinco mulheres ao redor de templo - University of Cincinnati

Um outro anel, o segundo maior já encontrado no mundo Egeu, mostra cinco figuras de mulheres com vestimentas bem elaboradas reunidas em torno de um templo à beira do mar. O terceiro mostra uma figura feminina, provavelmente uma deusa, segurando um bastão e com dois pássaros no topo de uma montanha. O último mostra uma mulher ofertando um chifre de touro para uma deusa sentada em um trono, com um espelho na mão.

— As pessoas sugerem que as descobertas no túmulo são um tesouro, como o de um pirata, que foi enterrado junto ao morto para impressionar pelo contrabando. Nós acreditamos que já neste período as pessoas no continente compreendiam muito da iconografia religiosa destes anéis, e elas já estavam assimilando conceitos religiosos da ilha de Creta — disse Davis. — Não é apenas pilhagem. Pode até ser, mas eles selecionaram objetos específicos que eram compreensíveis para eles.

Os arqueólogos ainda não sabem se o guerreiro, ou que o enterrou, tinha origem minoica ou contato com ela. E certamente ocupavam uma posição de poder.
Pedra preciosa tem imagem de touros, símbolo da cultura minoica - University of Cincinnati

— Quem quer que tenham sido, eles eram pessoas introduzindo a cultura minoica no continente e forjando a cultura micênica — disse Davis, ressaltando que a tumba está “nos dizendo que desde o início existiam pessoas no continente que conheciam o significado da cultura minoica e a estavam trazendo para o continente por uma razão específica, inclusive se estabelecendo em posições de poder.

Cynthia W. Shelmerdine, pesquisadora da Universidade do Texas, concorda que os anéis encontrados da tumba do guerreiro representavam poder político e administrativo.

— Essas coisas realmente tem conexão com o poder — disse Cynthia, ao “New York Times”, destacando que a tumba “se encaixa com outras evidências que apontam que as elites no continente estavam se aproximando com as elites em Creta”.

Aspectos culturais da cultura minoica, com temas como o de ginastas pulando sobre touros, continuaram a serem usados pela civilização micênica até o fim do período palaciano, mas começou a desaparecer no período clássico.


Nenhum comentário:

Postar um comentário