A biblioteca de Alexandria, os 72 anciãos e a Septuaginta


Confira a incrível história da primeira tradução da Bíblia, uma versão grega conhecida como Septuaginta, para a biblioteca de Alexandria

A primeira tradução da Bíblia da história, produzida por ordem de um governante grego para agradar aos judeus da diáspora e compor sua prodigiosa biblioteca de Alexandria, entrou para a história com o nome de Septuaginta.

Venha com a gente e confira a história da tradução da Bíblia usada pelos autores do Novo Testamento!
Alexandria e sua extraordinária biblioteca
Ruínas da biblioteca de Alexandria

A história da versão grega do Antigo Testamento começa com a história de uma cidade e de uma biblioteca.

A cidade de Alexandria foi edificada um ano após a vitória de Alexandre, o Grande, sobre o imperador persa Dario III. Nessa vitória, Alexandre libertou o Egito do domínio persa e, assim, foi recebido como um herói libertador.

A cidade foi edificada no delta do Nilo e, no século terceiro antes de Cristo, ela já era uma das grandes capitais intelectuais do Mediterrâneo.

Parte dessa fama de erudição da cidade se devia ao seu rei, Ptolomeu II Filadelfo, já que ele mesmo era um homem muito culto e patrocinador da cultura. Entre seus maiores feitos como regente, autorizou a edificação de uma das maiores e mais importantes bibliotecas do mundo, a biblioteca de Alexandria. Sugere-se que essa enorme biblioteca chegou a ter em seu acervo perto de um milhão de rolos de papiro.
Busto de granito de Ptolomeu II

Por tudo isso, Alexandria era uma grande capital de erudição no século terceiro antes de Cristo.

Nesse mesmo período, Alexandria era também uma cidade pátria para um número considerável de judeus dispersos de sua terra, os judeus da diáspora.

Esses judeus alexandrinos eram homens e mulheres de duas culturas. Viviam sua vida religiosa como hebreus, e se alimentavam da cultura grega, por outro lado. A cultura grega, o helenismo, penetrou tão profundamente entre os judeus da dispersão que o hebraico quase não era mais falado ou lido nas sinagogas egípcias, naquela época.

Foi nesse contexto, numa cidade egípcia, vibrante de cultura grega, com uma grande quantidade de judeus da dispersão sendo fortemente influenciados pelo helenismo, foi nesse contexto que surgia a versão dos 70, a Septuaginta.
A prodigiosa história da tradução da Septuaginta
Manuscrito da carta de aristeia

A história de como a Septuaginta foi traduzida chegou até nós através de documentos escritos muito tempo depois da tradução. Por isso, a história é cercada de fatos extraordinários, que podem não ser verdadeiros
.
Estátua de Demétrio, bibliotecário de Alexandria

São três as fontes principais que nos legaram a história dessa tradução: “A carta de Aristeias”, escrita no século II d.C; trechos da obra de Flávio Josefo, um historiador judeu do primeiro século; e escritos dos filósofo judeu Filo de Alexandria, também do primeiro século.

A história da tradução é mais ou menos assim: Ptolomeu II teria pedidou ao bibliotecário de Alexandria, Demétrio, que conseguisse para a sua biblioteca uma cópia de todos os livros do mundo.

Após um árduo trabalho, Demétrio chegou a levantar vinte mil exemplares para a biblioteca, mas relatou obras importantes que ainda faltavam. Entre essas obras, estaria o livro das “leis judaicas”, o livro sagrado dos judeus. O bibliotecário ressaltou ainda a importância de se fazer uma tradução para o grego de uma obra tão importante, especialmente pela presença abundante de judeus em Alexandria.

Diante disso, Ptolomeu II enviou Demétrio ao Sumo sacerdote de Israel, Eleazar, com um pedido. O rei solicitou ao sumo sacerdote o envio para Alexandria de seis anciãos de cada tribo de Israel, totalizando 72 anciãos, a fim de levarem a cabo o trabalho da tradução das Escrituras Sagradas dos judeus, do hebraico para o grego.
Os 72 anciões nos banquetes de Alexandria

Atendendo ao pedido, Eleazar enviou de volta com Demétrio 72 anciãos portando uma cópia do Antigo Testamento escrita em ouro, em rolo de pele.

Quando chegaram em Alexandria, os 72 anciãos foram tratados como reis, e participaram de grandes banquetes juntos de Ptolomeu II, que se agradou com a sabedoria anciãos.

Após essas festividades, o bibliotecário Demétrio e os 72 anciões foram enviados à Ilha de Faros, onde futuramente seria construído o Farol de Alexandria, uma das setes maravilhas dos mundo.

Ali, isolados na Ilha, os 72 teriam a paz e tudo o que precisariam para a tradução.

Diz uma das tradições que cada um dos anciãos se isolou para que, cada um fizesse a sua própria tradução, e somente depois se comparassem as traduções.

Passados exatamente 72 dias, os 72 anciãos concluíram suas traduções individuais. Qual não foi a surpresa, quando as traduções foram comparadas, elas estavam exatamente iguais, palavra por palavra!!! Isso confirmaria a orientação divina na tradução!

Quando a tradução foi levada e lida para a comunidade judaica alexandrina, todos ficaram muito satisfeitos ao ponto de lançarem uma maldição sobre qualquer pessoa que alterasse qualquer palavra da tradução.

Além do mais, a partir daquele dia até o primeiro século, os judeus alexandrinos realizariam uma festa anual na Ilha de Faros, para comemorar a tradução.
Ilustração dos 72 anciãos diante de Ptolomeu II, em uma cópia antiga da Septuaginta
Como ficou a tradução

Essa é a história tradicional da tradução da Septuaginta, que ganhou esse nome devido ao número de seus tradutores (Septuaginta significa “setenta” em latim, também conhecida por “LXX”, ou “Versão dos 70”). Ela é a mais antiga tradução da Bíblia Hebraica, e é mesmo mais antiga que o próprio fechamento do cânon hebraico.

Ela é uma tradução de todos os livros do Antigo Testamento que conhecemos, mais alguns livros, para o grego.

Além dos livros do nosso Antigo Testamento, a versão traz também os seguintes livros, alguns deles considerados deuterocanônicos:
“Daniel mata o dragão sagrado” afresco de 1580

1Esdras
Judite
Tobias
1-4 Macabeus
Odes
Oração de Manassés
Sabedoria de Salomão
Eclesiástico
Salmos de Salomão
Baruque e carta de Jeremias

Além de algumas inserções em Daniel, tais como:
A oração de Azarias;
A canção dos três moços;
A história de Suzana e
A história de Bel e o Dragão.

Esses livros foram incluídos pois nem mesmo o cânon da Bíblia Hebraica estava fechada ainda, nesse período.
Pedaço de um manuscrito da Septuaginta

A tradução, por si, não era assim tão fiel, nem tão primorosa. Muitas partes da Septuaginta estão mais próximas da paráfrase do que da tradução propriamente dita. Por exemplo, o livro de Jó é bem mais curto, e o de Ester e de Daniel, bem mais longos. Jeremias, também, veio com uma organização diferente do que aquela que seria fechada na Bíblia Hebraica, mais para frente.

Apesar disso, a tradução foi muito bem aceita entre os judeus da diáspora e foi muito importante para dar unidade ao judaísmo fora de Israel.
A Septuaginta e o Novo Testamento
Paulo escrevendo suas cartas

A Septuaginta foi um dos principais livros textos para os autores do Novo Testamento. A grande maioria das citações do Antigo Testamento, por esses autores, aludem aos textos da Septuaginta.

Sabe-se, por exemplo, que os evangelistas usaram uma revisão feita da Septuaginta, e que os discursos de Paulo, em Atos, citam muitos trechos dela.

Não se pode ter certeza se Jesus lia a Septuaginta, mas certamente teve acesso a elas, haja visto que a versão era muito popular naquele tempo.

Mas, para além de citações diretas, o grego profundamente influenciado pelo hebraísmo da versão dos 70 marcou profundamente o grego usado para escrever o Novo Testamento. Pode-se mesmo dizer que o grego koinê usado pelos autores bíblicos era um grego muito específico, muito influenciado pelas palavras, formas verbais e estilo do grego da Septuaginta.
A importância da Septuaginta para hoje

A Septuaginta com certeza foi muito importante para preservar a adoração nas sinagogas fora de Israel, e pode muito bem ser chamada de a Bíblia da Diáspora. Mas ela também foi muito usada nos primeiros séculos da igreja.

Será a tradução da Vulgata Latina, séculos depois, que vai eclipsar a versão grega da Bíblia para uso na igreja, que só retornará à sua importância na Renascença.

Atualmente, há mais de 300 diferentes versões da Septuaginta. Apesar disso, todas as edições impressas da Septuaginta são derivadas de, praticamente, duas versões:
A Editio princeps, distribuída por volta de 1522, é considerada muito próxima dos manuscritos mais antigos;
A edição aldina, publicada em 1528;
E a edição sistina, ou romana, que reproduz o codex vaticanus e é considerada a edição mais importante
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Essas edições são fundamentais para a reconstrução do texto do Antigo Testamento, para torná-lo ainda mais fiel aos originais perdidos. E o estudo dessas edições auxiliam nas traduções que lemos em nossas igrejas hoje. Não é interessante que Deus tenha usado um projeto de um rei pagão da antiguidade para servir a sua igreja, milênios depois?

E assim concluímos nossa apresentação da Septuaginta, a primeira tradução da Bíblia.

Diante de tantas evidências, é possível confiar na Bíblia, pois Deus usou até mesmo um rei pagão para promover o seu livro!
Consulta


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Infocard

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