“E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era. Aquele, porém, que atenta bem para a Lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito”. (Tiago 1:22-25)
Como diferenciar a fé verdadeira de uma fé falsa e morta? A objetivo da epístola de Tiago é responder essa pergunta. Ele começa a responder já no primeiro capítulo da carta. A fé verdadeira é a do homem que “atenta bem para a Lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra”. A fé falsa é o contrário, é “sem obras” e, portanto, “é morta” (Tg 2:26). Para deixar claro o que isso significa, Tiago passa o resto da epístola comentando os mandamentos da Lei contidos em Levítico 19.
A LEI PERFEITA DA LIBERDADE
“Abre tu os meus olhos, para que veja as maravilhas da tua Lei… Assim observarei de continuo a tua Lei para sempre e eternamente. E andarei em liberdade; pois busco os teus preceitos”. (Salmos 119:18,44-45)
Para andar em liberdade é preciso buscar os preceitos da Lei de Deus. O homem livre é aquele que teve seus olhos abertos para contemplar as maravilhas da Lei e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, como diz Tiago. Isso já era algo muito claro desde que Moisés revelou a Lei:
“Então falou Deus todas estas palavras, dizendo: Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim”. (Êxodo 20:1-3)
Deus deu a Lei ao Seu povo imediatamente depois de libertá-los da escravidão do Egito porque Ele queria que Seu povo fosse livre e a Lei de Deus é a Lei perfeita da liberdade.
ACEPÇÃO DE PESSOAS
“Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. Porque, se entrar na vossa reunião algum homem com anel de ouro no dedo e com traje esplêndido, e entrar também algum pobre com traje sórdido e atentardes para o que vem com traje esplêndido e lhe disserdes: Senta-te aqui num lugar de honra; e disserdes ao pobre: Fica em pé, ou senta-te abaixo do escabelo dos meus pés, não fazeis, porventura, distinção entre vós mesmos e não vos tornais juízes movidos de maus pensamentos?” (Tiago 2:1-4)
Aqui Tiago falou contra o pecado da acepção de pessoas. Fazer acepção de pessoas significa menosprezar as pessoas com base na etnia, na situação econômica ou no status social. Tiago reclamou especificamente daqueles que menosprezam os pobres na igreja. Sua crítica se baseia em Levítico 19:
“Não farás injustiça no juízo; não farás acepção da pessoa do pobre, nem honrarás o poderoso; mas com justiça julgarás o teu próximo”. (Levítico 19:15)
Em seguida, Tiago mostra que o mandamento de não fazer acepção de pessoas é uma extensão do mandamento de amar o próximo:
“Todavia, se estais cumprindo a lei real segundo a escritura: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem. Mas se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo por isso condenados pela Lei como transgressores“. (Tiago 2:8-9)
De que “escritura” Tiago está falando? Isso é uma citação direta de Levítico 19, que logo depois de proibir a acepção de pessoas, manda amar o próximo:
“Não odiarás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo, e não levarás sobre ti pecado por causa dele. Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”. (Levítico 19:17-18)
OS MEXERIQUEIROS
“Todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, esse é homem perfeito, e capaz de refrear também todo o corpo. Ora, se pomos freios na boca dos cavalos, para que nos obedeçam, então conseguimos dirigir todo o seu corpo. Vede também os navios que, embora tão grandes e levados por impetuosos ventos, com um pequenino leme se voltam para onde quer o impulso do timoneiro. Assim também a língua é um pequeno membro, e se gaba de grandes coisas. Vede quão grande bosque um tão pequeno fogo incendeia. A língua também é um fogo; sim, a língua, qual mundo de iniquidade, colocada entre os nossos membros, contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, sendo por sua vez inflamada pelo inferno. Pois toda espécie tanto de feras, como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se doma, e tem sido domada pelo gênero humano, mas a língua, nenhum homem a pode domar. É um mal irrefreável; está cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. Da mesma boca procede bênção e maldição. Não convém, meus irmãos, que se faça assim”. (Tiago 3:2-10)
Aqui Tiago falou do problema da língua. Isso também tem é um problema do qual Levítico 19 trata:
“Não amaldiçoarás ao surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR”. (Levítico 19:14)
“Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo”. (Levítico 19:16)
Assim como Tiago, Provérbios também associa o mexeriqueiro com o fogo:
“Como o carvão para as brasas, e a lenha para o fogo, assim é o mexeriqueiro para acender rixas”. (Provérbios 26:21)
No capítulo 4, Tiago repete o mesmo:
“Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da Lei, e julga a Lei; e, se tu julgas a Lei, já não és observador da Lei, mas juiz“. (Tiago 4:11)
A PAGA DO JORNALEIRO
“Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre vós hão de vir. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas de traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para os últimos dias. Eis que o jornal dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras, e que por vós foi diminuído, clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos“. (Tiago 5:1-4)
Aqui Tiago falou dos ricos que exploravam os empregados, não lhes pagando o devido salário. Levítico diz:
“Não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás; a paga do jornaleiro não ficará contigo até pela manhã”. (Levítico 19:13)
Tiago se refere aos clamores dos que ceifaram entrando nos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Isso tem origem em uma passagem de Êxodo que, como Levítico 19:13, também fala contra a exploração:
“Ao estrangeiro não maltratarás, nem o oprimirás; pois vós fostes estrangeiros na terra do Egito. A nenhuma viúva nem órfão afligireis. Se de algum modo os afligirdes, e eles clamarem a mim, eu certamente ouvirei o seu clamor; e a minha ira se acenderá, e vos matarei à espada; vossas mulheres ficarão viúvas, e vossos filhos órfãos”. (Êxodo 22:21-24)
É exatamente isso que havia acontecido na libertação do povo de Israel da exploração do Egito:
“Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus. Então disse o Senhor: Com efeito tenho visto a aflição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheço os seus sofrimentos; e desci para o livrar da mão dos egípcios, e para o fazer subir daquela terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel; para o lugar do cananeu, do heteu, do amorreu, do perizeu, do heveu e do jebuseu”.(Êxodo 3:6-8)
NÃO DEIXARÁS DE REPREENDER O TEU PRÓXIMO
“Irmãos, se algum dentre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados”. (Tiago 5:19-20)
Aqui Tiago fala sobre a necessidade de repreender nosso próximo quando ele tiver “desviado da verdade”. Isso também tem origem em Levítico 19:
“Não odiarás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo, e não levarás sobre ti pecado por causa dele”. (Levítico 19:17)
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