Reflexão do Dia - Evangelho Segundo João 10:1-10


Paz, graça e bem,
No evangelho de hoje faremos uma reflexão sobre o relato de João 10:1-1. A imagem de Jesus como "o bom pastor" caiu na graça do cristianismo desde os seus primórdios. Tornou-se clássico representá-lo como um pastor carregando uma ovelha nos ombros, imagem bonita, mas que não corresponde exatamente ao texto proposto, pois aquela imagem do pastor com a ovelha nos ombros corresponde ao personagem de Lucas na "parábola da ovelha perdida” (Lucas 15). A imagem de pastor apresentada pelo evangelista João é bem diferente : o pastor é aquele que aponta caminhos, Ele é seguido porque conhece suas ovelhas e se deixa conhecer por elas.

É bom recordar que esse relato é precedido pelo polêmico episódio da cura do cego de nascença, do qual surgiu um caloroso conflito com os fariseus e, é clara a relação entre os dois textos: Jesus abre os olhos para que as pessoas não se deixem enganar pelos falsos pastores, e para que adquiram lucidez e conhecimento para seguirem ao único e verdadeiro pastor.

Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. João 10:1 ⇒⇒ Logo no primeiro versículo Jesus denuncia as arbitrariedades do poder religioso de seu tempo, os ladrões e bandidos são os mesmos que tinham ajudado a transformar “a casa do Pai em uma casa de negócio”. São ladrões e assaltantes porque assumiram uma função sem a designação do Pai, ou seja, estão ali, mas não entraram pela porta.

Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora.
João 10:2-3
⇒⇒ Ao contrário desses dirigentes e dos fariseus, “quem entra pela porta, é o pastor das ovelhas” ⇒ o próprio Jesus. De fato, somente Ele recebeu permissão do Pai para comunicar-se diretamente com as ovelhas, o povo. A Jesus, o único pastor autêntico, “o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora”, é o Pai quem envia e autoriza Jesus a entrar no recinto da falida instituição religiosa para libertar o povo oprimido pelo poder religioso. O primeiro passo nesse processo de libertação é a escuta da voz de Jesus, contida somente no Evangelho. Quem realmente escuta o Evangelho, não se permite ser aprisionado nem controlado por nenhum sistema religioso e nenhum sistema político, mesmo que esse se autodenomine "cristão". Assim como a comunidade de João, também nós hoje devemos estar atentos ao que nos é ensinado: quando não for a voz de Jesus, ou seja, o Evangelho, devemos repulsar e rejeitar sem medo. O pastor autêntico “chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora”, ou seja, não trata o povo como massa, mas o tira do anonimato, valorizando a cada um em sua individualidade e liberdade, por isso, chama pelo nome, criando um laço de intimidade. A relação já não é mais entre dominador e dominado, mas entre pessoas que se conhecem e se amam reciprocamente. “Conduzir para fora” é libertar, tirar da opressão, livrar o povo de um poder arbitrário que usa o nome de Deus em vão para explorar e até matar; é dessa situação que Jesus quer tirar todos os que escutam a sua voz.

E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. João 10:4 ⇒⇒ o objetivo da libertação proposta por Jesus é a vivência plena da liberdade. Por isso, “ao fazer sair todas, caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz”, ou seja, Jesus não quer tirar o povo de um sistema dominante opressor para começar a dominar também. Ele liberta e, após a libertação, apenas aponta caminhos, ou seja, Ele “caminha à frente” e, obviamente, quem escutar verdadeiramente a sua voz, ou seja, quem aceitar o Evangelho como proposta de libertação, é para a liberdade que ele aponta e conduz.

Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que lhes dizia. João 10:6 ⇒⇒ o sistema farisaico e opressor baseado na lei é cego e leva os que estão sob seu domínio também à cegueira, por isso, “não entenderam o que Jesus queria dizer”.
Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas.João 10:7 ⇒⇒ Jesus passa a falar de modo mais claro e objetivo, apresentando-se como a própria porta, o único mediador entre a humanidade e o Pai, seus ensinamentos são  o critério único de ir ao Pai.

Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. João 10:8 ⇒⇒ A denúncia aos que se auto intitulavam representantes de Deus na terra continua, ao chamá-los de ladrões e bandidos e anunciar o fim do antigo sistema baseado na lei.

Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. João 10:9,10 ⇒⇒ à medida em que repete que é o único caminho ao Pai, Jesus ressalta também a falência da instituição religiosa. Como o Evangelho e a lei são inconciliáveis, pois a vida em abundância é, na verdade, a vida livre, digna e plena de amor, para a qual o Evangelho direciona e da qual a lei privava o ser humano.

Podemos dizer que em todas as comunidades de todas as épocas e lugares a voz do Pastor é ouvida quando a verdade e o amor superam qualquer código de normas e doutrinas pré-concebidas mesmo que em nome de Deus. Não há segregação, discriminação , exclusão. Não há autoritarismo.
O Evangelho pregado por Jesus dispensa todo código ou sistema doutrinal e moral, mesmo que elaborado em seu nome.

Paz, graça e bem,
Renato Barbosa

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