Durante os dois mil anos do cristianismo, o livro de
Apocalipse foi interpretado de formas diferentes. O resultado das diversas
interpretações pode ser visto nas quatro correntes principais adotadas hoje
pelos grandes estudiosos:
1) preterista
2) historicista
3) futurista
4)
idealista
Estes métodos de interpretação são o resultado, principalmente, de
duas linhas hermenêuticas apocalípticas que perduram pelos séculos, olhando
para o livro de Apocalipse de formas bastante distintas:
1) A interpretação teológico-espiritual
com ênfase na moralidade e espiritualidade. Para esta linha hermenêutica os
elementos históricos são secundários, tendo em vista a dificuldade encontrada
para discernir entre o simbólico e o literal. Ainda que não tenha sido criada
por Santo Agostinho, é associada a ele por ter sido um dos hábeis expositores
da mesma.
2) A segunda linha hermenêutica lê os elementos apocalípticos como
eventos literais que fazem parte da história humana. A interpretação
teológico-histórica-profética que surge e ressurge em períodos de tribulação e
descrédito da igreja, procura associar os textos com os fatos históricos,
apontando para a vitória que Cristo trará para a igreja, a fim de trazer
conforto e esperança para os cristãos de cada geração. Contudo, em dias
recentes, surgiu uma terceira abordagem influenciada pelo racionalismo
iluminista: a interpretação crítica. Essa linha de interpretação é caráter
nocivo para igreja, pois seu pressuposto mais básico é a incredulidade. Seus
adeptos esquartejaram o livro de apocalipse, reduzindo-o a uma colcha de
retalhos mal costurada. Sem qualquer propósito de descobrir, por meio da
análise literária a qual se propunham, o sentido do texto, os estudiosos
duvidam da originalidade do livro.
As quatro principais correntes de interpretação de
Apocalipse são:
1) Preterista
A data da escrita do livro é fundamental para a abordagem
preterista. Conforme esta linha de interpretação, Apocalipse foi escrito
durante o governo de Nero, discordando de Ireneu que afirmou que João escreveu
no período do imperador Domiciano (década de 90 d.C.). Conforme os preteristas,
Apocalipse foi escrito por volta do ano de 65 d.C. e retrata os problemas
presentes naqueles dias, se referindo simbolicamente aos eventos históricos que
estavam acontecendo e os que aconteceriam até o fim do primeiro século. O
livro, portanto, é direcionado quase que exclusivamente para a igreja
contemporânea ao apóstolo João e tem seu cumprimento já realizado. Alguns,
contudo, consideram que os eventos já realizados para os quais o livro apontam
são também símbolo dos anos que se seguiriam.
2) Historicista
A visão histórica de Apocalipse procura identificar os
elementos presentes no livro com os fatos históricos passados e presentes de
cada geração. Esta linha de interpretação de Apocalipse mudou bastante no
decurso da história da igreja e diversos personagens históricos foram
associados aos personagens do livro (Nero, imperadores Romanos, papas, reis,
Hitler etc). Uma vez que os fatos históricos se assemelhavam aos elementos
simbólicos do livro, diversos estudiosos durante a história da igreja se
sentiram impulsionados a associá-los com os registros de Apocalipse, trazendo
conforto e esperança para a igreja de sua geração.
3) Futurista
Enquanto a corrente histórica procura associar os eventos
históricos aos elementos simbólicos presentes no livro de Apocalipse, a
corrente futurista considera que todos (ou quase todos) os eventos começarão a
acontecer um pouco antes da vida de Jesus, tendo sequencia durante sua presença
na terra, e se encerrarão após a volta de Jesus. Desta forma, Apocalipse não
faz menção de nada (ou quase nada) acerca dos dois mil anos de história da era
cristã vividos até agora. Para aqueles que leem o livro numa perspectiva
futurista, os eventos sempre são futuros e a igreja é incentivada a perseverar
olhando sempre para o futuro, a segunda vinda de Cristo. O consolo da igreja
está na vitória final de Cristo que trará novo céu e nova terra.
4) Idealista
A corrente idealista vê no livro de Apocalipse o propósito
de confortar os cristãos de todas as gerações, mostrando a vitória de Cristo e
seu povo sobre Satanás e seus seguidores. Apocalipse não é visto como um livro
profético que aponta para eventos futuros nem um livro de história que aponta
para os fatos do passado, mas um livro que conforta o cristão motivando-o a
perseverar, trazendo-lhe esperança em Cristo, seja qual for a sua geração. Os
elementos presente no livro são lidos numa perspectiva simbólica de forma bastante
generalizada.
Além das correntes de interpretação do livro de Apocalipse,
ainda há três linhas de interpretação do milênio de Apocalipse, presente no
capítulo 20: 1) premilenismo; 2) amilenismo; 3) posmilenismo.
Essas três linhas
seguem os princípios estabelecidos durante a história da interpretação do
Apocalipse: a hermenêutica espiritual e a hermenêutica literal, ambas
mencionadas acima.
1) Pré-milenismo
O milênio é visto como um período literal quando os cristãos
reinarão com Cristo por ocasião de sua vinda. Ao final do período ocorrerá
rebelião, Satanás será solto e a vitória final de Cristo ocorrerá. O termo
indica a vinda de Cristo como anterior ao milênio, quando haverá a ressurreição
dos homens para que Cristo reine sobre todos.
2) Amilenismo
Conforme o Amilenismo, o milênio de Apocalipse capítulo 20
não é literal, mas simbólico e se refere ao período em que os cristãos estão
vivendo o Reino de Deus, desde sua implantação por Jesus até sua segunda vinda.
O Reino, portanto, é espiritual, conforme é abordado nos livros do Novo
Testamento. Jesus subiu aos céus como Rei deste Reino e sobre ele está reinando
até que o entregue ao Pai. Isso ocorrerá por ocasião da segunda vinda de Jesus
quando também os mortos ressuscitarão e os cristãos irão para o novo céu e nova
terra onde Cristo reinará para sempre com seu povo.
3) Pós-milenismo
O Pós-milenismo também interpreta a milênio como literal,
ainda que alguns entendam que representa um longo tempo. Contudo, o período
ocorrerá com a crescente evangelização e a conversão das nações. Então, haverá
um período de glória e paz na terra por mil anos (ou por um longo período) e
que, ao final deste período, Jesus virá para estabelecer seu reinado eterno num
novo céu e nova terra sobre todos os que creram. Diferente do premilenismo,
Cristo não virá antes do início do milênio, mas ao término dele. Alguns ainda
interpretam que após o milênio haverá um período de breve apostasia antes que
Jesus triunfe sobre Satanás, e traga o novo céu e a nova terra.
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