O Tesouro do Reino | Reflexão sobre Mateus 17:22-27

A perícope do Evangelho de hoje é Mt 17:22-27. Este texto traz, em um primeiro momento, Jesus anunciando sua morte e ressurreição. Trata-se do segundo anúncio da Paixão no Evangelho de Mateus. O texto ressalta a tristeza dos discípulos. Neste segundo anúncio, Pedro não apresenta resistência, como acontecera no primeiro anúncio em Mt 16,21-23.

No versículo 23 o relato evangélico muda de cenário. Chegam a Cafarnaum. Ali, tem um confronto com os cobradores de impostos do Templo que querem saber se Ele, Jesus, paga impostos. Este imposto, cobrado localmente pelos dignitários da religião judaica, é mencionado no Antigo Testamento por Neemias (Ne 10,33), possivelmente com referência em Ex 30,11-16.

O que se segue nos próximos versículos, mescla uma questão de profunda delicadeza, isto é, a provocação dos cobradores de impostos – talvez para pô-lo à prova – e um acontecimento fantástico. Jesus instrui aos discípulos para que pagassem os impostos. Mesmo que motivado por se evitar celeumas. Este pedido se dá revestido com uma forma legendária de se contar uma história. Disse Jesus: “vai ao mar, lança o anzol, e abre a boca do primeiro peixe que pescares. Ali encontrarás uma moeda; pega então a moeda e vai entregá-la a eles, por mim e por ti” (Mt, 17,27).

O incidente, no qual se misturam fatos fantásticos, serve também de instrução aos discípulos, e provavelmente à comunidade judaico-cristã, enquanto diante das muitas realidades da vida e das propostas do Reino de Deus. Podemos perceber que o relato referente aos imposto se insere após o segundo anúncio da Paixão. Enquanto muitos esperavam um Messias triunfante, cheio de glória e poder, segundo as pedagogias dos dominadores; Jesus anuncia que a consequência de seu anúncio da Boa Nova será o escândalo da Cruz (cf. 1Cor 1,23). Escândalo para aqueles que esperavam um messias político, que viria derrubar com seu exército a ocupação romana. Aqui podemos entender, também, o que pode parecer fora de lugar no texto, ou seja, a problemática dos impostos e a pesca fantástica, onde de dentro do primeiro peixe pescado, se encontraria a moeda a ser destinada ao pagamento.

Os poderosos deste mundo sempre confrontarão o projeto do Reino de Deus. Assim como no livro de Jonas, quando o profeta passa três dias dentro do ventre do grande peixe (Jn 2,1), onde temos uma prefiguração da Paixão, morte e ressurreição de Jesus; no Evangelho de hoje, podemos perceber a dimensão libertadora que advirá do Messias dos Pobres. Jonas saiu do ventre do peixe e seguiu sua missão, salvando Nínive do triste destino eminente. O peixe no relato de hoje tinha dentro de si a moeda necessária para prestar a satisfação exigida pelos cobradores de impostos. O peixe, aqui, abriga o instrumento de confronto ao litígio dos cobradores de impostos. Pagando o imposto, Jesus frustra a conspiração contra ele e seus discípulos. Mesmo que só tardando sua Paixão que estava por vir. Em Jerusalém, Ele será condenado, torturado, morto e – no terceiro dia – ressuscitará. Nisto, habita a esperança em nós. Em Cristo, por sua Paixão, teremos nossa vida ressignificada. Reconstruída sob a perspectiva da realidade do Reino de Deus. Neste sentido, podemos concluir que o texto da Liturgia de hoje tem como tema central a restauração de nossas vidas pelo Mistério Pascal de Jesus.

Que possamos em nosso caminhar eclesial manter em nós uma espiritualidade Pascal. No seguimento de Jesus Cristo e em comunhão fraterna com toda a Igreja, devemos anunciar a Boa Nova do Evangelho com alegria, jeito humilde e paixão: acolhendo o Reino de Deus e contribuindo em sua construção já aqui na Terra, na esperança do Reino Definitivo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário