OS DIVERSOS HERODES DO NOVO TESTAMENTO



Apresentamos aqui a descrição dos Herodes dos tempos neotestamentários, com alguma abundância de pormenores: 

1. Herodes o Grande. Governante dos judeus de 40 a 4 A.C., nasceu em cerca de 73 A.C. Era idumeu ou edomita, isto é, descendente de Edom, um povo conquistado e levado ao judaísmo por João Hircano, em cerca de 130 A.C. Assim sendo, os Herodes, embora não fossem judeus de nascimento, supostamente eram judeus de religião. A religião era usada, portanto, como veículo para fomento do governo secular, isto é, atendendo aos interesses da família dos Herodes. Herodes o Grande foi nomeado procurador da Judeia em cerca de 47 A.C. A Galileia pouco mais tarde também ficou debaixo de seu controle. 

Após o assassínio de César. Herodes desfrutou das graças de Marco Antônio. O título de Herodes, “rei dos judeus”, foi-lhe dado por Antônio e Otávio. Opunha-se politicamente aos descendentes dos Macabeus, os quais, tendo por nome de família o apelativo Hasmon, eram chamados de Hasmoneanos. Estes controlavam Israel antes da dominação romana, e se ressentiam do governo de Herodes. 

Todavia, Herodes o Grande casou-se com uma mulher pertencente a essa família, Mariamne, neta do antigo sumo sacerdote Hircano II, embora essa medida não tivesse posto fim às suspeitas dos principais Hasmoneanos sobreviventes. Por isso mesmo, Herodes o Grande foi assassinado um por um, até que se livrou de todos eles, incluindo a própria Mariamne, e até mesmo os filhos que teve com ela. 

Esse foi apenas um dos muitíssimos assassínios cometidos por Herodes o Grande. Foi esse Herodes que perpetrou a matança dos inocentes, em Belém da Judéia (ver Mt 2), e antes de seu falecimento ordenou que seu próprio filho, Antípatre, fosse morto. Outrossim, providenciou para que, após a sua morte, todos os seus nobres fossem assassinados, para que não houvesse falta de lamentadores por ocasião de sua morte. 

Morreu de uma enfermidade fatal do estômago e dos intestinos. Por toda parte se tornou famoso por suas notáveis atividades como edificador. E essas atividades foram realizadas não só em seus próprios domínios, mas até mesmo em cidade estrangeiras (por exemplo, Atenas). Em seus próprios territórios ele reedificou Samaria (dando-lhe o nome de Sebaste, em honra ao imperador). Reparou a torre de Estrato, na costa do mar Mediterrâneo, fez ali um porto artificial e o chamou de Cesaréia. 



Mas a sua obra de arquitetura mais famosa foi a ereção de um magnificente templo em Jerusalém, construído para ultrapassar o de Salomão, tendo conseguido o seu intento, pelo menos em parte. Esse templo substituiu o templo erigido após o cativeiro, embora os judeus considerassem ambos como um só.alguns escritores antigos dizem que isso foi feito com o fito de pacificar os judeus, devido as suas traições e matanças, que envolveram muitos líderes, incluindo sacerdotes. Entretanto, os judeus jamais puderam-lhe perdoar o desaparecimento da família dos Hasmoneanos.



2. Arquelau, chamado de Herodes o etnarca, em suas moedas. Herodes o grande doou o seu reino a três de seus filhos: A Judéia e a Samaria ficaram com Arquelau (Mt 2.22), a Galiléia e Peréia ficaram com Antipas, e os territórios do nordeste couberam a Filipe (ver Lc 3.1). O imperador Augusto ratificou essas doações. Arquelau era o filho mais velho de Herodes, por sua esposa samaritana, Maltace. 

Herodes o Grande teve o seu programa de edificações continuado por Arquelau, e este parecia resolvido a exceder em crueldade e impiedade ao seu pai. O seu governo tornou-se, finalmente, intolerável, e uma delegação enviada da Judéia e da Samaria conseguiu a remoção de Arquelau. Nesta altura da história, a Judéia tornou-se uma província romana, passando a ser governada por procuradores nomeados pelo imperador.


3. Herodes, o Tetrarca. (ver Lc 3.19 e 9.7). Também era chamado Antipas. Era filho mais novo de Herodes e Maltace. Os distritos da Galiléia e da Peréia eram os seus territórios. É lembrado nos evangelhos por haver preso, encarregado e executado a João Batista bem como por causa de seu breve encontro com Jesus, quando do julgamento deste (Lc 23.7). Também se mostrou notável construtor. Edificou a cidade de Tibério. Divorciou-se da sua esposa (filha do rei dos nabateus, Aretas IV), a fim de casar-se com Herodias, esposa de seu irmão , Herodes Felipe, em vista do que João Batista lhe fez oposição. Essa ação foi, finalmente, a causa de sua queda, porquanto Aretas, usando tal coisa como justificativa (talvez válida, aos olhos dele), declarou guerra e derrotou definitivamente a Herodes, o Tetrarca. Esse Herodes terminou os seus dias no exílio.




4. Herodes Agripa, chamado de rei Herodes, em Atos 12.1. Era filho de Aristóbulo e neto de Herodes o Grande. Era sobrinho de Herodes o Tetrarca e irmão de Herodias. Após a execução de seus pais, em 7 A.C., foi levado a Roma e ali criado. Teve de abandonar Roma por causa de pesadas dívidas, e subsequentemente foi favorecido por Antipas. Por ter ofendido o imperador Tibério, foi encarcerado; mais tarde, porém, quando esse imperador morreu, foi posto novamente em liberdade. 




Mas tarde recebeu os territórios do nordeste da Palestina como seus domínios, e quando Antipas, seu tio, foi banido, também ficou com a Galiléia e a Peréia. O imperador Cláudio aumentou uma vez mais os seus territórios, anexando aos seus domínios a Judéia e a Samaria, de tal modo que Agripa finalmente dominou em um reino para todos os efeitos equivalente aos domínios de seu avô, Herodes o Grande. 

Agripa procurou obter o apoio dos judeus, e aparentemente grande foi a medida de sucesso alcançado. Assediou aos apóstolos, provavelmente por essa mesma razão (At 12.2 – e matou Tiago, irmão de João). Sua morte súbita e horrível é registrada por Lucas em Atos 12.23, sendo ali atribuída ao julgamento divino. 


No capítulo 12 do livro de Atos nos é dito que um certo Herodes – que é conhecido dos historiadores seculares como Herodes Agripa I – mandou matar o apóstolo Tiago, e quis fazer o mesmo com Pedro, mas um anjo apareceu e libertou Pedro da prisão. Então, próximo do fim do capítulo, Lucas nos dá este relato: 

“Herodes, tendo-o procurado e não o achando, submetendo as sentinelas a inquérito, ordenou que fossem justiçadas. E, descendo da Judéia para Cesaréia, Herodes passou ali algum tempo. Ora, havia séria divergência entre Herodes e os habitantes de Tiro e de Sidom; porém estes, de comum acordo, se apresentaram a ele e, depois de alcançar o favor de Blasto, camarista do rei, pediram reconciliação, porque a sua terra se abastecia do país do rei. Em dia designado, Herodes, vestido de trajo real, assentado no trono, dirigiu-lhes a palavra; e o povo clamava: É voz de um deus e não de homem! No mesmo instante, um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, expirou” (Atos 12:19-23).


Naturalmente, esta é o próprio tipo de história que os céticos dizem que prova que a Bíblia não é historicamente acurada. É muito forçada, eles dizem, para ser verdade.

Acontece, contudo, que a morte de Herodes Agripa é contada também pelo historiador judeu do primeiro século, Josefo. Sua narrativa diz:

“Então, quando Agripa tinha reinado durante três anos sobre toda a Judéia, ele veio à cidade de Cesaréia, que antes era chamada Torre de Strato, e ali ele apresentou espetáculos em honra a César, ao ser informado que ali havia um festival celebrado para se fazerem votos pela sua segurança. Em cujo festival uma grande multidão de pessoas principais se tinha reunido, as quais eram de dignidade através de sua província. 

No segundo dia dos quais espetáculos ele vestiu um traje feito totalmente de prata, e de uma contextura verdadeiramente maravilhosa, e veio para o teatro de manhã cedo; ao tempo em que a prata de seu traje sendo iluminada pelo fresco reflexo dos raios do sol sobre ela, brilhou de uma maneira surpreendente, e ficou tão resplendente que espalhou horror entre aqueles que olhavam firmemente para ele; e no momento seus bajuladores gritaram, um de um lugar, outro de outro lugar, (ainda que não para o bem dele) que ele era um deus; e acrescentavam: "Sê misericordioso conosco, pois ainda que até agora te tenhamos reverenciado somente como um homem, contudo doravante te teremos como superior à natureza mortal". 

Quanto a isto o rei não os repreendeu, nem rejeitou sua ímpia bajulação. Mas, estando ele presente, e depois olhou para cima, viu uma coruja pousada numa corda sobre sua cabeça, e imediatamente entendeu que este pássaro era o mensageiro de más notícias, como tinha sido antes mensageiro de boas notícias; e caiu na mais profunda tristeza. 

Uma dor severa também apareceu no seu abdome e começou de maneira muito violenta. Ele portanto olhou para seus amigos e disse: "Eu, a quem chamais deus, estou presentemente chamado a partir desta vida; enquanto a Providência assim reprova as palavras mentirosas que vós agora mesmo me disseram; e eu, que por vós fui chamado imortal, tenho que ser imediatamente afastado depressa para a morte..." Quando ele acabou de dizer isto, sua dor se tornou violenta. Desse modo, ele foi carregado para dentro do palácio; e o rumor espalhou-se por toda parte, que ele certamente morreria dentro de pouco tempo... E quando ele tinha se esgotado muito pela dor no seu abdomem durante cinco dias, ele partiu desta vida” (Antiguidades, XIX, 7.2).


Seu filho único, também chamado Agripa, passou a governar alguns dos territórios que haviam pertencido a seu pai. Suas duas filhas Berenice (At 25.13) e Drusila (At 24.24), foram outras pessoas sobreviventes de sua família.


5. Agripa, filho de Herodes Agripa (nº 4 acima). Era jovem demais para assumir a liderança, após o falecimento do seu pai. Mais tarde recebeu o título de rei da parte de Cláudio, e passou a governar o norte e o nordeste da Palestina. Mais tarde Nero aumentou os seus territórios. De 48 a 66 D.C., ele exerceu autoridade de nomear os sumos sacerdotes dos judeus. Procurou, com grande empenho, evitar o conflito entre os judeus e os romanos (66 D.C.), mas fracassou na tentativa. Permaneceu fiel a Roma. Nas páginas do N.T. ele é conhecido devido ao seu encontro com o apóstolo Paulo, segundo está registrado em Atos 25.13 – 26.32). 

No trecho de Atos 26.28, lemos: “por pouco me persuades a me fazer cristão”, embora alguns pensem que a verdadeira tradução seria algo como: “Com bem pouca persuasão pensas em fazer-me cristão?” (como a tradução ASV); ou então: “estás apressado a persuadir-me a fazer de mim cristão!” (como as traduções GD e WM), portanto Herodes, evidentemente, proferiu essas palavras em tom de muchocho, e não seriamente. Ele morreu sem filhos, em cerca de 100 D.C.

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