Paulo era um homem de muita educação. Ele foi treinado por um mestre judeu muito respeitado: Gamaliel (Atos 22.3; 5.34). Paulo conhecia não apenas a Escritura e a literatura judaica, mas também a literatura grega clássica. Enquanto discursava para um grupo de filósofos epicureus e estóicos em Atos 17.22 – 34, Paulo, no verso 28, cita a Cretica de Epimênides (“porque nele vivemos, e nos movemos e existimos”) e o Phaenomena de Arato (“porque somos sua geração”), usando estes dois poetas para estabelecer seu ponto. Em 1 Coríntios 15.33, Paulo cita a comédia de Menandro, Thais (“as más conversações corrompem os bons costumes”). Sem dúvidas, alguns críticos têm sugerido que o Apóstolo, quando falou a Tito acerca de sua missão na ilha de Creta, cometeu uma falácia lógica ao citar o poeta cretense Epimênides: “um deles, seu próprio profeta, disse: os cretenses, sempre mentirosos, bestas ruins, ventres preguiçosos. Este testemunho é verdadeiro”(Tito 1.12, 13a).
Dito como “homem estranho” pelo seu povo, Epimênides era um dos poucos da sua época e região que criam em apenas um Deus e, segundo conta Diógenes Laertius, quando houve a praga em Atenas muito se fizeram de holocaustos para “apaziguar a fúria dos deuses”, que passavam de 30.000, ou seja, tinham mais deuses em estátuas nas ruas do que pessoas vivendo em Atenas, onde foram até chamados sacerdotes egípcios e babilônicos para tentarem resolver aquela praga, mas sem sucesso algum. Quando então lembraram o Deus único de Epimênides, então o chamaram. Ele mostrou-os o erro de adorarem deuses que não poderiam os ajudar em nada, e mandou que colocassem ovelhas no alto do areópago que estas iriam lhes mostrar o local onde esse Deus queria ser adorado. Então, num ato “místico” as ovelhas desceram o areópago e andaram até um local onde não havia nenhum tipo de idolatria. E ali os artífices construíram um altar e como não sabiam o “nome” desse Deus, a mando de Epimênides talharam como “o Deus desconhecido” (assim como descrito em Atos 17:23), e assim conseguiram resolver o problema da praga.
Esta é uma forma de paradoxo lógico conhecido comumente com o “Paradoxo de Epimênides”: “Um cretense disse: ‘todos os cretenses são mentirosos’”. Se, como Paulo afirma, este enunciado é verdadeiro, então o enunciado é falso, já que um cretense mentiroso o fez. Estas afirmações – que o enunciado é verdadeiro e o enunciado é falso – se contradizem e violam a Lei da Não-Contradição, já que um enunciado não pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo. O apologista islâmico M.S.M Saifullah declarou, sobre Tito 1.12: “o escritor Paulo, pelo menos nesta ocasião, não teve a Orientação Divina, já que não percebeu a sutiliza”(Saifullah, 1999). Qual é a resposta cristã a este ataque contra a infalibilidade da Palavra inspirada?
O primeiro passo para entender esta suposta contradição é levar em consideração que Epimênides era um poeta. Os poetas, dramaturgos e outros escritores, algumas vezes usam uma técnica literária conhecida como hipérbole, que é uma exageração deliberada usada para argumentar. Dizer que os cretense são “sempre mentirosos, bestas ruins, glutões ociosos” é dizer que a sociedade cretense como um todo era imoral e decadente, não necessariamente que cada indivíduo na sociedade era um mentiroso, uma besta ruim e um preguiçoso. Não existe paradoxo quando se considera a hipérbole encontrada em Tito 1.12. Epimênides havia feito um enunciado exagerado acerca da conduta do povo de Creta, e Paulo estava citando-lhe para mostrar a Tito a dificuldade que enfrentavam os presbíteros cretenses. Paulo não estava afirmando uma contradição, mas estava seguindo um costume literário. Mais uma vez, a Bíblia resplandece como um livro inerrante que permitiu que os estilos de escritas dos autores permanecessem intactos, enquanto manteve a integridade da Palavra inspirada de Deus.
REFERÊNCIAS
Saifullah, M. S. M. (1999), “Epimenides’ Paradox
Nenhum comentário:
Postar um comentário